Releia o trecho: “[...] olhou a tartaruga nos olhos, como se lhe perguntasse discretamente a idade, virou-a de barriga para cima,
auscultou-a, redigindo depois, em silêncio, uma receita.” (9º§). A presença do pronome oblíquo átono “a” é observada. Podemos
afirmar que ele faz referência

Question

A maior tartarugada…
         A maior tartarugada da América do Sul não houve. Mas durante dois meses foi um acontecimento entre um grupo de sibaritas
fim de semana que frequenta à tarde um bar do centro.
         A tartaruga sonhava em câmera lenta na areia cálida das margens de um igarapé amazonense, sonhava com o mundo
melhor de daqui a 200 anos, quando a pegaram e lhe torceram o destino.
       Foi encaixotada, baloiçou na correnteza de um rio em uma igara frágil, tomou um avião em Belém, voou sobre as nuvens,
como suas antepassadas lendárias, não para a festa do céu, mas para a panela de um coronel amigo meu.
       No bar, não se falava em outra coisa. Era uma soberba tartaruga, volumosa, da raça mais nobre e saborosa. Durante vários dias
discutiu-se a melhor maneira de assassiná-la, prepará-la, cozinhá-la e comê-la. Entre os convidados do coronel, havia gente do norte,
sequiosa de repetir um prato, e gente do sul e de Minas, que aguardava com alguma ansiedade o momento de prová-lo.
       A tartaruga desceu no aeroporto Santos Dumont, onde o coronel e dois íntimos dele foram levar as boas-vindas ao delicioso
quelônio, seguindo para a residência do primeiro, no Leblon. Aí, ela passou a esperar a morte com um estoicismo estúpido. Alguns
dos futuros convivas foram visitá-la pessoalmente e voltaram encantados: “É uma tartaruga genial”!       A data do banquete foi marcada. Depois adiada. O que foi? O que houve? Ela anda meio triste, explicava o coronel consternado.
Saudades da pátria, disse um paraense. Pressentimento da morte, arriscou um sujeito romântico.
       A verdade é que a tartaruga não ia lá muito bem das pernas. Mergulhara em um quietismo exagerado, mesmo para um animal
de sua espécie, recusava delicadamente qualquer alimento, espichava o pescocinho mecânico, contemplava com desalento o mundo
exterior, e voltava à solidão inexpugnável de sua carapaça.         Nunca se vira no mundo tartaruga tão introspectiva.
       Chamou-se às pressas um veterinário. Este chegou, de óculos, com sua ciência também subjetiva, olhou a tartaruga nos olhos,
como se lhe perguntasse discretamente a idade, virou-a de barriga para cima, auscultou-a, redigindo depois, em silêncio, uma receita.
        – Pode-se fazer alguma coisa por ela, doutor? – perguntou o coronel, pálido, mas disposto a saber toda a verdade.
       – Sinto dizer que ela vai muito mal – respondeu em tom frio o veterinário. – Sofre de arteriosclerose. Deve ser uma tartaruga
em idade muito avançada. Suas túnicas arteriais devem estar duras como pedras.
        – Bonito! – exclamou o coronel.
     – Como?! – interrogou o veterinário, achando que o dono da cliente aludira às palavras técnicas empregadas por ele.      – É que eu ia fazer um big almoço dela... Agora o que vou dizer ao pessoal?
Em um sábado pela manhã, a tartaruga entrou lentamente em pane e morreu. Teve um enterro comum de bicho morto.
Mas no bar houve um momento de condolência, quando soubemos da infausta notícia.  (Paulo Mendes Campos. Disponível em: https://cronicabrasileira.org.br/. Acesso em: 18/11/2023.)  Releia o trecho: “[...] olhou a tartaruga nos olhos, como se lhe perguntasse discretamente a idade, virou-a de barriga para cima,
auscultou-a, redigindo depois, em silêncio, uma receita.” (9º§). A presença do pronome oblíquo átono “a” é observada. Podemos
afirmar que ele faz referência   Alternativa A: à idade.  Ou Alternativa B: à receita.  Ou Alternativa C: aos olhos. Ou Alternativa D: à tartaruga.

Qconcursos · Accepted Answer

Alternativa [D] à tartaruga.  ```html
Tema: Uso do Pronome Oblíquo Átono

Interpretação do Enunciado: A questão solicita a identificação do referente do pronome oblíquo átono "a" no trecho fornecido. Trata-se de um exercício de coesão referencial, em que é necessário entender a quem ou a que o pronome faz referência.

Alternativa Correta: D - à tartaruga.

Explicação da Alternativa Correta:
O pronome oblíquo átono "a" é utilizado para substituir um nome já mencionado anteriormente no texto, funcionando como um elemento de coesão textual. No trecho analisado, o pronome "a" aparece em várias situações: "virou-a de barriga para cima, auscultou-a". Em ambas as ocorrências, o pronome refere-se diretamente à tartaruga, que é o sujeito da ação descrita.

Na estrutura da frase, o pronome "a" exerce a função de objeto direto do verbo, substituindo o substantivo "tartaruga". Este uso está de acordo com as normas da gramática normativa, onde o pronome oblíquo átono é usado para evitar a repetição do substantivo.

Análise das Alternativas Incorretas:

A - à idade. A opção "idade" não é o referente do pronome "a". No contexto, a idade é mencionada como um detalhe que o veterinário poderia querer saber, mas não é o objeto das ações descritas (virar, auscultar).

B - à receita. A "receita" é citada no final do trecho, mas não é o objeto das ações de virar e auscultar. O "a" não faz referência a ela em nenhuma parte do texto.

C - aos olhos. Embora "olhos" seja mencionado, o pronome "a" não se refere a "olhos", mas sim à tartaruga como um todo. Os olhos são apenas parte da descrição da observação do veterinário.

Para resolver questões como esta, preste atenção aos pronomes oblíquos e seus referentes no texto. Eles são fundamentais para a coesão e coerência, permitindo que o texto flua sem repetição excessiva de substantivos.

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Releia o trecho: “[...] olhou a tartaruga nos olhos, como se...

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