Uma das características da crônica é procurar estabelecer um...
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Ano: 2024
Banca:
VUNESP
Órgão:
UNESP
Provas:
VUNESP - 2024 - UNESP - Contador
|
VUNESP - 2024 - UNESP - Assistente de Suporte Acadêmico assistente de suporte Acadêmico IV - Área de Atuação: Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Engenharia Eletrônica |
VUNESP - 2024 - UNESP - Assistente de Suporte Acadêmico assistente de suporte Acadêmico IV - Área de Atuação: Administração de Sistemas de Computação de alto Desempenho |
VUNESP - 2024 - UNESP - ssistente de Suporte Acadêmico assistente de suporte Acadêmico IV - Área de Atuação: Computação de Alto Desempenho e Computação em Nuvem |
VUNESP - 2024 - UNESP - Assistente Técnico Administrativo I - Área de Atuação: Gestão de Pessoas |
Q3255112
Não definido
Texto associado
Leia a crônica para responder à questão.
Minhas janelas
Em geral as pessoas possuíram automóveis e se recordam de todos eles. Eu possuí janelas e ajuntei para a lembrança um sortido patrimônio de paisagens. Minha primeira
providência em casa nova é instalar meus instrumentos de
trabalho ao lado duma janela: mesa, máquina de escrever,
dicionários, paciência. Além de pequenos objetos familiares:
um globo de lata, uma galinha de barro e três cachimbos que
há muitos anos esperam aparecer em mim o homem tranquilo e experiente que fuma cachimbo. A janela também faz
parte do equipamento profissional do escritor. Sem janelas, a
literatura seria irremediavelmente hermética, feita de incompreensíveis pedaços de vida, lágrimas e risos loucos.
Tive muitas janelas, e nenhuma delas mais generosa e
plena do que esta de que me despeço na manhã de hoje.
Amanhã cedo mudarei de casa, de janela, e até de alma, pois
o meu modo de ver e viver já não será o mesmo fatalmente.
Quando menino, nunca olhei pela janela, mas fazia parte da paisagem de um quintal com os mamoeiros bicados
pelos passarinhos, as galinhas neuróticas em assembleia
permanente, o canto intermitente do tanque. Criança do meu
tempo, do tempo das casas, só chegava à janela em dia
de chuva, amassando o nariz contra a vidraça para ver o
mistério espetacular das águas desatadas e as poças onde
os moleques pobres e livres podiam brincar com euforia.
Portanto, só à medida que ganhamos corpo e tempo, vamos aprendendo a conhecer a importância das janelas. Morei
em vários lugares e vi muitas coisas. Vi as luminárias inquietantes dos transatlânticos; as traineiras* indo e vindo; um afogado dando à praia ao amanhecer; operários equilibrando-se
em andaimes incríveis; o féretro passando; a moça saindo
para as núpcias; a mãe voltando com o filho da maternidade;
o bêbado matinal; o mendigo irrompendo pela rua... Vi através de minhas janelas todas as formas inumeráveis da vida,
e a noite que chegava para engolfar o mundo em escuridão.
Nos últimos anos, encontrei Ipanema e só tenho trocado
de moradia no mesmo bairro. Não quero mais ir, quero ficar;
não quero mais procurar, quero conhecer o que já encontrei;
para quem sou, as alegrias e tristezas que já tenho estão de
bom tamanho.
Vou perder dentro de poucas horas esta magnífica janela,
incomparavelmente a melhor peça deste apartamento. Peço,
pois, um minuto de silêncio em derradeira homenagem aos
telhados de limo lá embaixo, às minhas gaivotas, aos meus
barcos; dou adeus para o meu mar noturno e adeus para este
mar cheio de luz.
(Paulo Mendes Campos. Instituto Moreira Salles – Portal da Crônica
Brasileira. https://cronicabrasileira.org.br/cronicas/7120/minhas-janelas
Crônica publicada em 09.07.1960. Texto adaptado)
*Traineira: pequena embarcação de pesca.
Uma das características da crônica é procurar estabelecer um ponto em comum entre a experiência do escritor e
a dos leitores. No caso da crônica selecionada, é correto
apontar como ponto comum o fato de escritor e leitores