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Q1071659 Português

         Idosos órfãos de filhos vivos são os novos desvalidos do século XXI


      Nestas últimas décadas, surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo, que impacta negativamente no modo de vida de toda a família. Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico, aos laboratórios. Irritam-se pelo seu andar mais lento e suas dificuldades de se organizar no tempo, sua incapacidade crescente de serem ágeis nos gestos e decisões.

                              Separação e responsabilidade

      Nos tempos de hoje, dentro de um espectro social muito amplo e profundo, os abandonos e as distâncias não ocupam mais do que algumas quadras ou quilômetros que podem ser vencidos em poucas horas. Nasceu uma geração de “pais órfãos de filhos”. Pais órfãos que não se negam a prestar ajuda financeira. Pais mais velhos que sustentam os netos nas escolas e pagam viagens de estudo fora do país. Pais que cedem seus créditos consignados para filhos contraírem dívidas em seus honrados nomes, que lhes antecipam herança, mas que não têm assento à vida familiar dos mais jovens, seus próprios filhos e netos, em razão – talvez, não diretamente de seu desinteresse, nem de sua falta de tempo – da crença de que seus pais se bastam.

      Este estilo de vida, nos dias comuns, que não inclui conversa amena e exclui a “presença a troco de nada, só para ficar junto”, dificulta ou, mesmo, impede o compartilhamento de valores e de interesses por parte dos membros de uma família na atualidade, resulta de uma cultura baseada na afirmação das individualidades e na política familiar focada nos mais jovens, nos que tomam decisões ego-centradas e na alta velocidade: tudo muito veloz, tudo fugaz, tudo incerto e instável. O desespero calado dos pais desvalidos, órfãos de quem lhes asseguraria conforto emocional e, quiçá material, não faz parte de uma genuína renúncia da parte destes pais, que “não querem incomodar ninguém”, uma falsa racionalidade – e é para isso que se prestam as racionalizações – que abala a saúde, a segurança pessoal, o senso de pertença. É do medo de perder o pouco que seus filhos lhes concedem em termos de atenção e presença afetuosa. O primado da “falta de tempo” torna muito difícil viver um dia a dia em que a pessoa está sujeita ao pânico de não ter com quem contar.

                   A dificuldade de reconhecer a falta que o outro faz

Do prisma dos relacionamentos afetivos e dos compromissos existenciais, todas as gerações têm medo de confessar o quanto o outro faz falta em suas vidas, como se isso fraqueza fosse. Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial, como se ninguém mais precisasse de ninguém. A família nuclear é muito ameaçadora. Para o conforto, segurança e bem-estar: um número grande de filhos não mais é bem-vindo, pais longevos não são bem tolerados e tudo isso custa muito caro, financeira, material e psicologicamente falando. Sobrevieram a solidão e o medo permanente que impregnam a cultura utilitarista, que transformou as relações humanas em transações comerciais. As pessoas se enxergam como recursos ou clientes. Pais em desespero tentam comprar o amor dos filhos e temem os ataques e abandono de clientes descontentes. Mas, carinho de filho não se compra, assim como ausência de pai e mãe não se compensa com presentes, dinheiro e silêncio sobre as dores profundas, as gerações em conflito se infringem. [...]. Diálogo? Só existe o verdadeiro diálogo entre aqueles que não comungam das mesmas crenças e valores, que são efetivamente diferentes. Conversar, trocar ideias não é dialogar. Dialogar é abrir-se para o outro. É experiência delicada e profunda de autorrevelação. Dialogar requer tempo, ambiente e clima, para que se realizem escutas autênticas e para que sejam afastadas as mútuas projeções. O que sabem, pais e filhos, sobre as noites insones de uns e de outros? 

      O que conversam eles sobre os receios, inseguranças e solidão? E sobre os novos amores? Cada geração se encerra dentro de si própria e age como se tudo estivesse certo e correto, quando isso não é verdade.

FRAIMAN, A. “Idosos órfãos de filhos vivos são os novos desvalidos do século XXI”. Disponível em <http://www.revistapazes.com/5440-2/. Acesso em 30 out. 2017. (Adaptado)

Sobre os adjuntos adverbiais que aparecem no texto, assinale a alternativa correta.
Alternativas

Gabarito comentado

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A alternativa correta é a A.

Vamos entender o porquê:

A - "Nos tempos de hoje, dentro de um espectro social muito amplo e profundo [...]":

O adjunto adverbial destacado "Nos tempos de hoje" está realmente isolado por vírgula. Isso ocorre porque é uma marca de tempo que não se encontra na ordem direta da frase. A vírgula é utilizada para destacar o adjunto adverbial e facilitar a compreensão do leitor. Esta é a alternativa correta.

B - "Este estilo de vida, nos dias comuns [...]":

O adjunto adverbial "nos dias comuns" não tem a função de explicitar a opinião do autor em relação ao tema abordado. Na verdade, ele indica quando o estilo de vida mencionado ocorre, ou seja, está relacionado ao tempo. Portanto, essa alternativa está incorreta.

C - "Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial [...]":

O termo "coletivamente" não é um advérbio de companhia, mas sim um advérbio de modo, que indica como algo foi feito. Advérbios de companhia geralmente são formados por locuções adverbiais como "com alguém". Portanto, essa alternativa também está incorreta.

D - "[...] surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo [...]":

O termo "extremo" não é um advérbio de frequência; é um substantivo que, neste contexto, está sendo usado para intensificar a ideia de até onde a independência e autonomia foram levadas. Advérbios de frequência indicam a regularidade com que algo acontece, como "sempre", "nunca", "frequentemente". Portanto, essa alternativa está incorreta.

E - "Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico [...]":

O termo "muitos" é, na verdade, um pronome indefinido e não um advérbio. Além disso, ele não poderia ser substituído por "bastante" sem alterar o sentido da frase. "Bastante" indicaria intensidade, enquanto "muitos" indica quantidade. Portanto, esta alternativa está incorreta.

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Comentários

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GABARITO: LETRA A

A) Em “Nos tempos de hoje, dentro de um espectro social muito amplo e profundo [...]”, o adjunto adverbial destacado está isolado por vírgula, uma vez que é uma marca de tempo que não se encontra na ordem direta da frase. → vírgula isolando obrigatoriamente um adjunto adverbial deslocado de sua posição e sendo de longa extensão.

B) Em “Este estilo de vida, nos dias comuns [...]”, o adjunto adverbial destacado tem função de explicitar a opinião do autor em relação ao tema abordado. → incorreto, adjunto adverbial de tempo que caracteriza os dias rotineiros, dias de vivência normal, dias atuais.

C) Em “Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial [...]”, o adjunto destacado evidencia um advérbio de companhia. → incorreto, é um adjunto adverbial de modo; o modo como foi montada a armadilha.

D) Em “[...] surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo [...]”, o termo destacado é considerado um adverbio de frequência. → o termo em destaque é o núcleo do objeto indireto do verbo "levada" (levada a algo).

E) Em “Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico [...]”, o termo destacado é um advérbio e poderia ser substituído por “bastante”. → incorreto, é um pronome indefinido que está ligado ao substantivo "filhos"; pode ser substituído por "bastantes" concordo com o substantivo que se refere.

FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

gabarito letra A

A ) Em “Nos tempos de hoje, dentro de um espectro social muito amplo e profundo [...]”, o adjunto adverbial destacado está isolado por vírgula, uma vez que é uma marca de tempo que não se encontra na ordem direta da frase.

CORRETO, uma locução adverbial deslocada para o início do periodo com três ou mais palavras já não é de curta extensão e demanda obrigatoriamente a utilização da vírgula. Sobre isso, veja uma questão: CESPE/UnB – STM – ANALISTA – 2011 – QUESTÃO 1

B ) Em “Este estilo de vida, nos dias comuns [...]”, o adjunto adverbial destacado tem função de explicitar a opinião do autor em relação ao tema abordado.

Errado, tendo em vista que se trata de um adjunto adverbial de tempo.

C ) Em “Montou-se, coletivamente, uma enorme e terrível armadilha existencial [...]”, o adjunto destacado evidencia um advérbio de companhia.

Errado, pois indica o modo com que se montou a armadilha

D ) Em “[...] surgiu uma geração de pais sem filhos presentes, por força de uma cultura de independência e autonomia levada ao extremo [...]”, o termo destacado é considerado um adverbio de frequência.

Errado, quem leva, leva algo a algum lugar, ou seja, a autonomia é levada ao extremo, logo temos um objeto indireto.

E ) Em “Muitos filhos adultos ficam irritados por precisarem acompanhar os pais idosos ao médico [...]”, o termo destacado é um advérbio e poderia ser substituído por “bastante”.

Errado, pois haveria incorreção gramatical, tendo em vista o erro de concordância nominal do termo “bastante” que deve concordar com “filhos”, e deve ser flexionado no plural para “bastantes”

bons estudos!

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