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Q781203 Psicologia
Desde os primeiros escritos, Freud procurou fazer a distinção entre psicose e neurose, cujo esforço é fundamental não somente para a direção do tratamento, assim como para a observação de certos fenômenos psíquicos. Sobre a psicopatologia psicanalítica, analise as afirmativas a seguir: I. Apesar de remeter a aspectos psicológicos mais gerais e dotados de normalidade, a projeção predomina nos mecanismos alucinatórios e interpretativos das psicoses. II. Enquanto na neurose a libido reflui para o Eu, na psicose o investimento de objeto persiste no sistema inconsciente. III. No quadro da segunda tópica do aparelho psíquico, enquanto na neurose o ego recalca as reinvindicações pulsionais, na psicose há uma ruptura entre a realidade e o ego, deixando esse último sob domínio do Id. Está correto somente o que se afirma em:
Alternativas

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A alternativa correta é a letra E (I e III).

Vamos entender por que essa alternativa está correta e analisar as outras alternativas para esclarecer quaisquer dúvidas.

Sobre o tema da questão:

A questão aborda as distinções fundamentais entre psicose e neurose segundo a teoria psicanalítica de Freud. Para resolver a questão, é necessário conhecer bem os conceitos de projeção, libido, a segunda tópica do aparelho psíquico (id, ego e superego) e os mecanismos de defesa psíquicos.

Freud fez importantes diferenciações entre neurose e psicose, que são essenciais para a compreensão da psicopatologia psicanalítica e para a aplicação clínica. Vamos analisar cada afirmativa:

Análise das afirmativas:

I. Apesar de remeter a aspectos psicológicos mais gerais e dotados de normalidade, a projeção predomina nos mecanismos alucinatórios e interpretativos das psicoses.

Essa afirmativa está correta. A projeção é um mecanismo de defesa onde o indivíduo atribui a outra pessoa ou ao ambiente características, sentimentos ou desejos que são próprios. Nas psicoses, esse mecanismo é intensamente utilizado, resultando em alucinações e delírios.

II. Enquanto na neurose a libido reflui para o Eu, na psicose o investimento de objeto persiste no sistema inconsciente.

Essa afirmativa está incorreta. Na verdade, na psicose, ocorre uma retirada do investimento de objeto, e a libido é redirecionada para o próprio Eu, levando a um distanciamento da realidade externa e promovendo a ruptura entre o ego e o mundo real. Na neurose, a libido é reprimida e dirigida internamente, mas não persiste no sistema inconsciente como sugerido.

III. No quadro da segunda tópica do aparelho psíquico, enquanto na neurose o ego recalca as reivindicações pulsionais, na psicose há uma ruptura entre a realidade e o ego, deixando esse último sob domínio do Id.

Essa afirmativa também está correta. De acordo com a segunda tópica freudiana, na neurose, o ego tenta manter o controle sobre as pulsões através da repressão. Já na psicose, há uma disrupção significativa entre o ego e a realidade, permitindo que o id domine, o que resulta em uma perda de contato com a realidade.

Conclusão:

A alternativa E (I e III) é a correta, pois ambas as afirmativas I e III estão de acordo com a teoria psicanalítica de Freud. A afirmativa II está incorreta porque apresenta uma compreensão errônea do investimento de objeto na psicose.

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Comentários

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Freud (1924) assim descreve a diferença estrutural entre a neurose e a psicose: “... a neurose é o resultado de um conflito entre o ego e o id, ao passo que a psicose é o desfecho análogo de um distúrbio semelhante nas relações entre o ego e o mundo externo”. Esta definição é desenvolvida a partir da idéia de conflito e de defesa, segundo a qual o conflito se daria entre duas instâncias (ego x id ou ego x mundo externo), ao passo que a defesa seria investida contra as representações intoleráveis: recalque (Verdrangung) e rejeição (Ververfung). A neurose é compreendida pela psicanálise como tendo origem na luta do ego por manter afastado, recalcado, neutralizado, “soterrado” (para fazer uma alusão à “Gradiva”) no id, um poderoso impulso dele proveniente, e que seja inaceitável pelas instâncias do ego e do superego (princípio de realidade). Em tal caso, o ego utiliza- se do mecanismo de recalque para defender-se deste impulso que, por sua vez, “luta contra esse destino” (Freud, 1924), criando caminhos (representações substitutivas) que se impõem ao ego mediante uma conciliação, e que constituem o sintoma. Sentindo-se ameaçado e prejudicado por ele, o ego continua a lutar contra o sintoma, tal como fez anteriormente contra o impulso. Este mecanismo constitui o quadro da neurose. Já o  mecanismo da psicose abrangeria uma retirada da libido enviada pelo ego, e essa libido sofreria um refluxo mais ou menos acentuado em direção ao próprio sujeito. Desta forma, ocorreria um desinvestimento do mundo externo e da realidade, e um superinvestimento libidinal do eu – o que, inclusive, ajuda a explicar porque é tão comum o aparecimento de traços mais ou menos acentuados de delírio de grandeza na maioria dos casos de psicose de tipo paranóico ou esquizofrênico. 

Na psicose, o inconsciente fica à céu aberto. Sem qualquer anteparo.

I. PROJEÇÃO

  • Transfere traços de sua própria personalidade e sentimentos não aceitos como parte de si para outros indivíduos;
  • Deslocamento de um impulso interno para o exterior (no caso da psicose, esse deslocamento acontece sem um filtro)
  • Conteúdos projetados são sempre desconhecidos da pessoa que projeta, justamente porque tiveram de ser expulsos, para evitar o desprazer de tomar contato com esses conteúdos.

II.

Na psicose o investimento de objeto não persiste no inconsciente mas sim é projetado ao mundo externo

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