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Ano: 2024
Banca:
NC-UFPR
Órgão:
UFPR
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Q2564798
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Afantasia: “Não consigo ver meus filhos em meus pensamentos”
Philippa Roxby
A maioria das pessoas consegue visualizar imagens na cabeça — o aspecto de uma maçã, a aparência de sua cozinha ou o
sorriso do seu melhor amigo —, mas nem todos. E aqueles que não conseguem estão provavelmente entre o 1% de pessoas que
sofre com afantasia extrema, de acordo com uma revisão de estudos sobre o fenômeno. Eles também são menos propensos a
reconhecer rostos, a lembrar o som de uma música ou o barulho de uma lixa, e mais propensos a trabalhar nas áreas de ciências,
matemática ou informática.
Acredita-se que até 6% da população pode experimentar algum grau de afantasia. Não se trata de um distúrbio e não significa
falta de imaginação, mas pode ter efeitos sutis no dia a dia, diz o professor Adam Zeman, professor honorário de neurologia da
Universidade de Exeter, que criou o termo há quase 10 anos.
A britânica Mary Wathen, 43 anos, acha “alucinante” que outras pessoas possam criar imagens em suas cabeças. “Eu
simplesmente não consigo entender o que eles realmente querem dizer. Onde está essa imagem e como ela é?”, pergunta. “Para
mim, se você não pode ver algo com os olhos, não existe.”
Mary não consegue visualizar eventos importantes em sua vida, como o dia de seu casamento. E a menos que eles estejam
com ela, Mary também não consegue trazer à mente a imagem de seus dois filhos. “Não vem uma imagem — tenho todas as
memórias, apenas me lembro delas de forma muito diferente”, diz Mary.
Mary descobriu que era diferente da maioria das outras pessoas quando conversava com amigos. Ela se surpreendeu ao
descobrir que seu marido conseguia facilmente visualizar eventos passados, como se estivesse assistindo a um filme. “O lado
positivo — diz — é que ela é uma ótima comunicadora verbal, porque não supõe nada — o que importa são as palavras. Ela também
sente as coisas profundamente”. “Sou uma pessoa muito emotiva, guiada por instintos — por isso, quando me lembro de algo, é um
sentimento em vez de uma imagem”, diz Mary.
Diferenças na conectividade entre regiões do cérebro podem explicar o motivo, diz o professor Zeman. Quando solicitadas a
imaginar uma maçã, por exemplo, a maioria das pessoas passa por uma sucessão de etapas, incluindo “provocar” o cérebro para
lembrar a aparência de uma maçã e ativar o cérebro para criar uma imagem dela. Mas naqueles com afantasia esse processo pode
falhar em alguma das etapas. Enquanto as pessoas com afantasia apenas pensam nas memórias, outras pessoas são capazes de
relembrar e viver essas memórias.
E a afantasia pode trazer benefícios. Pode ter um efeito protetor para a saúde mental, porque é mais provável que quem tenha
afantasia viva o momento e seja menos propenso a imaginar eventos assustadores ou estressantes, por exemplo. Além do mais, o
professor Zeman diz que a pesquisa sugere que “as imagens sensoriais conscientes não são um pré-requisito para a cognição
humana” — ou imaginação criativa. E todos visualizam imagens em suas mentes de maneira diferente: “Nossa experiência não é a
norma e outras pessoas podem ter vidas interiores diferentes”, acrescenta.
Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c72006k994xo. Adaptado.
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