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Q3104976 Português
Texto VI


    O bife e o vinho compartilham a mitologia sanguínea. É o coração da carne, e qualquer um que a consuma assimila a força do touro. Obviamente, o prestígio do bife deve-se ao seu estado de semicrueza: nele o sangue é simultaneamente visível, denso, compacto e suscetível de ser cortado: imagina-se logo a ambrosia antiga sob a forma de uma matéria pesada que diminui entre os dentes, de modo a fazer com que se sinta ao mesmo tempo a sua força de origem e a sua plasticidade se expandirem no próprio sangue do homem.

    E assim como o vinho se transforma, para um bom número de intelectuais, em substância mediúnica que os conduz à força original da natureza, do mesmo modo o bife é para eles um alimento de redenção, graças ao qual tornam o seu cerebralismo mais prosaico e conjuram, pelo sangue e a polpa mole, a secura estéril de que são acusados.

    Tal como o vinho, na França, o bife é um elemento básico, mais nacionalizado do que socializado, estando presente em todos os cenários da vida alimentar; participa de todos os ritmos, desde a confortável refeição burguesa ao lanche boêmio do celibatário; é uma alimentação simultaneamente rápida e densa, que realiza a mais perfeita união entre a economia e a eficácia, a mitologia e a plasticidade do seu consumo. Além de tudo isso, é um produto eminentemente francês (é certo que se encontra circunscrito, hoje em dia, pela invasão dos steaks americanos). Sendo nacional, depende da cotação dos valores patrióticos: revigora-os em tempo de guerra, sendo a própria carne do combatente francês, o bem inalienável que só pode passar-se para o inimigo à traição. Associado geralmente às batatas fritas, o bife transmite-lhes o seu renome: elas são nostálgicas e patrióticas como o bife.


Roland Barthes. O bife com batatas fritas. In: Mitologias. 2010, p.79-80 (com adaptações).

Julgue (C ou E) o próximo item, relativos a aspectos linguísticos e ortográficos do texto VI.


No terceiro período do primeiro parágrafo, a expressão “de modo a” enfatiza o esforço empreendido pelo sujeito da ação expressa pelo verbo “fazer”, podendo ser substituída, sem prejuízo da correção gramatical e da coesão textual, pela expressão com o intuito de. 

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Comentários

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A substituição não é adequada porque "com o intuito de" altera a relação semântica expressa na frase original, que é de maneira/consequência, e não de intenção/finalidade. Isso compromete a coesão textual e a correção gramatical.

Gabarito: Errado.

A expressão "de modo a" introduz uma consequência do fato de a matéria pesada diminuir entre os dentes.

A expressão "com o intuito de" indica noção de finalidade, por isso a substituição alteraria o sentido original e prejudicaria a coesão textual.

Redação para concursos: @obrabodaredacao

MJCP

Na minha humilde opinião, não houve prejuízo à coesão da frase, dado que ela continua gramaticalmente correta e fazendo sentido, ainda que não seja o original. Não obstante, concordo com os colegas que houve uma alteração na semântica da frase a qual se refere à coerência que realmente se altera. Mas a semântica não foi objeto desta questão.As

Vou deixar anotada essa questão, pois prefiro a aprovação a estar correta em minha análise.

Para mim, o erro da questão não está propriamente na troca entre as conjunções.

A questão está errada ao afirmar que o verbo "fazer" tem sujeito, pois, no contexto, ele está empregado na sua forma nominal - infinitivo impessoal. Desta forma, FUNCIONA COMO SUBSTANTIVO.

O restante do trecho após a forma nominal do verbo é seu complemento nominal - orações subordinadas substantivas completivas nominais, sacaram a ideia? Para confirmar o raciocínio, basta substituir a expressão destacada por "fazendo" forma nominal do verbo no gerúndio.

... imagina-se logo a ambrosia antiga... fazendo com que se sinta ao mesmo tempo...

Sobre o sentido, veja um exemplo:

Vou estudar, de modo a fazer/tornar minha vida melhor. (Finalidade!!)

Vou estudar, com o intuito de tornar minha vida melhor. (Finalidade!!)

No texto:

... imagina-se logo a ambrosia antiga... de modo a fazer (com o intuito de fazer, com o objetivo de fazer) ...

Não houve prejuízo algum, sequer no sentido. Eis aí o motivo pelo qual o erro está na sintaxe e não na semântica.

Portanto, GAB. Errado. Let's que bora!!!

A afirmação de que a substituição de "de modo a" por "com o intuito de" não causa prejuízo à correção gramatical e à coesão textual está incorreta.

Embora ambas as expressões indiquem finalidade, "de modo a" possui uma carga semântica mais próxima da consequência, enquanto "com o intuito de" enfatiza a intenção.

No texto, a expressão "de modo a" introduz uma consequência da ação de consumir o bife: sentir a força de origem e a plasticidade da carne se expandindo no próprio sangue. A substituição por "com o intuito de" alteraria sutilmente o sentido, colocando a ênfase na intenção de quem consome o bife, e não na consequência da ação.

A questão levanta um ponto crucial na reescrita de textos: a escolha precisa das palavras e expressões é fundamental para preservar a intenção original do autor e as nuances de significado. Em concursos públicos, é essencial estar atento a essas sutilezas, pois as bancas avaliam a capacidade do candidato de dominar a linguagem de forma precisa e sofisticada.

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