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Q433478 Português
                                  Rico ou pobre? 

     Diz-se do Brasil que é país rico quando cobra impostos, mas  pobre na qualidade dos serviços oferecidos pelos governos à  população. De cada R$ 100,00 da renda nacional, o Estado  brasileiro arrecada R$ 37,00. Somos tão “ricos” quanto o Reino  Unido nesse quesito. 
 
     O Brasil é apenas remediado, no entanto, na forma de cobrar  os impostos. Ao taxar renda, lucros e ganhos de capital, obtém  R$ 7,00 de cada centena de reais da renda nacional. Os britânicos  arrecadam R$ 13,00. 

     Um meio de fazer justiça social é favorecer esse tipo de  imposto, porque abate diretamente os ganhos de pessoas e  empresas. Tanto melhor se o fisco taxar proporcionalmente mais  a quem ganha mais.

     Deveríamos ampliar a fatia dos impostos diretos sobre a  renda no bolo da arrecadação, além de tornar a sua aplicação  mais proporcional aos ganhos. A esquerda acerta no mérito desse  debate, embora escorregue com frequência na aritmética e  exagere no alcance da medida. 

     Taxar tanto e taxar bem são objetivos incompatíveis num país  tão desigual como o Brasil. A elite é pequena para entregar aos  governos R$ 2 trilhões anuais – os PIB's somados de Argentina e  Colômbia-, necessários para as despesas públicas. 

     Recursos nesse volume apenas se conseguem pela taxação,  em larga escala e indireta, da maioria mal remediada da  população. O vetor redistributivo no Brasil, portanto, repousa  bem mais na calibragem do gasto público que na da tributação.

     O país tem canalizado parte vultosa desses gastos  distributivos para idosos e pensionistas. O Estado despende  R$ 12,00, de cada R$ 100,00 da renda nacional, com beneficiários  da Previdência e dos sistemas de pensão de servidores públicos. 

     Chegou a hora de repactuar essa divisão em benefício dos  mais jovens, por meio do aumento privilegiado da despesa  pública na educação. Para tanto, a fatia do gasto previdenciário  precisa recuar.
 
                                                                                                   (Vinicius Mota, Folha de São Paulo)
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