No segmento Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar...
A questão abaixo refere-se ao texto seguinte.
Juventude e história
Eric Hobsbawm (1917-2012) foi um dos maiores historiadores da era moderna. Longevo, viveu como também sua praticamente toda a história do século XX. É dele este importante fragmento, que vale como uma advertência:
“A destruição do passado − ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas − é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio.”
(Adaptado de: Era dos extremos − O breve século XX. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 13.)
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Gabarito comentado
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Para
resolver uma questão em que um fragmento com pronome relativo deve ser
substituído por outro que também tenha esse pronome, você precisa saber que:
1)
Os pronomes relativos são introdutores
das orações subordinadas adjetivas: eles têm a
função de retomar um termo antecedente da oração principal para que a oração
adjetiva o caracterize. Entre os relativos (QUE, QUEM, QUANTO, ONDE, O QUAL, A
QUAL, CUJO, CUJA), o pronome CUJO é o único que estabelece ideia de posse ou
pertencimento. Por essa razão, estruturalmente, deve ser antecedido pelo nome
associado à deia de posse/pertencimento e seguido por outro nome, o que
sinaliza o objeto possuído ou pertencido. Na prática, para saber se essa
relação e, consequentemente, o uso do CUJO estão corretos, devemos “ler de trás
para frente", partindo do termo posposto ao pronome. Se na leitura “aparecer" a
preposição DE, que indica a noção de posse/pertencimento, o emprego do CUJO
está certo. Vejamos o exemplo presente no fragmento do enunciado:
“Por isso os historiadores, cujo ofício (...)" ---- Lendo de trás para frente: Ofício DOS
historiadores.
Como o ofício é pertencente aos historiadores, sabemos que,
na reescrita dessa oração, deve prevalecer esse sentido, seja pela presença do
CUJO, seja pela presença de outras palavras que possam expressar esse sentido.
Assim, entre as opções da questão em análise, “lendo de trás para frente", em
todas o sentido de posse/pertencimento é mantido, inclusive nas orações não
introduzidas por CUJO. Isso porque, na letra C, o pronome QUE está seguido do
verbo TER, que expressa esse sentido e, na letra D, o pronome QUEM remete à
noção antecedente de pessoas (“historiadores), que têm o “papel" de fazer
lembrar o passado. Mas, qual seria então, nesta questão, o critério fundamental
para eliminar as opções incorretas rapidamente? Vejamos o próximo item
necessário à resolução desta questão.
2)
A preposição pode
fazer parte do uso do pronome relativo: existe uma regra de escrita formal da Língua
Portuguesa própria para as orações adjetivas. Segundo ela, devemos identificar
se o verbo da oração adjetiva “pede" preposição. Caso isso aconteça, esta deve
se posicionar na frente do pronome relativo. Assim acontece em exemplos
ilustrativos como estes:
o livro [DE que gosto] não está à venda/ o documento [A que acessei] não está mais na validade.
Oração adjetiva Oração adjetiva
Por outro lado, em construções mais complexas, uma oração adjetiva pode também estar ligada a outras orações subordinadas. Nesse caso, a oração adjetiva, se serve de base para a existência de outras orações, funciona como ORAÇÃO PRINCIPAL destas. Quando isso acontece, a preposição “pedida" pelo verbo da oração que é, ao mesmo tempo, adjetiva e principal, serve à oração que a ela se subordina, ou seja, a preposição conecta-se não mais ao pronome relativo, e sim à oração subordinada que vem depois da “oração adjetiva com função de principal". Vejamos o exemplo da letra A, para melhores esclarecimentos:
- A) [de cuja missão propõe-se] [A lembrar o] [que é esquecido].
Oração
adjetiva e, também, principal da segunda oração.
No período da letra A, temos três orações: a primeira é uma subordinada adjetiva em relação à que a antecede no texto, mas como “serve de base" para a existência da segunda, será a principal desta. Note que o verbo da oração 1, “propor-se", de fato, pede preposição, mas não é DE, como se sugere letra A, nem muito menos esta deverá se posicionar na frente do pronome cujo, pois ela acumula a função de oração principal da oração 2. Acontecendo isso, a preposição “pedida" pelo seu verbo introduz a oração que está a ela subordinada, ou seja, a oração que vem em seguida: “A lembrar o
(= aquele)". Logo, a letra A está errada, visto que não existe a preposição DE antes de CUJA, somente A antes do verbo da segunda oração, como se escreve. Porém, a presença da preposição DE já invalida a letra A como resposta da questão.
Com base na
orientação anterior, para eliminar rapidamente as opções incorretas, devemos
verificar se as orações adjetivas também “servem de base" às orações que estão
depois delas. Em caso afirmativo, não deverá haver preposição na frente do seu
pronome relativo. Façamos esse exercício, sabendo que a letra A já está
desconsiderada. Retomemos as opções:
A) de cuja missão propõe-se a lembrar o que é esquecido.
ERRADA.
Como já comentamos, a preposição DE não deveria estar na frente do pronome relativo. Reescrevendo corretamente, teríamos: cuja missão propõe-se a lembrar o que é esquecido.
B) em cujo mister consta o de lembrar o
esquecido.
ERRADA.
Segmentando o período em orações, verificamos que a oração subordinada adjetiva também funciona como principal da oração seguinte:
[em cujo mister consta o (= aquele)] [de lembrar o esquecido]
Logo, a preposição EM não deveria estar na frente do pronome relativo. Note, ainda, que o verbo “constar" apresenta como complemento, um “o", que é pronome demonstrativo (= aquele), estando a preposição que introduz a próxima oração deste período – “de lembrar o esquecido" – conectada ao “o", complemento de constar, e não a esse verbo. Reescrevendo o período corretamente, teríamos: cujo mister consta o de lembrar o esquecido.
C) que têm por propósito reavivar o que é
esquecido.
CORRETA.
Apesar de a oração subordinada adjetiva deste exemplo não ser introduzida pelo pronome CUJO e variações, a ideia de posse/ pertencimento é expressa pelo verbo TER, tal como já comentamos no texto que antecede o comentário das opções. Ressalta-se, ainda, que esse verbo se apresenta escrito corretamente, com acento circunflexo sinalizando o plural, já que retoma o antecedente “historiadores", que também está no plural. Segmentando o período da letra C em orações, verificamos que, mais uma vez, a adjetiva também é principal da segunda oração, logo, de fato, não deve haver preposição na frente do pronome relativo QUE:
[que têm por propósito] [reavivar o que é esquecido].
Além disso, o verbo TER junto a “por propósito" forma uma expressão que pede complemento sem preposição, pois quem tem por propósito “tem por propósito algo". Isso justifica, inclusive, a ausência de preposição na segunda oração. A letra C, portanto, está correta.
D) de quem o papel é rever o passado esquecido.
[de quem o papel é] [rever o passado esquecido]
ERRADA.
Mais um caso de oração adjetiva funcionando como principal da oração seguinte, então não deve haver preposição antes do pronome relativo. Isso contradiz outra regra da gramática, segundo a qual o pronome relativo QUEM, quando não for sujeito do verbo, sempre será seguido de preposição, para estabelecer melhor coesão ao período. Desse modo, para reescrever corretamente, deveríamos substituir o pronome QUEM por outro. Como se deve manter a ideia de posse/pertencimento, o correto será a substituição por CUJO: cujo papel é rever o passado.
E) a cuja responsabilidade está em lembrar o
esquecido.
[a cuja responsabilidade está] [em lembrar o esquecido]
A oração
“em lembrar o esquecido" é introduzida pela preposição EM, pois, como sabemos,
ela se conecta ao verbo ESTAR que integra uma oração adjetiva que acumula
função de oração principal. Por essa razão, não deveria haver a preposição A
antes de cujo, para que o período fosse escrito corretamente: cuja
responsabilidade está em lembrar o esquecido.
Resposta: C
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Comentários
Veja os comentários dos nossos alunos
GAB:C
O pronome relativo cujo transmite valor de posse.
Posiciona-se entre substantivos, fazendo subentender a preposição “de” (valor de posse).
* Ao se ler “cujo”, entende-se “de” + substantivo anterior.
Na alt. A não faz sentido por a preposição "de" antes do cujo se ele já tem essa preposição subentendida.
Na Alt. B não cabe a preposição "em" pois ela é exigida quando há adj.adv. de lugar.(Não é o caso da frase em questão.)
Na Alt. D o "de quem" esta errado, uma vez que, o suj. é OS HISTORIADORES, no plural.
O cujo nunca vem precedido ou seguido de artigo, é por isso que não há crase antes dele. ERRO da alt. E
o cujo pode vir precedido de artigo sim, não pode é após ele. exemplo: Aquela é a empresa a cuja diretora me refiro (quem se refere, refere-se a).
Jakson Oliveira,
No seu exemplo, o "a" não é um artigo, é uma preposição.
O "cujo", corrijam-me se eu estiver errado, nunca vem precedido de crase! Quanto a vir precedido por "em";"de" ou "a" isso dependerá da regência do verbo que está seguinte a ele.
Daniele, o cujo pode estar precidido de preposição - o "a" pode vim como preposição e não artigo... Não pode vim artigo depois do cujo (ex: Cujo o/ cujo a)!!
mas pode ser: em cujo, a cujo...
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