“Não consegue. Ela não fala francês, língua oficial do país”...
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Ano: 2022
Banca:
SELECON
Órgão:
Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT
Prova:
SELECON - 2022 - Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT - Professor II - Língua Portuguesa |
Q1948929
Português
Texto associado
A língua como direito humano
Deu na tevê. Uma haitiana gesticula desesperada. Não chora.
Talvez tenha gastado as lágrimas. Ou o corpo, desidratado, não
pudesse desperdiçar uma gota de líquido sequer. O soldado tenta
entendê-la. Não consegue. Ela não fala francês, língua oficial do
país. Fala dialeto próprio, incomunicável. Compadecido, o
homem se esforça pra interpretar o código estranho. Infere que
ela quer lhe dizer onde estão corpos soterrados. Provavelmente
mãe, marido, filhos dela.
Tivesse ocorrido antes da divulgação do decreto brasileiro sobre
direitos humanos, a cena inspiraria a inclusão de outro assunto.
Trata-se da língua. Ela figuraria ao lado da salvaguarda à vida, à
educação, à segurança, ao trabalho. A razão é simples. Se
considerarmos direito humano a garantia de vida digna
independentemente de raça, sexo, idade ou religião, a língua não
pode ficar de fora. É com ela que pensamos. É com ela que nos
tornamos seres sociais sofisticados — conquistamos amigos,
educamos os filhos.
Povos e governantes lhe conhecem o poder. Os árabes só são
árabes porque falam árabe. São 23 países cuja única identidade
é o idioma. O generalíssimo Franco, pra pisar o orgulho catalão,
proibiu-os de falar catalão. As escolas também apagaram o
idioma dos currículos. Morto o ditador, o enterrado voltou à luz.
Hoje convive com o espanhol. Os judeus, quando criaram o
Estado de Israel, precisaram de uma língua nacional.
Ressuscitaram o hebraico. Nome de ruas, placas, cardápios,
livros, revistas, jornais são escritos como nos tempos idos e
vividos.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos completou 60
anos. Entre os 30 mandamentos, está a manifestação livre do
pensamento. Como chegar lá sem o domínio da língua? Como
pensar sem palavras? Como expressar-se sem elas? Conclusão:
se o homem é animal racional, a língua faz a diferença. Se o
homem é animal social, a língua antecede os demais direitos.
DAD SQUARISI
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“Não consegue. Ela não fala francês, língua oficial do país”
(1º parágrafo). A segunda frase indica, no trecho, uma: