“Outro dia estava terminando de escrever um texto e não con...
TEXTO I
CONVERSAS ILUMINADAS
Tem coisa mais xarope do que faltar luz? Outro dia estava terminando de escrever um texto e não consegui concluí-lo: o céu enegreceu, trovões começaram a espocar e foi-se a energia da casa. Eram 15h10 da tarde. A luz só voltou às 20h. Fiquei com aquele pedação de dia sem poder trabalhar. Então bati à porta do quarto da minha filha e percebi que ela também estava à toa, sem conseguir desfrutar da companhia inseparável do seu laptop. Ficamos as duas ali nos queixando do desperdício de tempo, até que nos jogamos em sua cama e começamos a conversar. Que jeito.
Conversamos sobre os sonhos que ela tem para o futuro, e eu contei os que eu tinha na idade dela, e de como a vida me surpreendeu desde lá até aqui. E ela me divertiu com umas ideias absurdas que só podiam mesmo sair de sua cabeça inventiva, e eu ri tanto que ela se contagiou e riu muito também de si mesma. Então ela me falou sobre uma peça de teatro que foi assistir quando eu estive viajando, e ela disse que eu teria adorado, e combinamos de ir juntas na próxima vez que o ator voltar a Porto Alegre.
Aí eu contei o que fiz durante essa viagem que me impediu de estar com ela no teatro, e vimos as fotos juntas. Então foi a vez de ela me apresentar o novo disco da Lady Gaga (pelo celular), e ela me convenceu de que existe muito preconceito com essa cantora que, em sua opinião, é revolucionária, e eu escutei umas sete músicas e não gostei tanto assim, mas reconheci ali um talento que eu estava mesmo desprezando. Então foi minha vez de tocar pra ela uma música que eu adoro e ela fez uma careta, e concluí que a careta era eu. E rimos de novo, e conversamos mais um tanto, e então fomos para a cozinha comer um resto de salada de fruta que estava a ponto de estragar naquela geladeira sem vida, já que a luz ainda não havia voltado.
Será que não havia voltado mesmo? Engraçado, fazia tempo que não passava uma tarde tão luminosa.
Quando por fim a luz voltou, voltei também eu para o computador, e voltou minha filha para seu Facebook, e só o que se escutava pela casa era o barulho das teclas escrevendo para seres invisíveis – falávamos com quem? Com o universo alheio.
E tive então um insight: tem, sim, coisa mais xarope do que faltar luz. É ficarmos reféns da tecnologia, deixando de conversar com quem está ao nosso lado. Se é preciso que a energia elétrica seja cortada para resgatar a energia humana, que seja, então. Não em hospitais, não em escolas, mas dentro de casa, uma horinha por semana: não haveria de causar um estrago tão grande. Se acontecer de novo, prometo não reclamar para a CEEE, desde que não demore tanto para voltar a ponto de estragar os alimentos na geladeira e que seja suficiente para me alimentar da clarividência e brilho de um bom papo.
MARTHA MEDEIROS
Disponível em http://avaranda.blogspot.com/2013/12/conversas-iluminadas-martha-medeiros.html. Acesso em 14/10/2018.
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Gabarito comentado
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Alternativa correta: A - Introduzir uma explicação.
A questão aborda a função dos sinais de pontuação, no caso específico, os dois pontos (:) no texto da autora Martha Medeiros. Para resolver essa questão, é necessário compreender como os sinais de pontuação são utilizados para estruturar as informações e clarificar o sentido das frases.
Justificativa da alternativa correta:
No período destacado do texto ("Outro dia estava terminando de escrever um texto e não consegui concluí-lo: o céu enegreceu, trovões começaram a espocar e foi-se a energia da casa"), o uso dos dois pontos introduz uma explicação sobre por que a autora não conseguiu concluir seu texto. Após os dois pontos, a autora fornece detalhes que justificam a interrupção do seu trabalho, ou seja, ela explica o motivo: o céu escureceu, houve trovões, e a energia acabou.
Análise das alternativas incorretas:
B - Introduzir uma opinião: A função dos dois pontos não é introduzir uma opinião, mas sim uma explicação. A opinião envolve um juízo de valor, enquanto a explicação visa esclarecer um fato ou acontecimento.
C - Apresentar suposições: Os dois pontos não introduzem suposições. Suposições são hipóteses ou conjecturas, enquanto a explicação fornecida após os dois pontos é um relato de eventos concretos e específicos.
D - Questionar acontecimentos: A função dos dois pontos também não é questionar acontecimentos. Questionar envolve levantar dúvidas ou indagações, mas no contexto dado, os dois pontos servem para introduzir uma explicação sobre o ocorrido.
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Comentários
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Uma dica
Troque dois-pontos por ou seja, se a frase fizer sentido é explicação :)
Dois pontos:
Não confunda explicação X explicitação X exemplificação:
A explicação é a ação de fazer entender algo já apresentado;
A explicitação é a ação de revelar algo, torná-lo conhecido; de fazer com que se torne explícito, claro, evidente, preciso; clarificação: o advogado procedeu a explicitação do caso ao júri.
A exemplificação é a ação de ilustrar, representar, elucidar exemplos ou confirmar aquilo de que se está falando.
Pois
quando for possível trocar pelo "pois" ou "que" é explicativo.
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