Atendendo às regras de regência, a forma verbal desdenha em ...
Leia o texto e responda às questões de números 06 a 10.
Carta pro Daniel
Talvez algum dia, nas próximas décadas, você esbarre nesta crônica, pela internet. Talvez uma tia comente: “lembro de um texto que o teu pai te escreveu quando você era bebê, era sobre uma praça, acho, já leu?” Talvez eu mesmo te mostre, na adolescência, vai saber?
Essa crônica é sobre uma praça, sim, sobre uma tarde que a gente passou na praça, no dia 5 de abril de 2016. Não é nenhuma história extraordinária a que vou te contar. É uma história simples, feita de elementos simples como é feita a maior parte da vida da gente, esses 99% de que a gente desdenha, sempre esperando por acontecimentos extraordinários. Mas acontecimentos extraordinários são raros, como a própria palavra “extraordinários” já diz, aí a vida passa e a gente não aproveitou. Pois hoje você me fez aproveitar a vida, Daniel, por isso resolvi te escrever, agradecendo.
Eu estava lá em casa, triste de tudo, você cruzou a sala sorrindo no colo da Jéssica e me deu uma vontade louca de passarmos um tempo juntos. Falei: “Queca, dá esse menino aqui, a gente vai na praça, eu e ele, vamos, Dani? Só os homens?”
As pessoas com quem a gente cruzava abriam sorrisos pra você e depois pra mim. Nós sorríamos de volta, eu por orgulho, você por simpatia.
Chegamos na praça. Eu quis te pôr no balanço, mas você me apontou o túnel de concreto. Te coloquei numa ponta do túnel, fui andando em direção à outra, sumi de vista por uns segundos e você deu uma resmungada, achando que eu ia te abandonar ali, mas então me agachei e apareci do outro lado. Você achou aquilo hilário – “O cara tava aqui, sumiu e apareceu lá!”–, deu uma gargalhada e veio engatinhando até mim.
Fui te pegar no colo, mas você se esquivou e olhou pra outra ponta. Entendi a brincadeira, corri até a outra ponta, me agachei. Você me viu, gargalhou de novo –“Agora o cara tá do outro lado! Que loucura!”–, foi até lá, me mandou voltar e nós ficamos perdidos nisso pelo que me pareceram horas: eu aparecia numa ponta do túnel, você engatinhava até lá, eu corria pra outra, você vinha de novo.
Quando me dei conta – não vou dizer que meus problemas tivessem sumido, que a tristeza houvesse passado, mas… –, eu estava, como diria o poeta, comovido como o diabo.
De noite, deitado na cama, eu me consolaria: esse mundo é uma tragédia, mas eu tenho um filho que põe sorrisos no rosto de quem passa e que, com algumas gargalhadas, reconforta o meu coração. Enquanto isso, no quarto ao lado, você estaria se perguntando: “O cara sumia de um lado, aparecia do outro, como será que ele faz? É truque? É mágica?”. Depois dormiríamos, acreditando que tudo iria ficar bem.
(Antonio Prata. www.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2016/04/1759346-
-carta-pro-daniel.shtml, 10.04.2016. Adaptado)
Atendendo às regras de regência, a forma verbal desdenha em – … É uma história simples, feita de elementos simples como é feita a maior parte da vida da gente, esses 99% de que a gente desdenha, sempre esperando por acontecimentos extraordinários. (2º parágrafo) – pode ser substituída, sem que qualquer outra alteração seja feita nesse trecho, por: