No primeiro parágrafo, ao mencionar a expressão “ironia fúne...
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Ano: 2014
Banca:
FUNCAB
Órgão:
SEDS-TO
Provas:
FUNCAB - 2014 - SEDS-TO - Assistente Socioeducativo - Técnico em Enfermagem
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FUNCAB - 2014 - SEDS-TO - Assistente Socioeducativo - Motorista |
FUNCAB - 2014 - SEDS-TO - Técnico Socioeducador - Masculino e Feminino |
FUNCAB - 2014 - SEDS-TO - Técnico em Defesa Social - Masculino e Feminino |
Q466590
Português
Texto associado
Texto 1:
O campeonato dos defuntos
Estranho caso, esse, de que vema notícia em um telegrama do Pará. Estranho e macabro. Estranho e terrível na sua ironia fúnebre. Mas profundamente humano na sua verdade. Os dentes à mostra, as tíbias cruzadas por baixo da caveira, a Morte também se diverte. E como é contemporânea de todos os povos, e se associa aos prazeres de todas as gentes, ei-la esportiva, promovendo, diante de uma cidade morta, entre as palmas e as aclamações dos vivos, uma regata com um páreo único, disputado por defuntos. À margem do Tocantins, morimbunda, ou morta, e meio devorada pelas águas do seu rio, dorme Cametá, a velha cidade histórica. Decadente no seu comércio e nas suas letras, com os seus casarões e os seus templos de quase três séculos, que lembram jesuí tas e capi tães-mores, abandonaram-na os compradores da sua borracha, da sua castanha, dos seus peixes saborosos. Só o seu cemitério permanece o mesmo. Levaram-lhe tudo, menos os defuntos. E é assim que, de todos os povoados que lhe ficam próximos, e de todos os pequenos rios que, cinco léguas acima ou cinco léguas abaixo, deságuam no Tocantins, descem ou sobemcanoas conduzindo cadáveres para a fome da sua necrópole. Solidários no silêncio final e eterno, os mortos continuam procurando o repouso na quietude da terramorta. O campeonato dos defuntos.
À margem do Tocantins, morimbunda, ou morta, e meio devorada pelas águas do seu rio, dorme Cametá, a velha cidade histórica. Decadente no seu comércio e nas suas letras, com os seus casarões e os seus templos de quase três séculos, que lembram jesuí tas e capi tães-mores, abandonaram-na os compradores da sua borracha, da sua castanha, dos seus peixes saborosos. Só o seu cemitério permanece o mesmo. Levaram-lhe tudo, menos os defuntos. E é assim que, de todos os povoados que lhe ficam próximos, e de todos os pequenos rios que, cinco léguas acima ou cinco léguas abaixo, deságuam no Tocantins, descem ou sobemcanoas conduzindo cadáveres para a fome da sua necrópole. Solidários no silêncio final e eterno, os mortos continuam procurando o repouso na quietude da terra morta.
[...]
(CAMPOS, H. O campeonato dos defuntos. In: WERNECK, H. (Org.). Crônicas. São Paulo:Companhia das Letras, 2005.)
O campeonato dos defuntos
Estranho caso, esse, de que vema notícia em um telegrama do Pará. Estranho e macabro. Estranho e terrível na sua ironia fúnebre. Mas profundamente humano na sua verdade. Os dentes à mostra, as tíbias cruzadas por baixo da caveira, a Morte também se diverte. E como é contemporânea de todos os povos, e se associa aos prazeres de todas as gentes, ei-la esportiva, promovendo, diante de uma cidade morta, entre as palmas e as aclamações dos vivos, uma regata com um páreo único, disputado por defuntos. À margem do Tocantins, morimbunda, ou morta, e meio devorada pelas águas do seu rio, dorme Cametá, a velha cidade histórica. Decadente no seu comércio e nas suas letras, com os seus casarões e os seus templos de quase três séculos, que lembram jesuí tas e capi tães-mores, abandonaram-na os compradores da sua borracha, da sua castanha, dos seus peixes saborosos. Só o seu cemitério permanece o mesmo. Levaram-lhe tudo, menos os defuntos. E é assim que, de todos os povoados que lhe ficam próximos, e de todos os pequenos rios que, cinco léguas acima ou cinco léguas abaixo, deságuam no Tocantins, descem ou sobemcanoas conduzindo cadáveres para a fome da sua necrópole. Solidários no silêncio final e eterno, os mortos continuam procurando o repouso na quietude da terramorta. O campeonato dos defuntos.
À margem do Tocantins, morimbunda, ou morta, e meio devorada pelas águas do seu rio, dorme Cametá, a velha cidade histórica. Decadente no seu comércio e nas suas letras, com os seus casarões e os seus templos de quase três séculos, que lembram jesuí tas e capi tães-mores, abandonaram-na os compradores da sua borracha, da sua castanha, dos seus peixes saborosos. Só o seu cemitério permanece o mesmo. Levaram-lhe tudo, menos os defuntos. E é assim que, de todos os povoados que lhe ficam próximos, e de todos os pequenos rios que, cinco léguas acima ou cinco léguas abaixo, deságuam no Tocantins, descem ou sobemcanoas conduzindo cadáveres para a fome da sua necrópole. Solidários no silêncio final e eterno, os mortos continuam procurando o repouso na quietude da terra morta.
[...]
(CAMPOS, H. O campeonato dos defuntos. In: WERNECK, H. (Org.). Crônicas. São Paulo:Companhia das Letras, 2005.)
No primeiro parágrafo, ao mencionar a expressão “ironia fúnebre”, o autor se refere ao fato de: