A alternativa que melhor justifica o título do texto Sabores...
Nunca me esqueci da tarde em que, voltando da escola acompanhado pela empregada lá de casa... bem, naquele tempo politicamente incorreto, a gente chamava de “empregada”. Eu sei que, hoje, costuma-se chamar de funcionária, secretária, ajudante, amiga, auxiliar... Mas, como estou falando de antigamente, manterei o termo da ocasião. Pois voltava da escola coma empregada, ela entrou numa padaria para comprar leite eme perguntou:
–Quer comprar um sonho?
Sabores Sonhos não se recusam. Mas também não são oferecidos. Estranhei. Ela insistiu eme apontou o sonho a que se referia. Vi, pela primeira vez na vida, aquele doce, em forma de almofada, soltando creme para todos os lados. Aceitei e, na primeira mordida, percebi que tinha um sabor que eu nunca havia experimentado. E era delicioso. Foi dos melhores prazeres gastronômicos a que já tive acesso. Até hoje procuro pelo sonho de padaria perfeito. Mas nunca mais o encontrei.
Nas férias de verão, sempre passadas no Rio, meu irmão costumava me levar para jantar na casa da tia Maria Caldas. Tia Maria Caldas – ela sempre foi chamada assim, com nome e sobrenome – era a solteirona da família. Morou a vida inteira num conjugado na Avenida Copacabana. Tinha cozinha mínima. Mas aparentava gostar de cozinhar para meu irmão e eu. Num desses jantares, não me lembro do prato principal, mas lembro-me muito bem de um dos acompanhamentos: ovos mexidos. Ovo não era um alimento muito popular lá em casa. Não era inteiramente rejeitado, como a cebola e o alho, que nunca fizeram parte do cardápio. Mas era ocasional. E em outras formas, como a do ovo cozido ou a do ovo frito. Mexidos, eu nunca tinha visto. Eu não gostava muito de ovos, por isso fiz cara feia quando a tia Maria Caldas estava preparando aqueles. Mas, desde a primeira garfada, foi amor à primeira vista. Tento repetir aquela experiência. Faço ovos com bacon, com presunto, com ervas, ponho leite para ficarem macios, ponho água para ficarem mais leves... Mas nunca mais comi ovos mexidos tão gostosos quanto os da tia Maria Caldas.
Minha primeiríssima viagem internacional foi a Buenos Aires. Ainda era universitário, tempos de dureza, e, na Argentina, me submeti a uma dieta de massas num dos restaurantes mais populares da cidade, o baratíssimo Pippo. Mas uma noite, eu e o grupo que me acompanhava cometemos uma extravagância e fomos jantar num restaurante que tinham me recomendado: El Palacio de La Papas Fritas. Na verdade, assim como o Pipo, o El Palacio era uma rede de restaurantes. Também era popular, mas com um cardápio com preços um pouco acima do outro. E usava toalhas de mesa, diferentemente do Pipo que preferia cobrir as mesas com papel de pão. A ideia era comer carne, mas o que me surpreendeu foi o acompanhamento, as tais papas fritas. Em forma de pequenas almofadas – devo ter alguma obsessão gastronômica por almofadas –, as batatas, fritas no ponto exato, estouravam na boca espalhando seu sabor. Voltei muitas vezes a Buenos Aires. Nunca deixei de ir ao El Palacio em busca daquele gosto. Mas nunca mais o encontrei.
Resumo da ópera: os melhores sabores são os da primeira vez.
(XEXÉO. Artur. Revista O Globo. 01/09/2013.)
Gabarito comentado
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Alternativa Correta: A
O tema central da questão é a interpretação do texto intitulado Sabores, em que o autor narra experiências marcantes associadas aos sabores dos alimentos que provou pela primeira vez. Para resolver a questão, é necessário entendimento de leitura e compreensão do texto como um todo, focando nas experiências únicas e memoráveis que o autor descreve.
Justificativa da Alternativa Correta (A): A alternativa A é a correta porque o texto descreve situações distintas em que o autor experimentou diferentes alimentos pela primeira vez, como o sonho de padaria, os ovos mexidos da tia Maria Caldas e as batatas fritas em Buenos Aires. Esses eventos são marcados pelo impacto e pela novidade do sabor, que é o foco do texto.
Análise das Alternativas Incorretas:
B: Embora o sonho mencionado faça parte de uma memória de infância, o texto não se concentra no universo infantil e na realização de sonhos, mas sim nas experiências gastronômicas e nos sabores.
C: Apesar de as recordações de infância serem mencionadas, o texto não trata especificamente da comparação entre os sabores da infância e da vida adulta. O foco está nas experiências individuais e memoráveis com alimentos específicos.
D: As viagens são mencionadas, mas não constituem o tema central do texto. O autor destaca as experiências com sabores durante essas viagens, e não as viagens em si como fonte de prazer.
E: O texto não discute o hábito de comer o mesmo tipo de comida ou a falta de prazer nisso. Ele enfatiza as experiências únicas de provar algo novo, não a monotonia alimentar.
Espero que essa explicação tenha ajudado a esclarecer a questão! Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!
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