As Memórias de um doente dos nervos (1995) de Daniel Paul Sc...
As Memórias de um doente dos nervos (1995) de Daniel Paul Schreber, juiz-presidente da Corte de Apelação de Dresden, constituem referência fundamental no campo da psicopatologia e diversos comentadores se debruçaram sobre as páginas de suas memórias. Além de uma forte narrativa em primeira pessoa sobre o universo da loucura, Schreber nos ensina com autoridade sobre a experiência de estar em hospital psiquiátrico. Em relação ao texto das memórias, é INCORRETO afirmar:
1. O presidente Schreber conta que uma das instituições em que passou lhe dava uma impressão de total abandono e que lá permanecia totalmente cortado do mundo externo, sem relação alguma com seus familiares e nas mãos de rudes enfermeiros com quem brigava de tempos em tempos. Outra instituição, a clinica particular para doentes mentais do dr. Pierson, chamou de "cozinha do diabo".
2. Em seu comentário sobre o "Tratado de Psiquiatria" de Emil Kraepelin, Schreber critica a tentativa de colocar a saúde psíquica ao lado da negação do sobrenatural e argumenta que isso é estar completamente presos às banais representações racionalistas do período iluminista do século XVIII. Afirma, por fim, que a psiquiatria faz mal ao produzir generalizações, colocando sob a mesma rubrica formas tão diferentes de percepção e que através de seu julgamento precipitado, acaba decaindo em um tipo de "materialismo grosseiro".
3. No drama cósmico relatado por Schreber, a fratura que origina o desmoronamento da Ordem do Mundo é causada pelo "assassinato de alma" do qual é vítima. A possibilidade de interferência do sistema nervoso de uma pessoa sobre o de outra tem o seu desdobramento máximo no assassinato de alma, quando uma alma aprisiona outra, anulando sua vontade própria. As noções de assassinato de alma, "deixar largado" e destruição do entendimento são bastante próximas.