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A Copa do despertar feminista de Marta: “O futebol feminino depende de vocês para sobreviver”


BREILLER PIRES -

São Paulo 24 JUN 2019 - 00:56 BRT


1 Quando marcou o gol de pênalti contra

2 a Austrália, no segundo jogo da seleção pela

3 Copa feminina, Marta chamou a atenção do

4 mundo para uma causa que abraçou como

5 sua. Na comemoração, apontou para as

6 chuteiras personalizadas com um símbolo pela

7 igualdade de gênero no esporte. Aos 33 anos,

8 seis vezes eleita como a melhor jogadora do

9 planeta, a craque brasileira se engaja como

10 nunca para deixar um legado para as

11 mulheres no futebol que extrapole seus

12 recordes e conquistas individuais. “Não gosto

13 de falar, gosto de mostrar”, disse a camisa 10

14 do Brasil após o gesto diante das australianas.

15 Já o desabafo logo em seguida à eliminação

16 para a França, nas oitavas de final, soou como

17 uma convocação inspiradora para que as

18 jovens atletas se dediquem a cuidar da

19 semente que ela ajudou a plantar: “Não vai

20 ter uma Marta para sempre, uma Cristiane,

21 uma Formiga. E o futebol feminino depende

22 de vocês para sobreviver”. “Chore no começo

23 para sorrir no fim”, concluiu.

24 Marta jamais havia se apresentado

25 como feminista nem aderido de forma tão

26 contundente a pautas do movimento. Mas não

27 era difícil ecoá-lo sendo dona de uma

28 trajetória que espelha as desigualdades

29 enfrentadas pela mulher, inclusive no esporte.

30 Foi criada apenas pela mãe, depois que o pai

31 abandonou a casa da família quando ela tinha

32 um ano, e impedida de jogar futebol em sua

33 cidade, no sertão de Alagoas. Seu primeiro

34 salário na Europa era equivalente a 3.000

35 reais e até hoje, mesmo consagrada, ainda

36 está muito distante de receber as milionárias

37 cifras embolsadas pelos grandes craques do

38 masculino. Chegou ao Mundial da França, o

39 mais visto da história, sem nenhum contrato

40 fixo de patrocínio, depois de recusar propostas

41 que lhe ofereciam menos da metade do que já

42 chegou a ganhar em outras temporadas.

43 A mudança de postura, que antes se

44 concentrava mais no desempenho esportivo

45 em detrimento dos discursos, coincide com a

46 nomeação da atacante como embaixadora da

47 ONU Mulheres, no ano passado. “Marta é um

48 modelo excepcional para mulheres e meninas

49 em todo o mundo. Sua própria experiência de

50 vida conta uma história poderosa do que pode

51 ser alcançado com determinação, talento e

52 coragem”, afirmou Phumzile Mlambo-Ngcuka,

53 diretora-executiva da organização das Nações

54 Unidas, que tem utilizado a imagem da atleta

55 para promover campanhas contra o sexismo e

56 a discriminação de gênero.

57 Em março, ao participar de um evento

58 na sede da ONU, em Nova York, Marta

59 emocionou a plateia ao contar sobre os

60 desafios que precisou superar para se tornar

61 uma jogadora profissional. “O preconceito e a

62 falta de oportunidades já me doeram ao longo

63 do meu caminho. Doeu quando meninos não

64 me deixaram jogar. Doeu quando treinadores

65 me tiravam dos campeonatos porque eu era

66 apenas uma menina. Mas minha certeza de

67 onde eu iria chegar nunca me deixou desistir”,

68 discursou antes de ser aplaudida de pé. A

69 ONU Mulheres trabalha com a meta de

70 alcançar a igualdade de gênero em escala

71 global até 2030 e bate na tecla da equidade

72 salarial reivindicada pelas mulheres no

73 futebol.

74 Uma das inspirações de Marta, que

75 atua no Orlando Pride dos Estados Unidos,

76 onde está desde 2017, é o movimento

77 de jogadoras da seleção norte-americana, que

78 entrou com ação coletiva contra a federação

79 local por discriminação de gênero

80 institucionalizada. Apesar de gerarem maior

81 receita de bilheteria que a seleção masculina,

82 elas alegam disparidade de remuneração e

83 premiações em relação aos homens, que

84 recebem cerca de cinco vezes mais para

85 defender o país. Mesmo sabendo da realidade

86 diferente amargada pelo futebol feminino no

87 Brasil, em que a maioria das jogadoras nem

88 sequer tem carteira assinada, Marta aproveita

89 a onda de protestos para cobrar

90 patrocinadores por equiparação.

91 Neste campo dos patrocínios, ela

92 começa a se movimentar e querer desfrutar,

93 inclusive financeiramente, do status de

94 influenciadora. No último jogo do Brasil na

95 fase de grupos, ela entrou em campo com um

96 indefectível batom de cor “sangria”, uma

97 ação, ela disse quando perguntada, para a

98 marca Avon — neste domingo, escolheu um

99 vermelho fechado. A repercussão em várias

100 páginas e publicações reforça o apelo

101 midiático da craque como uma personalidade

102 capaz de estender sua bandeira em outros

103 campos. Já foi destaque no jornal The New

104 York Times e na revista de moda Vogue Brasil,

105 que estampa a jogadora na capa de sua

106 edição de julho com a chamada “A vez de

107 Marta”. A publicação ressalta que

108 a importância da jogadora não está

109 condicionada ao resultado no Mundial, como

110 explica a editora-chefe Paula Merlo. “A taça é

111 um mero detalhe para o quão longe ela

112 chegou e para tudo o que representa para

113 esta e para as próximas gerações”.

114 Desde que se tornou a grande

115 referência da modalidade, Marta vem sendo

116 cobrada por assumir posicionamentos mais

117 incisivos pela valorização das mulheres no

118 futebol.

119 Embaixadora da causa pelo

120 empoderamento das mulheres e também do

121 futebol feminino no Brasil, Marta mostrou,

122 pelo menos em seus pronunciamentos e

123 atitudes nesta Copa do Mundo, que se

124 convenceu da importância de marcar posição

125 além do gramado. Depois de bater o recorde

126 no Mundial, contra a Itália, se convertendo na

127 maior artilheira de todos os tempos do

128 torneio, com 17 gols, ela dedicou o feito a

129 todas as atletas. “Hoje temos uma mulher

130 como a maior goleadora das Copas. Esse

131 recorde não representa só a jogadora Marta,

132 mas todas as mulheres num esporte

133 ainda visto por muitos como masculino”,

134 disse, olhando para várias câmeras,

135 reafirmando ainda o compromisso de defender

136 os direitos das que se inspiram em seu

137 exemplo fora do esporte. “Eu divido com

138 vocês que lutam e batalham em todos os

139 setores e ainda têm de provar que são

140 capazes de desempenhar qualquer tipo de

141 atividade. É nosso!”

A opção que apresenta a correta função sintática do que grifado como Sujeito é

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