Considere as seguintes afirmações sobre aspectos da constru...

Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2017 Banca: IBADE Órgão: PC-AC Prova: IBADE - 2017 - PC-AC - Agente de Polícia Civil |
Q812622 Português
Texto para responder à questão.

O Dia da Consciência Negra 
[...] 
        O assunto é delicado; em questão de raça, deve-se tocar nela com dedos de veludo. Pode ser que eu esteja errada, mas parece que no tema de raça, racismo, negritude, branquitude, nós caímos em preconceito igual ao dos racistas. O europeu colonizador tem - ou tinha - uma lei: teve uma parte de sangue negro - é negro. Por pequena que seja a gota de sangue negro no indivíduo, polui-se a nobre linfa ariana, e o portador da mistura é "declarado negro”. E os mestiços aceitam a definição e - meiões, quarteirões, octorões - se dizem altivamente “negros", quando isso não é verdade. Ao se afirmar “negro” o mestiço faz bonito, pois assume no total a cor que o branco despreza. Mas ao mesmo tempo está assumindo também o preconceito do branco contra o mestiço. Vira racista, porque, dizendo-se negro, renega a sua condição de mulato, mestiço, half-breed, meia casta, marabá, desprezados pela branquidade. Aliás, é geral no mundo a noção exacerbada de raça, que não afeta só os brancos, mas os amarelos, vermelhos, negros; todos desprezam o meia casta, exemplo vivo da infração à lei tribal.
        Eu acho que um povo mestiço, como nós, deveria assumir tranquilamente essa sua condição de mestiço; em vez de se dizer negro por bravata, por desafio - o que é bonito, sinal de orgulho, mas sinal de preconceito também. Os campeões nossos da negritude, todos eles, se dizem simplesmente negros. Acham feio, quem sabe até humilhante, se declararem mestiços, ou meio brancos, como na verdade o são. “Black is beautiful” eu também acho. Mas mulato é lindo também, seja qual for a dose da sua mistura de raça. Houve um tempo, antes de se desenvolver no mundo a reação antirracista, em que até se fazia aqui no Rio o concurso “rainha das mulatas”. Mas a distinção só valia para a mulata jovem e bela. Preconceito também e dos péssimos, pois a mulata só era valorizada como objeto sexual, capaz de satisfazer a consciência dos homens.
        A gente não pode se deixar cair nessa armadilha dos brancos. A gente tem de assumir a nossa mulataria. Qual brasileiro pode jurar que tem sangue “puro” nas veias, - branco, negro, árabe, japonês?         Vejam a lição de Gilberto Freyre, tão bonita. Nós todos somos mestiços, mulatos, morenos, em dosagens várias. Os casos de branco puro são exceção {como os de índios puros - tais os remanescentes de tribos que certos antropólogos querem manter isolados, geneticamente puros - fósseis vivos - para eles estudarem...). Não vale indagar se a nossa avó chegou aqui de caravela ou de navio negreiro, se nasceu em taba de índio ou na casa-grande. Todas elas somos nós, qualquer procedência Tudo é brasileiro. Quando uma amiga minha, doutora, participante ilustre de um congresso médico, me declarou orgulhosa “eu sou negra” - não resisti e perguntei: “Por que você tem vergonha de ser mulata?” Ela quase se zangou. Mas quem tinha razão era eu. Na paixão da luta contra a estupidez dos brancos, os mestiços caem justamente na posição que o branco prega: negro de um lado, branco do outro. Teve uma gota de sangue africano é negro - mas tendo uma gota de sangue branco será declarado branco? Não é.
        Ah, meus irmãos, pensem bem. Mulata, mulato também são bonitos e quanto! E nós todos somos mesmo mestiços, com muita honra, ou morenos, como o queria o grande Freyre. Raça morena, estamos apurando. Daqui a 500 anos será reconhecida como “zootecnicamente pura" tal como se diz de bois e de cavalos. Se é assim que eles gostam!
QUEIROZ, Rachel. O Dia da Consciência Negra. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 23nov. 2002. Brasil, caderno 2, p. D16, 
Vocabulário: 
half-bread:mestiço.
marabá: mameluco.
meião, quarteirão e octorão: pessoas que têm, respectivamente, metade, um quarto e um oitavo de sangue negro.
“Black is beautiful”: “O negro é bonito

Considere as seguintes afirmações sobre aspectos da construção do texto:
I. Em “mas parece que no tema de raça, racismo, negritude, branquitude, nós CAÍMOS em preconceito... Por pequena que seja a gota de sangue negro do INDIVÍDUO”, as palavras destacadas recebem acento pela mesma regra de acentuação. II. Passando-se para o plural o trecho destacado em “todos desprezam o meia casta, EXEMPLO VIVO DA INFRAÇÃO À LEI TRIBAL.”, mantendo-se o A no singular, o sinal indicativo de crase, obrigatoriamente, não poderia ser usado. III. Em “E os mestiços aceitam a definição e - meiões, quarteirões, octorões - se dizem altivamente 'negros', quando ISSO não é verdade.”, o elemento destacado se refere a uma ideia anteriormente expressa. Está correto apenas o que se afirma em:
Alternativas

Gabarito comentado

Confira o gabarito comentado por um dos nossos professores

Clique para visualizar este gabarito

Visualize o gabarito desta questão clicando no botão abaixo

Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

I) Errada!

CA-Í-MOS se acentua porque o "i" quando hiato é obrigatória a acentuação

IN-DI-VÍ-DUO se acentua porque é paroxitona terminada em ditongo crescente.

II) Certa. Diante de plural, crase passa mal. rsrs

III) Isso/esse quando está em um texto faz a referência com o que está "atrás".

 

Questão mal formulada.
Eliminando onde tem a afirmativa I, só restam as alternativas B e E, sabendo que a III está certíssima, respondi sem ler a afirmativa II

II)Certa, a crase na frase no singular representa a junção da preposição "a" regida pelo verbo infração e o artigo "a" que antecede o substantivo lei. Ao passar a frase para o plural mantendo o "a" no singular, representando omissão do artigo "as", a crase não mais ocorre sendo, assim, proibida a sua marcação. III) Certa, Isso/esse retoma ou refe-se a ideia já mencionada, Isto/este refere-se a ideia ainda não mencionada. ex: Nunca mais quero te ver: só quero que entendas isso. só quero que entenda isto: nunca mais quero te ver!

I - Exemplos vivos das infrações as leis tribais

Não haverá crase antes de palavras femininas no plural precedidas de um a:

Não vou a festas.

A pesquisa não se refere a mulheres casadas.

O prêmio só foi concedido a cantoras nacionais.

É um assunto relativo a jornalistas especializadas.

ALTERNATIVA I - ERRADA

 

CA - Í - MOS

Acentuam-se, via de regra, o i e o u tônicos, em hiato com vogal ou ditongo anterior, formando sílaba sozinhos ou com s:

 

IN - DI - VÍ - DUO 

Acentuam-se as paroxítonas terminadas em ditongo crescente

 

ALTERNATIVA II - CORRETO

 

EXEMPLOS VIVOS DAS INFRAÇÕES À LEIS TRIBAIS.

Caso de crase PROIBIDA: antes de palavras no plural.

 

ALTERNATIVA III - CORRETO

Isto e Isso são palavrass parecidas, mas utilizadas em situações diferentes. O que distingue estes dois conceitos é uma questão referencial (tempo e espaço).

ISTO é usado quando o que está a ser demonstrado está PERTO da pessoa que fala, bem como no tempo PRESENTE em relação à pessoa que fala. Usa-se ainda para referir o que SERÁ mencionado no discurso, sendo utilizado assim de modo CATAFÓRICO, ou seja, fazendo referência a uma informação que ainda não foi mencionada no texto.

Isto aqui é meu. (PERTO)

Isto que está acontecendo é horrível! (PRESENTE)

Isto será explicado mais à frente. (AINDA VAI ACONTECER)

 

ISSO é usado quando o que está a ser demonstrado está LONGE da pessoa que fala e perto da pessoa a quem se fala ou no tempo PASSADO em relação à pessoa que fala. Usa-se ainda para referir o que FOI mencionado no discurso, sendo utilizado assim de modo ANAFÓRICO, ou seja, fazendo referência a uma informação previamente mencionada no texto.

Isso é seu. (LONGE)

Isso que aconteceu foi horrível! (PASSADO)

Isso foi explicado na aula passada. (JÁ FOI DITO)

 

 

Clique para visualizar este comentário

Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo