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Ano: 2021
Banca:
VUNESP
Órgão:
Prefeitura de Jaguariúna - SP
Provas:
VUNESP - 2021 - Prefeitura de Jaguariúna - SP - Dentista - Clínico Geral ou Generalista
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VUNESP - 2021 - Prefeitura de Jaguariúna - SP - Engenheiro de Segurança do Trabalho |
Q1836342
Português
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Leia o texto, para responder à questão.
A psicanalista Maria Homem diz que o ressentimento é a
palavra-chave para ousar compreender o mundo hoje. Luiz
Filipe Pondé acredita que o ressentimento faz de nós incapazes de ver algo simples: o universo é indiferente aos nossos
desejos; além de destruir em nós a capacidade de pensar e
compreender a realidade.
Ressentir-se significa atribuir ao outro a responsabilidade
pelo que nos faz sofrer. Como se a culpa do que não somos
ou não podemos ser fosse sempre do outro, esse bode expiatório que escolhemos quando não podemos nos haver com
nossos próprios limites. Ressentir-se é uma impossibilidade
de esquecer ou superar um agravo. Seria uma impossibilidade
ou uma recusa?
O ressentido não é alguém incapaz de perdoar ou esquecer, é alguém que não quer esquecer, não quer perdoar, nem
superar o mal que o vitimou. O filósofo Max Scheler classifica
como “auto envenenamento psicológico” o estado emocional
do ressentido, um ser introspectivo ocupado com ruminações
acusadoras e fantasias vingativas.
O ressentido é um escravo de sua impossibilidade de esquecer, vivendo em função de sua vingança adiada, de maneira que em sua vida não é possível abrir lugar para o novo;
trata-se de um vingativo passivo, e suas queixas contínuas
mobilizam, no outro, confusos sentimentos de culpa. Na verdade, ele acusa, mas não está seriamente interessado em ser
ressarcido do agravo que sofreu. No ressentido, permanece
uma dívida impagável, a compensação reivindicada é da ordem de uma vingança projetada no futuro. O ressentido é um
covarde, pois não concede a si mesmo os prazeres da vingança pelo exercício da ação. Esse desejo de vingança recusado
é o núcleo doentio do ressentimento nietzschiano. Uma vez
que não se permite reagir, só resta ao fraco ressentir.
Por não esquecer, o ressentido não consegue entregar-se ao fluxo da vida presente. A memória é como uma doença, o tempo não pode ser detido, a vontade não pode “querer
pra trás”, ou seja, corrigir o curso de suas escolhas passadas.
A solução para o ressentimento não é negá-lo, mas nomeá-lo, informar-se sobre ele, perceber que é impossível não
o ter em nós em alguma medida. “Conhece-te a ti mesmo”,
foi o conselho dado pelo sábio filósofo Sócrates, no século V
a.C. Quem sabe tenhamos a coragem e as ferramentas para
compreender essa emoção, e, com isso, podermos nos colocar além do ressentimento. Talvez possamos um dia transformar esse sentimento e, assim, criar um novo modo de estar
com o outro.
(Luciana Ribeiro Soubhia, Ressentimento.
Revista Bem-estar, 04-07-2021. Adaptado)
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