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Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: PC-AC Prova: IBADE - 2017 - PC-AC - Agente de Polícia Civil |
Q812617 Português
Texto para responder à questão.

O Dia da Consciência Negra 
[...] 
        O assunto é delicado; em questão de raça, deve-se tocar nela com dedos de veludo. Pode ser que eu esteja errada, mas parece que no tema de raça, racismo, negritude, branquitude, nós caímos em preconceito igual ao dos racistas. O europeu colonizador tem - ou tinha - uma lei: teve uma parte de sangue negro - é negro. Por pequena que seja a gota de sangue negro no indivíduo, polui-se a nobre linfa ariana, e o portador da mistura é "declarado negro”. E os mestiços aceitam a definição e - meiões, quarteirões, octorões - se dizem altivamente “negros", quando isso não é verdade. Ao se afirmar “negro” o mestiço faz bonito, pois assume no total a cor que o branco despreza. Mas ao mesmo tempo está assumindo também o preconceito do branco contra o mestiço. Vira racista, porque, dizendo-se negro, renega a sua condição de mulato, mestiço, half-breed, meia casta, marabá, desprezados pela branquidade. Aliás, é geral no mundo a noção exacerbada de raça, que não afeta só os brancos, mas os amarelos, vermelhos, negros; todos desprezam o meia casta, exemplo vivo da infração à lei tribal.
        Eu acho que um povo mestiço, como nós, deveria assumir tranquilamente essa sua condição de mestiço; em vez de se dizer negro por bravata, por desafio - o que é bonito, sinal de orgulho, mas sinal de preconceito também. Os campeões nossos da negritude, todos eles, se dizem simplesmente negros. Acham feio, quem sabe até humilhante, se declararem mestiços, ou meio brancos, como na verdade o são. “Black is beautiful” eu também acho. Mas mulato é lindo também, seja qual for a dose da sua mistura de raça. Houve um tempo, antes de se desenvolver no mundo a reação antirracista, em que até se fazia aqui no Rio o concurso “rainha das mulatas”. Mas a distinção só valia para a mulata jovem e bela. Preconceito também e dos péssimos, pois a mulata só era valorizada como objeto sexual, capaz de satisfazer a consciência dos homens.
        A gente não pode se deixar cair nessa armadilha dos brancos. A gente tem de assumir a nossa mulataria. Qual brasileiro pode jurar que tem sangue “puro” nas veias, - branco, negro, árabe, japonês?         Vejam a lição de Gilberto Freyre, tão bonita. Nós todos somos mestiços, mulatos, morenos, em dosagens várias. Os casos de branco puro são exceção {como os de índios puros - tais os remanescentes de tribos que certos antropólogos querem manter isolados, geneticamente puros - fósseis vivos - para eles estudarem...). Não vale indagar se a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro, se nasceu em taba de índio ou na casa-grande. Todas elas somos nós, qualquer procedência Tudo é brasileiro. Quando uma amiga minha, doutora, participante ilustre de um congresso médico, me declarou orgulhosa “eu sou negra” - não resisti e perguntei: “Por que você tem vergonha de ser mulata?” Ela quase se zangou. Mas quem tinha razão era eu. Na paixão da luta contra a estupidez dos brancos, os mestiços caem justamente na posição que o branco prega: negro de um lado, branco do outro. Teve uma gota de sangue africano é negro - mas tendo uma gota de sangue branco será declarado branco? Não é.
        Ah, meus irmãos, pensem bem. Mulata, mulato também são bonitos e quanto! E nós todos somos mesmo mestiços, com muita honra, ou morenos, como o queria o grande Freyre. Raça morena, estamos apurando. Daqui a 500 anos será reconhecida como “zootecnicamente pura" tal como se diz de bois e de cavalos. Se é assim que eles gostam!
QUEIROZ, Rachel. O Dia da Consciência Negra. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 23nov. 2002. Brasil, caderno 2, p. D16, 
Vocabulário: 
half-bread:mestiço.
marabá: mameluco.
meião, quarteirão e octorão: pessoas que têm, respectivamente, metade, um quarto e um oitavo de sangue negro.
“Black is beautiful”: “O negro é bonito

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GAB: B

 

“Não vale indagar SE a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro”

O SE quando  substituído por ISSO é conjunção integrante e pode ter varias funções.

Na questão esta ligado ao verbo INDAGAR (VTD) sendo o seu objeto direto.

Em minha opinião, a conjunção integrante "SE" introduz uma Subst. Subujetiva, mas como não há esta opção marquei a "menos errada"

 

Observe algumas colocações:

* Em se tratando dos casos em que o sujeito do verbo da oração principal não estiver nela contido, tal fato sinaliza que a oração subordinada irá ocupar sempre essa função (a de sujeito), o que justifica dizer que se trata de uma oração subordinada substantiva subjetiva.  Vejamos, pois, os enunciados que ilustram a ocorrência em questão:

# Justificou-se que não haveria aula no dia seguinte.

Justificou-se – Oração principal

Que não haveria aula no dia seguinte - Oração subordinada substantiva subjetiva, cujo verbo se encontra na voz passiva sintética.

 

# Foi justificado que não haveria aula no dia seguinte.

Foi justificado – oração principal

Que não haveria aula no dia seguinte - oração subordinada substantiva subjetiva, cujo verbo se encontra na voz passiva analítica.

 

* Nos casos em que o sujeito do verbo referente à oração principal se encontrar nela contido, a oração subordinada será o objeto direto, ocorrência essa que nos indica se tratar de uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Constatemos os exemplos:

# Todos querem que você entregue as encomendas.

Todos querem – oração principal, cujo verbo é representado por “querer”.

- que você entregue as encomendas - oração subordinada substantiva objetiva direta.

 

# Não quero que ela se sinta culpada pelo ocorrido.

Não quero – oração principal

- que ela se sinta culpada pelo ocorrido - oração subordinada substantiva objetiva direta.

 

 

 

“Não vale indagar SE a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro”.

Temos duas orações aqui:
1ª) Não vale indagar - oração principal

2ª) se a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro. - oração subordinada

 

O termo SE é uma conjunção. Conjunções não exercem funções sintáticas. No trecho ele vai apenas integrar uma oração a outra, ou seja, é uma Conjunção Integrante.

 

Vamos substituir a 2ª oração pelo termo "ISSO" para que a análise sintática seja mais fácil:

Não vale indagar ISSO

Não vale indagar (o quê?): isso.

"Indagar" é VTD, logo, "ISSO" é OD

 

Se o termo "ISSO" é OD e substituiu a segunda oração, logo a segunda oração será um OD também.

Mas como ela será um OD se ela é uma oração (verbo)? Esse é o caso de um OBJETO DIRETO ORACIONAL.

No caso, ela é uma ORAÇÃO SUBORDINADA SUBSTANTIVA OBJETIVA DIRETA.

“Não vale indagar SE a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro”.

Relação de causa e consequência, então temos uma oração subordinada. A  conjunção SE ( pode ser substituido por isso) introduz um oração subordinada substantiva objetiva direta pelo termo em questão ser objeto direto da primeira oração.

“Não vale indagar SE a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro

 

O que não vale indagar? SE a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro

 

 

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