No trecho “Diferente é o que: fica doente onde a alegria imp...
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Ano: 2023
Banca:
Instituto Consulplan
Órgão:
Prefeitura de Orlândia - SP
Provas:
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Auxiliar de Educação A-2
|
Instituto Consulplan - 2023 - Prefeitura de Orlândia - SP - Agente Comunitário de Saúde |
Q2143693
Português
Texto associado
A alma dos diferentes
Diferente não é quem o pretenda ser. Esse é um imitador
do que ainda não foi imitado, mas nunca um ser diferente.
Diferente é quem foi dotado de alguns “mais” e alguns
“menos” em hora, no momento e lugar errados para os outros.
Que riem de inveja de não serem assim, e de medo de não
aguentar, caso um dia venham a ser.
O diferente é um ser
sempre mais próximo da perfeição.
O diferente nunca é um chato. Mas sempre é confundido
por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um
chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias
são adiadas; esperanças são mortas.
Um diferente medroso, este sim acaba transformando-
-se num chato. Chato é um diferente que não vingou.
Os diferentes muito inteligentes percebem porque os
outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam
tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que
se preza entende o porquê de quem o agride. Se o diferente
se mediocrizar, mergulhará no complexo de inferioridade.
O diferente paga sempre o preço de estar – mesmo sem
querer – alterando algo, ameaçando rebanhos, carneiros e pastores. O diferente suporta e digere a ira do irremediavelmente
igual, a inveja do comum, o ódio do mediano. O verdadeiro
diferente sabe que nunca tem razão, mas que sempre está certo.
O diferente começa a sofrer cedo, já no primário, onde
todos os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns adultos,
por omissão, se unem para transformar o que é peculiaridade e
potencial em aleijão e caricatura. O que é percepção aguçada
em “– Puxa, fulano, como você é complicado”. O que é embrião
de um estilo próprio em “– Você está vendo como é que todo
mundo faz?”.
O diferente carrega desde cedo apelidos e marcações,
os quais acaba incorporando. Só os diferentes mais fortes do
que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus
grandes modificadores.
Diferente é o que vê mais longe do que o consenso. O
que sente antes mesmo dos demais começarem a perceber.
Diferente é o que se emociona enquanto todos em torno
agridem e gargalham.
Diferente é o que: engorda mais um pouco; chora, onde
outros xingam; estuda, onde outros burram. Quer, onde outros
cansam; espera de onde já não vem; sonha entre realistas;
concretiza entre sonhadores. Fala de leite em reunião de bêbados; cria, onde o hábito rotiniza; sofre, onde outros ganham.
Diferente é o que: fica doente onde a alegria impera. Aceita
empregos que ninguém supõe. Perde horas em coisas que só ele
sabe importantes. Engorda onde não deve. Diz sempre na hora
de calar. Cala nas horas erradas. Não desiste de lutar pela
harmonia. Fala de amor no meio da guerra. Deixa o adversário
fazer gol, porque gosta mais de jogar do que ganhar. Ele aprendeu a suportar o riso, o deboche, o escárnio e a consciência
dolorosa de que a média é má porque é igual. Os diferentes aí
estão: doendo e doendo, mas procurando ser, conseguindo
ser, sendo muito mais.
A alma dos diferentes é feita de uma luz além. Sua estrela
tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos
capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão os maiores tesouros da ternura humana dos quais só os diferentes são
capazes. Não mexa com o amor de um diferente. A menos que
você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.
(Artur da Távola. Disponível em: http://www.bengalalegal.com/
diferentes#a4. Acesso em: janeiro de 2023.)
No trecho “Diferente é o que: fica doente onde a alegria impera. Aceita empregos que ninguém supõe.” (11º§), o sujeito
da oração destacada é