Leia o texto abaixo e responda à questão proposta.História d...

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Ano: 2008 Banca: FEC Órgão: Prefeitura de Aracaju - SE
Q1194223 Português
Leia o texto abaixo e responda à questão proposta.
História de um nome
No capítulo dos nomes difíceis têm acontecido coisas das mais pitorescas. Ou é um camarada chamado Mimoso, que tem físico de mastodonte, ou é um sujeito fraquinho e insignificante, chamado Hércules. Os nomes, difíceis, principalmente os nomes tirados de adjetivos condizentes com seus portadores, são raríssimos e é por isso que minha avó - a paterna - dizia:
- Gente honesta, se for homem, deve ser José, se for mulher deve ser Maria!
E verdade que Vovó não tinha nada contra os joões, paulos, mários, odetes e vá-lá - fidélis. Sua implicância era, sobretudo, com nomes inventados, comemorativos de um acontecimento qualquer, como era o caso, muito citado por ela, de uma tal Dona Holofotina, batizada no dia em que inauguraram a luz elétrica na rua em que a família morava.
Acrescente-se também que Vovô não mantinha relações com pessoas de nomes tirados metade da mãe e metade do pai. Jamais perdoou a um velho amigo seu - o “seu” Wagner - porque se casara com uma senhora chamada Emília, muito respeitável, aliás, mas que tivera o mau-gosto de convencer o marido a batizar o primeiro filho com o nome leguminoso de Wagem - “Wag” de Wagner e “em” de Emília. E verdade que a vagem comum, crua ou ensopada, será sempre com “v”, enquanto o filho de seu Wagner herdara o “W” do pai. Mas isso não tinha nenhuma importância: a consoante não era um detalhe bastante forte para impedir o risinho gozador de todos aqueles que eram apresentados ao menino Wagem.
Mas deixemos de lado as birras de minha avó - velhinha que Deus tenha em sua santa glória - e passemos ao estranho caso da família Veiga, que morava pertinho de nossa casa, em tempos idos.
“Seu” Veiga, amante de boa leitura e cuja cachaça era colecionar livros, embora colecionasse também filhos, talvez com a mesma paixão, levou sua mania ao extremo de batizar os rebentos com nomes que tivessem relação com livros. Assim o mais velho chamou-se Prefácio da Veiga; o segundo, Prólogo; o terceiro, Índice, e, sucessivamente, foram nascendo o Tomo, o Capítulo, e, por fim, Epílogo da Veiga, caçula do casal.
Lembro-me bem dos filhos de “Seu” Veiga, todos excelentes rapazes, principalmente o Capítulo, sujeito prendado na confecção de balões e papagaios. (...) Tomo era um bom extrema-direita e Prefácio pegou o vício do pai - vivia comprando livros. Era, aliás, o filho querido de “Seu” Veiga, pai extremoso, que não admitia piadas. Não tinha o menor senso de humor. Certa vez ficou mesmo de relações estremecidas com meu pai, por causa de uma brincadeira.
“Seu” Veiga ia passando pela nossa porta, levando a família para o banho de mar. Iam todos armados de barracas de praia, toalhas, etc. Papai estava na janela e, ao saudá-lo, fez a graça:
- Vai levar a biblioteca para o banho?
“Seu” Veiga ficou queimando durante muito tempo... 
PORTO, Sergio. A casa demolida. Rio de Janeiro: Editora do autor. [s.d.] 
As palavras “vício” e “Vovó” se acham corretamente acentuadas, devido às regras de acentuação também presentes em ambas as palavras abaixo: 
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