Leia o texto a seguir. A etnografia da América indígena con...
A etnografia da América indígena contém um tesouro de referências a uma teoria cosmopolítica que imagina um universo povoado por diferentes tipos de agências ou agentes subjetivos, humanos como não-humanos – os deuses, os animais, os mortos, as plantas, os fenômenos meteorológicos, muitas vezes também os objetos e os artefatos –, todos providos de um mesmo conjunto básico de disposições perceptivas, apetitivas e cognitivas, ou, em poucas palavras, de uma “alma” semelhante. Essa semelhança inclui um mesmo modo, que poderíamos chamar performativo, de apercepção: os animais e outros não-humanos dotados de alma “se veem como” pessoas, e portanto, em condições ou contextos determinados, “são” pessoas, isto é, são entidades complexas, com uma estrutura ontológica de dupla face (uma visível e outra invisível), existindo sob os modos pronominais do reflexivo e do recíproco e os modos relacionais do intencional e do coletivo. O que essas pessoas veem, entretanto – e que sorte de pessoas elas são –, constitui precisamente um dos problemas filosóficos mais sérios postos por e para o pensamento indígena.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Metafísicas canibais. São Paulo: Cosac Naify, 2015, p. 43. [Adaptado].
Conforme o texto, na concepção ameríndia, a cultura tem qual forma?
Gabarito comentado
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Alternativa correta: C - Do universal.
O texto de Eduardo Viveiros de Castro discorre sobre a concepção cosmopolítica ameríndia, que apresenta uma visão de mundo onde diversos agentes (humanos e não-humanos) possuem uma alma semelhante. Esse conceito implica que todos esses seres compartilham um conjunto básico de disposições perceptivas, apetitivas e cognitivas. Em outras palavras, eles possuem uma percepção performativa que os faz se verem como pessoas.
Essa visão de mundo é universalizante porque considera que todos os elementos do universo (deuses, animais, plantas, fenômenos meteorológicos, objetos, etc.) têm uma alma e, assim, podem ser vistos como pessoas em contextos determinados. Portanto, a cultura ameríndia não se restringe a uma visão particular, homogênea, ou abstrata, mas sim a uma compreensão universal de que todos esses agentes compartilham uma essência comum.
Justificativa das alternativas:
A - Do particular: Incorreta. A concepção ameríndia não se limita a visões particulares, mas sim a uma visão universal sobre a alma e as disposições dos agentes.
B - Da homogeneidade: Incorreta. Embora o texto fale de uma semelhança nas disposições dos agentes, a ideia principal é a universalidade dessa semelhança, não a homogeneidade.
D - Da abstração: Incorreta. A visão ameríndia descrita é concreta e prática, tratando de como diferentes agentes veem o mundo e a si mesmos. Não se trata de uma abstração teórica.
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