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Q2234890 Português
        Quando se fala em palhaço, duas imagens costumam vir logo à cabeça. Palhaço, infelizmente, é aquele de quem muitos têm medo. Ele pega alguém da plateia para ridicularizar, faz grosserias, piadas inconvenientes. Crianças têm medo de palhaços. Filmes de terror exploram impiedosamente nossas fantasias infantis sobre tal figura. Esses palhaços malvados existem em nosso imaginário e, felizmente, são a minoria na realidade. Neste exato instante em que você lê estas palavras, milhares de palhaços em todo o mundo estão em hospitais, campos de batalha, campos de refugiados, escutando pessoas, relacionando-se verdadeiramente com elas, buscando, por meio do afeto e do humor, amenizar a dor daqueles que estão passando por situações trágicas e delicadas. Dessa imagem inferimos por que a comédia é uma espécie de tratamento para a tragédia. Um tratamento que não nega nem destitui a existência do pior, mas que faz com ele uma espécie de inversão de sentido. Assim, introduzimos que o horizonte do que o palhaço escuta é a tragédia da vida, a sua realidade mais extensa de miséria e impotência, de pequenez e arrogância, de pobreza e desencontro, que se mostra como uma repetição insensata sempre. O palhaço é um realista, mas não um pessimista. Ele mostra a realidade exagerando as deformações que criamos sobre ela. Primeira lição a tirar disso para a arte da escuta: escutar o outro é escutar o que realmente ele diz, e não o que a gente ou ele mesmo gostaria de ouvir. Escutar o que realmente alguém sente ou expressa, e não o que seria mais agradável, adequado ou confortável sentir. Escutar o que realmente está sendo dito e pensado, e não o que nós ou ele deveríamos pensar e dizer. 

Christian Dunker e Cláudio Thebas.
O palhaço e o psicanalista: como escutar os outros pode transformar vidas.
São Paulo: Planeta do Brasil, 2019, p. 30-1 (com adaptações). 

Com relação às ideias, aos sentidos e aos aspectos linguísticos do texto anterior, julgue o item a seguir. 

Segundo o texto, a arte do palhaço e a arte da escuta têm como elo o fato de ambas encararem o real sem fazer projeções.


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Gabarito: CERTO

"O palhaço é um realista, mas não um pessimista."

"Primeira lição a tirar disso para a arte da escuta: escutar o outro é escutar o que realmente ele diz, e não o que a gente ou ele mesmo gostaria de ouvir."

"O palhaço é um realista, mas não um pessimista. Ele mostra a realidade exagerando as deformações que criamos sobre ela"

Esse trecho torna a assertiva bem complicada, pra mim.

"Exagerar as deformações" não seria uma forma de "fazer projeções" ?

A parte das projeções me matou

Sobre o comentário:

" "O palhaço é um realista, mas não um pessimista. Ele mostra a realidade exagerando as deformações que criamos sobre ela"

Esse trecho torna a assertiva bem complicada, pra mim.

"Exagerar as deformações" não seria uma forma de "fazer projeções" ?"

-->Creio que exagerar as deformações não é uma forma de fazer projeções, acho que as deformações as quais o texto se refere são a tragédia, a pobreza, a arrogância, etc, e que o palhaço as exagera para trazer o humor (que gera a cura), isto é, as deformações fazem parte da realidade; o palhaço exagera a realidade.

Já as projeções são coisas que criamos que nem sempre parte da realidade, por exemplo, podemos pegar a inteligência artificial e imaginarmos que daqui a alguns anos ela estará fazendo diagnósticos de doenças (tanto a IA, quanto a ideia de diagnosticar doenças partem da realidade); mas nós também podemos imaginar (projetar) que daqui a alguns séculos a IA poderá ser capaz de criar um outro universo repleto de estrelas e cometas (algo que ainda não está nem no horizonte de expectativas, algo que os cientistas nem comentam).

Bem, não sei se ajudou ou ficou muito claro meu raciocínio. Mas pensei em algo mais ou menos assim para responder essa questão.

No meu entendimento, o palhaço apenas mostra a realidade no nosso ponto de vista: exagerado, projetado, deformado e não de fato como são! Assim como deve ser na arte da escuta: escutar o outro é escutar o que realmente ele diz(no ponto de vista dele), e não o que a gente ou ele mesmo gostaria de ouvir

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