INSTRUÇÃO: Leia o texto a seguir para responder à questão.
Em busca de cinco ciprestes
Marina Colasanti
Não era um homem rico, tampouco era pobre. Vivia sua
vida, e parecia-lhe bem. Até a noite em que teve um
sonho.
Sonhou que um pássaro entrava em voo pela porta
aberta e pousando na cabeceira da cama lhe dizia: “Um
tesouro te espera na cidade dos cinco ciprestes”. Viu-se
estender a mão para afagar o inesperado visitante, mas
com o gesto espantou sonho e mensageiro. Sem que,
entretanto, se espantasse a mensagem.
De nada adiantou, nos dias que se seguiram, pedir a
quantos conhecia informações sobre aquela cidade.
Ninguém havia cruzado com ela em seu caminho, não
fazia parte das recordações de quem quer que fosse.
O homem não sonhou mais com o pássaro. Pelo
menos, não à noite. Muitas vezes, de dia, pareceu-lhe
ouvir aquele canto que não era canto, mas fala. Porém,
embora procurasse no azul e nas ramagens, nunca mais
viu o mensageiro que lhe havia trazido a boa-nova.
Empreendeu várias viagens breves. A pé, pois não
tinha cavalo, e para que o teria, ele que só lavrava sua
pequena horta e assava pão? Caminhava pelas estradas
até onde suas forças o levavam, visitava uma ou outra
cidade, uma ou outra aldeia, esperando encontrar não
os cinco ciprestes que ninguém havia visto, mas alguém
que soubesse deles. E a cada viagem, sem nada ter
conseguido, retornava à sua casa levando consigo um
desejo que tanto mais crescia quanto mais esbarrava
em negativas.
A vida que havia sido suficiente para ele já não bastava.
Vendeu primeiro a colheita da horta – precisava de
roupas mais quentes. Depois vendeu tudo o que a sua
casa continha, os móveis toscos, os canecos e pratos
de estanho, as poucas panelas de barro – precisava de
arreios para o cavalo que ainda não tinha. Só no fim,
como uma concha vazia, vendeu a casa. Com o dinheiro
comprou o cavalo, colocou numa sacola de couro o
pouco que sobrou, prendeu-a na cintura. E partiu.
O homem que havia comprado a casa ficou olhando da
porta, até vê-lo desaparecer na curva do caminho. Então
entrou e começou a arrumar suas coisas.
Alguns meses se passaram. Já tendo cuidado de casa e
horta, e querendo talvez marcar sua posse, o novo dono
da casa plantou junto à cerca seis mudas de cipreste.
Cinco cresceram verdejantes para fazer sombra e cantar
no vento. Uma secou aos poucos, ainda jovem, e ele a
abateu para fazer lenha, sem procurar saber a origem
do seu mal.
Tivesse cavado, teria encontrado ao fundo, o velho baú
cheio de moedas que com seus humores metálicos
contaminavam as raízes. Mas o pássaro viera cedo
demais, pousando no sonho de outro homem, e enquanto
aquele cavalgava em busca do que nunca encontraria,
este perdia a fortuna que lhe havia sido destinada.
COLASANTI, Marina. In: Quando a primavera chegar. São
Paulo: Global Editora, 2017.
No primeiro parágrafo do conto de Marina Colasanti, há uma mudança de tempo verbal. Em relação a essa mudança,
observa-se que