A respeito das ideias, dos sentidos e dos aspectos linguísti...

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Q2234901 Português
     O papel fundante da memória dos mortos para o desenvolvimento da cultura teve algo de acidental, pois o mecanismo poderoso de propagação dos hábitos, das ideias e dos comportamentos dos ancestrais foi o afeto. A lembrança de quem partiu, bem visível nos chimpanzés, que se enlutam quando perdem um ente querido, tornou-se uma marca indelével de nossa espécie. Isso não aconteceu sem contradições, é claro. Com o amor pelos mortos surgiu também o medo deles. Do Egito a Papua-Nova Guiné, em distintos momentos e lugares, floresceram rituais para neutralizar, apaziguar e satisfazer aos espíritos desencarnados. Na Inglaterra medieval, temiam-se tanto os mortos que cadáveres eram mutilados e queimados para se garantir sua permanência nas covas. Entre os Yanomami, a queima dos pertences é uma parte essencial dos rituais fúnebres. A Igreja Católica até hoje considera que os restos mortais dos santos são valiosas relíquias religiosas.
      A propagação dos memes de entidades espirituais foi, portanto, impulsionada pelos afetos positivos e negativos em relação aos mortos. Foi a memória das técnicas e dos conhecimentos carregados pelos avós e pais falecidos que transformou esse processo em algo adaptativo, um verdadeiro círculo virtuoso simbólico. Não é exagero dizer que o motor essencial da nossa explosão cultural foi a saudade dos mortos. A crença na autoridade divina para orientar decisões humanas levou a um acúmulo acelerado de conhecimentos empíricos sobre o mundo, sob a forma de preceitos, mitos, dogmas, rituais e práticas. Ainda que apoiada em coincidências e superstições de todo tipo, essa crença foi o embrião de nossa racionalidade. Causas e efeitos foram sendo aprendidos pela corroboração ou não da eficácia dos símbolos religiosos. 

Sidarta Ribeiro. O oráculo da noite: a história da ciência e do sonho.
São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 325 (com adaptações).
A respeito das ideias, dos sentidos e dos aspectos linguísticos do texto precedente, julgue o item que se segue. 
No trecho “Na Inglaterra medieval, temiam-se tanto os mortos que cadáveres eram mutilados e queimados para se garantir sua permanência nas covas” (antepenúltimo período do primeiro parágrafo), a substituição de “que” por quanto preservaria os sentidos e a correção gramatical do texto.
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Gabarito - E

Típica questão pra pegar apressado, Jubileu.

  • A expressão "tanto... que" possui sentido de consequência, o que é facilmente notado com a leitura do referido trecho.

Logo, não é possível substituir a conjunção "que" por "quanto", pois traria uma ideia de comparação, em vez de consecução.

"Rapaz, ele tá sem zap..."

Gabarito: ERRADO

Preservaria os sentidos e a correção gramatical do texto.

"Na Inglaterra medieval, temiam-se tanto os mortos que cadáveres eram mutilados e queimados para se garantir sua permanência nas covas."

"Na Inglaterra medieval, temiam-se tanto os mortos quanto cadáveres eram mutilados e queimados para se garantir sua permanência nas covas."

Além dos sentidos, a correção também é prejudicada.

No texto, a expressão "Tanto que" possui viés de Consequência.

Gabarito: ERRADO

A substituição de "que" por "quanto" não preservaria os sentidos nem a correção gramatical do texto. A frase original está correta, indicando que na Inglaterra medieval os cadáveres eram mutilados e queimados para garantir a permanência deles nas covas. A substituição por "quanto" alteraria o sentido da frase e a gramática ficaria comprometida. Portanto, a frase original é a forma correta.

Gabarito E.

No trecho “Na Inglaterra medieval, temiam-se tanto os mortos que cadáveres eram mutilados e queimados para se garantir sua permanência nas covas”.

Temiam os mortos de tal modo que os queimavam. A oração perderia o sentido se fosse reescrita da seguinte forma: “Na Inglaterra medieval, temiam-se tanto os mortos quanto cadáveres eram mutilados..."

Gabarito: Errado.

Tanto que → conjunção consecutiva, ou seja, consequência;

Tanto quanto → adição, soma.

Correção gramatical → mantida;

Sentido → alterado.

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