Depreende-se do texto que a fala “Nem tanto, nem tanto...” ...
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Com base no mesmo assunto
Ano: 2021
Banca:
CESPE / CEBRASPE
Órgão:
SEFAZ-AL
Provas:
CESPE / CEBRASPE - 2021 - SEFAZ-AL - Auditor Fiscal de Finanças e Controle de Arrecadação da Fazenda Estadual
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CESPE / CEBRASPE - 2021 - SEFAZ-AL - Auditor Fiscal da Receita Estadual |
Q1851674
Português
Texto associado
Nenhuma figura é tão fascinante quanto o Falso Entendido. É o
cara que não sabe nada de nada, mas sabe o jargão. E passa por
autoridade no assunto. Um refinamento ainda maior da espécie é
o tipo que não sabe o jargão, mas inventa.
— Ó, Matias, você que entende de mercado de capitais...
— Nem tanto, nem tanto...
— Você, no momento, aconselharia que tipo de aplicação?
— Bom. Depende do yield pretendido, do throwback e do
ciclo refratário. Na faixa de papéis top market — ou o que nós
chamamos de topimarque —, o throwback recai sobre o repasse,
e não sobre o release, entende?
— Francamente, não.
Aí o Falso Entendido sorri com tristeza e abre os braços como
quem diz “É difícil conversar com leigos...”.
Uma variação do Falso Entendido é o sujeito que sempre
parece saber mais do que ele pode dizer. A conversa é sobre
política, os boatos cruzam os ares, mas ele mantém um discreto
silêncio. Até que alguém pede a sua opinião, e ele pensa muito
antes de decidir responder:
— Há muito mais coisa por trás disso do que você pensa...
Ou então, e esta é mortal:
— Não é tão simples assim...
Faz-se aquele silêncio que precede as grandes revelações, mas
o falso informado não diz nada. Fica subentendido que ele está
protegendo as suas fontes em Brasília.
E há o falso que interpreta. Para ele, tudo o que acontece deve
ser posto na perspectiva de vastas transformações históricas que
só ele está sacando.
— O avanço do socialismo na Europa ocorre em proporção
direta ao declínio no uso de gordura animal nos países do
Mercado Comum Europeu. Só não vê quem não quer.
E, se alguém quer mais detalhes sobre a sua insólita teoria, ele
vê a pergunta como manifestação de uma hostilidade bastante
significativa a interpretações não ortodoxas, e passa a interpretar
os motivos de quem o questiona, invocando a Igreja medieval, os
grandes hereges da história, os mistérios por trás da Reforma de
Lutero.
Luís Fernando Veríssimo. O jargão. In: As mentiras que os homens contam.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 69-71 (com adaptações)
A respeito das ideias e dos aspectos linguísticos do texto
apresentado, julgue o item que se segue.
Depreende-se do texto que a fala “Nem tanto, nem tanto...”
(terceiro parágrafo) demonstra falsa modéstia do personagem
Matias.