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Q3194271 Português
Texto para responder à questão.


Era uma vez, duas, três

Não se passa no vestibular chutando as questões. Tem que se puxar, fazer valer o investimento.


         Em 2016, recebi um e-mail de um homem que eu não conhecia. Ele morava no Rio, mas estava na Patagônia, fazendo uma viagem de carro. Durante seu longo retorno para casa, fez um pit-stop em Porto Alegre e me convidou para jantar, mas não aceitei, mesmo ele tendo se esforçado. No e-mail, fez uma síntese de quem era, o que fazia, o que pensava, quais seus projetos e a razão de me escrever, além de anexar fotos da viagem, do seu carro, do seu rosto e até mesmo da sua carteira de identidade, o que me fez rir, demonstrava humor na sua intenção de provar que não era um serial killer.

       Agradeci, dei uma trelinha para compensar o tempo que ele havia perdido escrevendo aquela mensagem que mais parecia um currículo, mas não me aventurei, jantei em casa.

       Lembrei desta história quando, semana passada, recebi um e-mail de outro desconhecido. Vou trocar seu nome, mas a mensagem era a seguinte: Meu nome é Giba, há muito tempo desejo te conhecer pessoalmente ou trocar algumas “palabras” no celular.

      Escreveu apenas isso – no cabeçalho, não no corpo do e-mail, que veio vazio. O retrato da penúria, a síntese desses tempos. Ele preferiu matar o assunto rapidinho. Se apresentar para quê? Revelou apenas o apelido e não se preocupou em explicar se o uso do estrangeirismo era erro de digitação ou resquício do idioma natal. Eu que lutasse.

     É comum as pessoas reclamarem que tudo dá errado para elas, culpando as conspirações cósmicas, que nunca alinham com seus planos. O Giba ficou sem uma resposta privada, mas inspirou essa crônica de utilidade pública: não se passa no vestibular chutando as questões, não se vai bem numa entrevista de emprego sendo monossilábico. Tem que se puxar. Fazer valer o investimento.     

      Quem teve um poema publicado em uma revista, enviou uns 25. O turista que conseguiu uma passagem de avião barata ficou a madrugada inteira pesquisando promoções. Lembra quando dependíamos de ligações telefônicas para empresas que só davam ocupado? Quantas horas tentando, tentando, até ser atendido? Que bets, que nada: a melhor aposta é em si mesmo.

       Não somos prêmios para ninguém, não estamos em promoção, mas o exemplo do Giba serve de alerta: quem almeja algo, seja o que for, não pode ser tão preguiçoso. Que se dedique um pouquinho, até para demonstrar que tem alguma noção sobre as dificuldades da vida. Eu imagino o Giba deitado numa cama às quatro da tarde, abatido, entediado, escrevendo aquelas duas linhas entre uma soneca e outra. Já o carioca que perambulou pela Patagônia voltou a me escrever mais uma, duas, três vezes, e acabamos namorando. Não durou para sempre, mas foi divertido. Quando a persistência encontra a confiança, dá match.


(MEDEIROS, Martha. Era uma vez, duas, três. Jornal O Globo. Em: dezembro de 2024.)
Os enunciados presentes no subtítulo do texto estabelecem entre si relação semântica de:
Alternativas

Comentários

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Parece que cheguei cedo demais...

A alternativa correta é:

B) Oposição.

No subtítulo "Não se passa no vestibular chutando as questões. Tem que se puxar, fazer valer o investimento.", há uma relação de oposição entre as ideias. O primeiro enunciado indica uma ação inadequada (chutar as questões), enquanto o segundo apresenta a alternativa correta (estudar e se esforçar). Isso caracteriza uma relação de contraste entre as duas partes do texto.

Gabarito: B, porém:

Os enunciados apresentam uma relação em que o segundo ("Tem que se puxar, fazer valer o investimento.") surge como consequência lógica do primeiro ("Não se passa no vestibular chutando as questões."). A ideia é que o esforço e o comprometimento são exigidos para alcançar o objetivo de passar no vestibular, estabelecendo, assim, uma relação de consequência. Fonte: ChatGPT.

Saudades dos comentários dos professores...

A ideia contida no subtítulo pode ser encontrada ao longo do texto:

Não se passa no vestibular chutando as questões. Tem que se puxar, fazer valer o investimento.

 (...) não se passa no vestibular chutando as questões, não se vai bem numa entrevista de emprego sendo monossilábico. Tem que se puxar. Fazer valer o investimento.   

 (...) quem almeja algo, seja o que for, não pode ser tão preguiçoso. Que se dedique um pouquinho, até para demonstrar que tem alguma noção sobre as dificuldades da vida

Grosso modo, a autora, Marta Medeiros, apresenta 2 homens que passaram pela vida dela, um deles foi insistente, o outro não. O homem insistente acabou "conseguindo o que queria" (se é que vocês me entendem); o outro, que foi conciso, monossilábico na comunicação que teve com a autora, não conseguiu nada.

A ideia é essa, ESFORÇO CONTÍNUO leva a RESULTADO.

Se você ler o texto inteiro, verá que a crônica tem essa tese como embasamento, pois bem.

Concentrando-se no título, fica evidente a relação semântica estabelecida entre os segmentos é de CONDIÇÃO, não de OPOSIÇÃO.

Não se passa no vestibular chutando questões, o que é preciso ser feito para passar? qual a condição ou condições para passar? As condições são:

  1. Puxar-se (uso figurativo, significa ter atitude, inciativa, AÇÃO)
  2. Fazer valer o investimento.

Ok, uma SEGUNDA INTERPRETAÇÃO VÁLIDA é estabelecer uma relação de CAUSA E CONSEQUÊNCIA.

Se você se puxar e fizer valer o investimento, então conseguirá passar no vestibular.

CAUSA:

Puxar-se, fazer valer o investimento.

CONSEQUÊNCIA:

Passar no vestibular.

Portanto, senhores, na minha opinião a letra A é o gabarito correto, eu aceitaria até letra D como gabarito.

Porém, a banca vir dizer que o gabarito é OPOSIÇÃO, isso é completamente INSANO. Não há absolutamente nenhum traço de oposição entre os segmentos propostos. A banca simplesmente precisava filtrar mais pessoas e, sendo impossível modificar o gabarito de questões mais objetivas, questões de outras disciplinas, decidiu que o português seria a vítima, já que português, na visão dessas bancas indignas e incompetentes, é "terra sem lei".

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