Assinale a alternativa que apresenta a palavra “o” com o mes...
Após a leitura atenta do texto apresentado a seguir, responda às questões propostas.
Assiste à demolição
– Morou mais de vinte anos nesta casa? Então vai sentir “uma coisa” quando ela for demolida.
Começou a demolição. Passando pela rua, ele viu a casa já sem telhado, e operários, na poeira, removendo caibros. Aquele telhado que lhe dera tanto trabalho por causa das goteiras, tapadas aqui, reaparecendo ali. Seu quarto de dormir estava exposto ao céu, no calor da manhã. Ao fundo, no terraço, tinham desaparecido as colunas da pérgula, e a cobertura de ramos de buganvília – dois troncos subindo do pátio lá embaixo e enchendo de florinhas vermelhas o chão de ladrilho, onde gatos da vizinhança amavam fazer sesta e surpreender tico-ticos.
Passou nos dias seguintes e viu o progressivo desfazer-se das paredes, que escancarava a casa de frente e de flancos jogando-a por assim dizer na rua. Os marcos das portas apareciam emoldurando o vazio. O azul e as nuvens circulavam pelos cômodos, em composição surrealista. E o pequeno balcão da fachada, cercado de ar, parecia um mirante espacial, baixado ao nível dos míopes.
A demolição prosseguiu à noite, espontaneamente. Um lanço de parede desabou sozinho, para fora do tapume, quando já cessara na rua o movimento dos lotações. Caiu discreto, sem ferir ninguém, apenas avariando – desculpem – a rede telefônica.
A casa encolhera-se, em processo involutivo. Já agora de um só pavimento, sem teto, aspirava mesmo à desintegração. Chegou a vez da pequena sala de estar, da sala de jantar com seu lambri envernizado a preto, que ele passara meses raspando a poder de gilete, para recuperar a cor da madeira. E a vez do escritório, parte pensante e sentinte de seu mecanismo individual, do eu mais íntimo e simultaneamente mais público, eu de gavetas sigilosas, manuseadas por um profissional da escrita. De todo o tempo que vivera na casa, fora ali que passara o maior número de horas, sentado, meio corcunda, desligado de acontecimentos, ouvindo, sem escutar, rumores que chegavam de outro mundo – cantoria de bêbados, motor de avião, chorinho de bebê, galo na madrugada.
E não sentiu dor vendo esfarinharem-se esses compartimentos de sua história pessoal. Nem sequer a melancolia do desvanecimento das coisas físicas. Elas tinham durado, cumprido a tarefa. Chega o instante em que compreendemos a demolição como um resgate de formas cansadas, sentença de liberdade. Talvez sejamos levados a essa compreensão pelo trabalho similar, mais surdo, que se vai desenvolvendo em nós. E não é preciso imaginar a alegria de formas novas, mais claras, a surgirem constantemente de formas caducas, para aceitar de coração sereno o fim das coisas que se ligaram à nossa vida.
Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa e era um amontoado de caliça e tijolo, a ser removido. Em breve restaria o lote, à espera de outra casa maior, sem sinal dele e dos seus, mas destinada a concentrar outras vivências. Uma ordem, um estatuto pairava sobre os destroços, e tudo era como devia ser, sem ilusão de permanência.
Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de. Cadeira de balanço. 12. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1979.
Vocabulário
caibro s.m. elemento estrutural de um telhado, geralmente peças de madeira que se dispõem da cumeeira ao frechal, a intervalos regulares e paralelas umas às outras, em que se cruzam e assentam as ripas, frequentemente mais finas e compridas, e sobre as quais se apoiam e se encaixam as telhas
pérgula s. f. espécie de galeria coberta de barrotes espacejados assentados em pilares, geralmente guarnecida de trepadeiras
buganvília s.f. designação comum às plantas do gênero bougainvillea, trepadeira, muito cultivadas como ornamentais
de flanco s. m. pela lateral
marco s. m. parte fixa que guarnece o vão de portas e janelas, e onde as folhas destas se encaixam, prendendo-se por meio de dobradiças
tapume s. m. cerca ou vala guarnecida de sebe que defende uma área; anteparo, geralmente de madeira, com que se veda a entrada numa área, numa construção
lambri s. m. revestimento interno de parede, usado com fim decorativo ou para proteger contra frio, umidade ou barulho; feito de madeira, mármore, estuque, numa só peça ou composto por painéis, que vão até certa altura ou do chão ao teto (mais usado no plural)
caliça s.f. conjunto de resíduos de uma obra de alvenaria demolida ou em desmoronamento, formado por pó ou fragmentos dos materiais diversos do reboco (cal, argamassa ressequida) e de pedras, tijolos desfeitos
lote s. m. porção de terra autônoma que resulta de loteamento ou desmembramento; terreno de pequenas dimensões, urbano ou rural, que se destina a construções ou à pequena agricultura
Fonte: HOUAISS, A. e Villar, M. de S. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro. Objetiva, 2009.
Assinale a alternativa que apresenta a palavra “o” com o mesmo emprego e a mesma classificação ocorrida no seguinte trecho: “Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa…”.
Gabarito comentado
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A alternativa correta é D - Eu sou o que no mundo anda perdido.
Vamos compreender o motivo:
No trecho "Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa...", a palavra "o" é um pronome relativo. Esse pronome introduz uma oração que funciona como complemento ou explica o antecedente, mantendo uma relação de subordinação. Aqui, "o que tinha sido sua casa" relaciona-se diretamente ao fato de ter sido um lugar específico no passado.
Na alternativa D, "Eu sou o que no mundo anda perdido", temos um uso similar. O "o" é novamente um pronome relativo, introduzindo a oração "que no mundo anda perdido", que complementa e explica "Eu sou". Assim, ambas as frases utilizam o mesmo emprego e classificação gramatical.
Agora, vamos analisar as alternativas incorretas:
A - “… fora ali que passara o maior número de horas…”
Aqui, o "o" é um artigo definido, que antecede o substantivo "maior número". Ele não age como pronome relativo, portanto, não tem o mesmo emprego e classificação do "o" no trecho da questão.
B - “Não imagina o dó que a menina me dá!”
Neste caso, "o" também é um artigo definido, que antecede o substantivo "dó". Novamente, não atua como pronome relativo.
C - “…e enchendo de florinhas vermelhas o chão de ladrilho…”
Aqui, "o" aparece como artigo definido antes do substantivo "chão". Ele não funciona como pronome relativo, diferentemente do uso no trecho da questão.
E - “O lote é uma porção de terra que será doada para administração da Terra de Santa Cruz.”
Mais uma vez, "o" é um artigo definido que antecede o substantivo "lote". Novamente, não é um pronome relativo.
Conclusão:
Somente na alternativa D "o" é usado como pronome relativo, introduzindo uma oração que complementa o antecedente, assim como no trecho "Fitou tranquilo o que tinha sido sua casa...".
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Comentários
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A - “… fora ali que passara A maior número de horas…”
B - Não imagina A dó que a menina me dá!
C - “...e enchendo de florinhas vermelhas A chão de ladrilho…”
D - Eu sou O que no mundo anda perdido. (ARTIGO CONCORDA O VERBO SER NO MASCULINO)
E - O lote é uma porção de terra que será doada para administração da Terra de Santa Cruz.
Todas as alternativas apresentam artigos, com exceção da alternativa D que é um pronome demonstrativo.
O= aquele.
Eu sou o que no mundo anda perdido.
Eu sou aquele que no mundo anda perdido.
Se tiver algo de errado, pode corrigir.
motinhaa.
'' O,A,OS,AS '' PODE SER PRONOME DEMONSTRATIVO QUANDO VALER PARA ''AQUELE // AQUELA''
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