Brasília é fruto do apogeu do processo criativo de Niemeyer, aquele em que a
originalidade superou a teoria e os dogmas de uma escola arquitetônica, permitindo a ele
atingir o patamar de arte, com obras que vão ficar para sempre dialogando com as
gerações. Arte que faz sentir e faz pensar, que deixa uns perplexos e outros embriagados
de prazer estético, arte que produz no observador ansiedade, temor e hostilidade. A
Brasília de Niemeyer está longe de ser unanimidade, mas, como o autor de seus prédios,
não deixa ninguém indiferente. [...]
Como ocorreu em Brasília, a Pampulha fora encomendada do amigo e então
prefeito da capital mineira, Juscelino Kubitschek. O futuro presidente desenvolvimentista
encontrou seu arquiteto na Pampulha. Seu arquiteto encontrou na Pampulha um estilo.
Juntos, e depois na companhia do urbanista Lúcio Costa, estruturaram o modernismo
brasileiro, que romperia com o passado colonial e barroco do País. Eles desenharam não
apenas uma cidade, mas uma nação, resultado de uma aventura rumo ao centro-oeste
que exigiu uma visão de mundo corajosa e ousada, como a que levou o homem às
grandes navegações e à conquista do espaço.
A obra de Niemeyer foi idealizada para flutuar. Para vencer a gravidade, o
traço do arquiteto expresso em concreto conseguiu “traduzir em espaços a vontade de
uma época” na definição de seu colega alemão Mies van der Rohe. Niemeyer traduziu a
vontade de alguns brasileiros de fazer um país maior do que o Brasil. [...] Em Le
Corbusier, Niemeyer encontrou a interseção da política com a arquitetura. Corbusier
pregava a funcionalidade máxima: a forma deveria subordinar-se à função. A “Carta de
Atenas”, manifesto urbanístico redigido pelo franco-suíço em 1933, defendia uma cidade
funcional, na qual deveriam predominar a austeridade, a simplicidade, a lógica e a
separação dos espaços de trabalho e lazer. A contrapor-se à turma de Le Corbusier,
havia os organicistas do americano Frank Lloyd Wright, para os quais todo edifício, tal
qual um organismo vivo, embora funcional, precisa crescer a partir de seu meio, do que já
existe. Niemeyer, que na questão ideológica era discípulo do europeu, dizia que: “A vida
pode mudar a arquitetura. No dia em que o mundo for mais justo, ela será mais simples”.
Ele escapou de ser um mero seguidor da escola de Le Corbusier por acrescentar à
equação dele a beleza. A forma deveria, sim, servir à função desde que ambas criassem
beleza. [...] À retidão das linhas do mestre, o brasileiro agregou a curva, que deixava
loucos os calculistas escolhidos para enfrentar o desafio de construir a paradoxal leveza
feita de concreto e ferro. [...]
Uma geração de arquitetos que hoje dominam a cena internacional diz ter
bebido na fonte de Oscar Niemeyer. Muitos foram influenciados pela arquitetura que se
fez arte. Todos os edifícios de Niemeyer, os públicos e os residenciais, marcam as
cidades onde foram erguidos. De tão fortes seu esplendor e originalidade, as criações
arquitetônicas de Niemeyer teriam, na visão de muitos, tido um efeito congelante sobre a
arquitetura brasileira. Quem não podia ter um Niemeyer encomendava um sub-Niemeyer,
no tocante à sua exigência de extraordinária beleza e aos complexos avanços da
engenharia. [...]
Veja. 12/12/2012. pp. 129-136 (texto adaptado)
Assinale a alternativa que contém uma afirmativa que NÃO pode ser confirmada pelo texto.