De acordo com as ideias apresentadas no 5º§ do texto, podem...
Tempo incerto
Os homens têm complicado tanto o mecanismo da vida que já ninguém tem certeza de nada: para se fazer alguma coisa é preciso aliar a um impulso de aventura grandes sombras de dúvida. Não se acredita mais nem na existência de gente honesta; e os bons têm medo de exercitarem sua bondade, para não serem tratados de hipócritas ou de ingênuos.
Chegamos a um ponto em que a virtude é ridícula e os mais vis sentimentos se mascaram de grandiosidade, simpatia, benevolência. A observação do presente leva-nos até a descer dos exemplos do passado: os varões ilustres de outras eras terão sido realmente ilustres? Ou a História nos está contando as coisas ao contrário, pagando com dinheiro dos testamentos a opinião dos escribas?
Se prestarmos atenção ao que nos dizem sobre as coisas que nós mesmos presenciamos – ou temos que aceitar a mentira como a arte mais desenvolvida do nosso tempo, ou desconfiaremos do nosso próprio testemunho, e acabamos no hospício!
Pois assim é, meus senhores! Prestai atenção às coisas que vos contam, em família, na rua, nos cafés, em várias letras de forma, e dizei-me se não estão incertos os tempos e se não devemos todos andar de pulga atrás da orelha!
A minha esperança estava no fim do mundo, com anjos descendo do céu; anjos suaves e anjos terríveis; os suaves para conduzirem os que se sentarão à direita de Deus, e os terríveis para os que se dirigem ao lado oposto. Mas até o fim do mundo falhou; até os profetas se enganam, a menos que as rezas dos justos tenham podido adiar a catástrofe que, afinal, seria também uma apoteose. E assim continuaremos a quebrar a cabeça com estes enigmas cotidianos. Mas agora, além dos criados, pensam os patrões, as patroas, os amigos e inimigos de uns e de outros e todo o resto da massa humana. E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem que pensam, pensam que têm razão! E cada um é o detentor exclusivo da razão!
Os pedestres pensam que devem andar pelo meio da rua. Os motoristas pensam que devem pôr os veículos nas calçadas. Até os bondes, que mereciam a minha confiança, deram para sair dos trilhos. Os analfabetos, que deviam aprender, ensinam! Os ladrões vestem-se de policiais, e saem por aí a prender os inocentes! Os revólveres, que eram considerados armas perigosas, e para os quais se olhava à distância, como quem contempla a Revolução Francesa ou a Guerra do Paraguai – pois os revólveres andam agora em todos os bolsos, como troco miúdo. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não é para o diálogo com ou sem palavras, mas para balas de diversos calibres. Perto disso, a carestia da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é a alma. E o Demônio passeia pelo mundo, glorioso e impune.
(MEIRELES, Cecília, 1901-1964. Escolha o seu sonho: Crônicas – 26ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. Com adaptações.)
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Vamos analisar a questão proposta, que envolve a interpretação de texto. O trecho em questão é o 5º parágrafo do texto da crônica de Cecília Meireles.
Para responder corretamente, é essencial compreender o que a autora expressa nesse parágrafo. A autora menciona que, apesar de suas esperanças no "fim do mundo" com um desfecho claro entre os justos e os injustos, até isso falhou. Ela sugere que os problemas atuais, cheios de incertezas e confusão, continuarão existindo.
Agora, vejamos cada alternativa:
A - Tem esperança em um breve juízo final. Essa alternativa está incorreta porque, apesar de inicialmente mencionar o "fim do mundo", a autora expressa no decorrer do texto que até essa esperança falhou, indicando incerteza e continuação dos problemas.
B - Profetiza várias catástrofes para o homem. Esta opção está incorreta porque a autora não faz previsões específicas de catástrofes, mas fala sobre a desordem e a confusão moral e social que percebe no presente.
C - Acredita no pensamento racional da massa humana. Esta alternativa também está incorreta. Pelo contrário, a autora critica a confusão e a falta de clareza no pensamento das pessoas, que acreditam ter razão, mas vivem em um mundo de incertezas.
D - Admite que os problemas abordados continuarão existindo. Esta é a alternativa correta. No trecho, a autora admite que, apesar de suas esperanças, os problemas não parecem ter solução e continuarão a existir, mantendo a sociedade em um estado de incerteza e desconfiança.
Para resolver questões de interpretação de texto como essa, é importante prestar atenção às ideias principais e ao tom do autor, que pode fornecer pistas sobre a intenção e a mensagem do texto.
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Comentários
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.....E assim continuaremos a quebrar a cabeça com estes enigmas cotidianos.....
Gabarito correto: D
Nos trechos do 5º parágrafo abaixo fica claro que a autora tinha uma expectativa que foi frustrada e que os problemas que ela esperava que fossem solucionados continuarão a existir:
"A minha esperança estava no fim do mundo (...)"; "Mas até o fim do mundo falhou (...)"; "E assim continuaremos a quebrar a cabeça com estes enigmas cotidianos (...)"
nível fundamental….
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