Considere a frase “Hoje está chovendo e eu não tenho um só b...

Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Q2300782 Português
Eis tudo


         Voltaram as chuvas e, com elas, o jardim ficou, de repente, antigo. Antigo e bom para mim, porque todas as coisas antigas foram boas para mim. Ou, se não foram, o tempo as passou a limpo.
        Tenho um jardim verde, entre muros velhos, como são os jardins da Madalena no Recife. Muros amarelos, lodosos, e o verde do lodo resplandece assim que chove. A vida fica bonita quando começa a chover. Uma porção de lembranças, que não são de que ou de quem. Lembranças sem forma e sem cor. Sem cheiro e sem sons. É. Deve ser a infância, toda ela, que se perdeu sem que eu pudesse fazer nada. Um gesto sequer, de defesa. A infância que me visita. Pode entrar. A casa é sua.
          Eu era um menino de cócoras, no fundo do quintal, brincando com os meus carrinhos. Chovia, em setembro, principalmente no dia dos anos do meu irmão. Eu tinha carrinhos de lata, pintados de vermelho e amarelo. Outros feitos por mim, com rodas de carretel. Eu era grande em relação a eles, e era um deus, porque fazia seus destinos. De cócoras, imensamente maior que eles, falando sozinho, para dar um enredo à brincadeira. Chovia. Minha mãe e as empregadas gritavam, chamando-me. E eu respondia:
            – Já vooouuu!
            – Mas você não vê que está chovendo?!
            – Ah, aqui está tão bonzinho!
      Daí a pouco, vinha lá de dentro uma pessoa maior que eu, muito maior que os carrinhos consequentemente, maior que um deus, e me arrastava pelo braço. Os carrinhos ficavam na chuva, morrendo.
          É triste a morte dos brinquedos. Todos os meus brinquedos morreram na chuva. Uns de ferrugem, outros se descolaram. Todos os meus brinquedos viveram pouco, em setembro, sob a chuva morna do Recife, principalmente no dia dos anos do meu irmão.
       Hoje está chovendo e eu não tenho um só brinquedo. Não quero continuar penetrando essas lembranças e as aceito, como um todo, certo apenas de que fui menino. Da minha vida, o que foi que eu fiz? As minhas palavras, os meus gestos, os meus silêncios, as minhas iras, a minha tristeza – ninguém ouve, ninguém entende. Perdi a razão e todas as mortes me cercam, muito atentas. Estou pleno de um mistério vão, que não serve a ninguém, nem me salva, nem me redime, nem atenua meus defeitos. Paciência. Precisava ser banhado em águas sagradas.
        Está chovendo reminiscentemente no jardim da minha casa alugada, na Lagoa. Onde e como encontrarei outra vez aquele grito interior da alegria?
            O menino foi proibido de ir à festa. Eis tudo.


(Antônia Maria: Vento vadio: as crônicas de Antônio Maria. Pesquisa, organização e introdução de Guilherme Tauil, Todavia, 2021, pp. 184-185. Publicada, originalmente, em O Jornal, de 22/11/1963.)
Considere a frase “Hoje está chovendo e eu não tenho um só brinquedo.” (9º§) Nela, dispõem-se duas orações, as quais podem ter seus sujeitos classificados, respectivamente, como
Alternativas

Gabarito comentado

Confira o gabarito comentado por um dos nossos professores

```html

Alternativa Correta: A - inexistente e simples.

A questão pede que analisemos a frase “Hoje está chovendo e eu não tenho um só brinquedo” quanto à classificação dos sujeitos das orações. Para resolver a questão, é necessário entender o conceito de sujeito e identificar como ele se apresenta em cada uma das orações.

A frase é formada por duas orações coordenadas: “Hoje está chovendo” e “eu não tenho um só brinquedo”. Vamos analisá-las:

1ª Oração: "Hoje está chovendo"

Aqui, temos um verbo impessoal (chover), que não se relaciona com um sujeito específico, considerando que é um fenômeno da natureza. Portanto, o sujeito é inexistente. Em verbos impessoais, a ação ou estado não é atribuída a nenhum sujeito.

2ª Oração: "eu não tenho um só brinquedo"

O sujeito desta oração é "eu", que é explícito e único. Assim, o sujeito nesta oração é simples, pois possui apenas um núcleo, que é "eu".

Por que as outras alternativas estão incorretas?

B - desinencial e simples: Embora o sujeito da segunda oração seja realmente simples, o da primeira oração não é desinencial, pois não está implícito; ele é inexistente devido ao verbo impessoal.

C - composto e desinencial: A primeira oração não possui sujeito composto, pois o verbo "chover" não permite associação com um sujeito; é inexistente. E na segunda oração, o sujeito não é desinencial, mas simples e explícito ("eu").

D - indeterminado e desinencial: O sujeito indeterminado ocorre quando o sujeito não está determinado, mas não é o caso da primeira oração, que é inexistente. Além disso, o sujeito "eu" da segunda oração é simples e não desinencial.

Compreender a estrutura das orações e o conceito de sujeito é essencial para resolver questões como esta. Fique atento aos detalhes que indicam a presença ou ausência de um sujeito nas orações.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

```

Clique para visualizar este gabarito

Visualize o gabarito desta questão clicando no botão abaixo

Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

A

Bom dia, boa tarde e boa noite.

Fiquem atentos a leitura do enunciado.

São duas orações. Sendo que na primeira, o sujeito é inexistente, (Hoje está chovendo). Já na segunda, (eu não tenho um só brinquedo) existe o sujeito, (observação) Hoje está chovendo e eu não tenho um só brinquedo.” conjunção coordenada aditiva.

Em ritmo de PPCE, PCCE 2024.

Oração sem sujeito à verbos que indiquem fenômenos da natureza: chover, amanhecer, nevoar e etc. Exemplo: Choveu durante a cerimônia. (obs.: só no sentido de fenômeno.)

amei o texto

A PRIEMEIRA ORAÇÃO JÁ MATAVA A QUESTÃO, PELO FATOR DE SER FENÔMENO DA NATUREZA

Clique para visualizar este comentário

Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo