No texto, o analista de Bagé utiliza humor e pragmatismo par...
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Ano: 2025
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
CRP - 3ª Região (BA)
Provas:
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Q3194274
Português
Texto associado
Texto para responder à questão.
Onde anda o analista de Bagé? Não sei. As notícias são desencontradas. Há quem diga que ele se aposentou, hoje vive nas
suas terras perto de Bagé e se dedica a cuidar de bicho em vez de gente, só abrindo exceção para eventuais casos de angústia
existencial ou regressão traumática de fundo psicossomático entre a peonada da estância.
Lindaura, a recepcionista que além de receber também dava, estaria com ele, e teria concordado em dividir o afeto do
analista com uma égua chamada Posuda, desde que eles concordassem em nunca serem vistos juntos em público.
Outros dizem que o analista morreu, depois de tentar, inutilmente, convencer o marido de uma paciente que banhos
regulares de jacuzzi a dois num motel faziam parte do tratamento.
E há os que sustentam que o analista continua clinicando, na Europa, onde a sua terapia do joelhaço, conhecida como
“Thérapie du genou aux boules, ou le methode gaúchô”, tem grande aceitação e ele só tem alguma dificuldade com a correta
tradução de “Pos se apeie nos pelego e respire fundo no más, índio velho”, no começo de cada sessão.
Não sei.
Bagé
Certas cidades não conseguem se livrar da reputação injusta que, por alguma razão, possuem. Algumas das pessoas mais
sensíveis e menos grossas que eu conheço vem de Bagé, assim como algumas das menos afetadas são de Pelotas. Mas não
adianta. Estas histórias do psicanalista de Bagé são provavelmente apócrifas (como diria o próprio analista de Bagé, história
apócrifa é mentira bem educada) mas, pensando bem, ele não poderia vir de outro lugar.
Pues, diz que o divã no consultório do analista de Bagé é forrado com um pelego. Ele recebe os pacientes de bombacha e
pé no chão.
– Buenas. Vá entrando e se abanque, índio velho.
– O senhor quer que eu deite logo no divã?
– Bom, se o amigo quiser dançar uma marca, antes, esteja a gosto. Mas eu prefiro ver o vivente estendido e charlando que
nem china da fronteira, pra não perder tempo nem dinheiro.
– Certo, certo. Eu...
– Aceita um mate?
– Um quê? Ah, não. Obrigado.
– Pos desembucha.
– Antes, eu queria saber. O senhor é freudiano?
– Sou e sustento. Mais ortodoxo que reclame de xarope.
– Certo. Bem. Acho que o meu problema é com a minha mãe.
– Outro...
– Outro?
– Complexo de Édipo. Dá mais que pereba em moleque.
– E o senhor acha...
– Eu acho uma pôca vergonha.
– Mas...
– Vai te metê na zona e deixa a velha em paz, tchê!
(VERÍSSIMO, Luís Fernando. O analista de Bagé. Rio de Janeiro: L&PM, 1982. Fragmento.)
No texto, o analista de Bagé utiliza humor e pragmatismo para abordar os problemas apresentados por seus pacientes. Sua
forma de lidar com questões como o Complexo de Édipo, por exemplo, revela seu estilo único e não convencional de análise.
Considerando a ficcionalidade própria desse gênero textual, pode-se caracterizar o método do analista de Bagé como uma: