Ao afirmar Matei várias mortes, o cronista está sugerindo que

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Q2098376 Português
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Encenação da morte

   A vida nos quer, a morte nos quer. Somos o resultado da tensão ocasionada pelas duas forças que nos puxam. Esse equilíbrio não é estável. Amplo, diverso e elástico é o campo de força da vida, e vale a mesma coisa para o campo da morte. Se ficamos facilmente deprimidos ou exaltados é em razão das oscilações de intensidade desses dois campos magnéticos, sendo o tédio o relativo equilíbrio entre os dois.
   Às vezes é mais intensa a pressão da vida, outras vezes é mais intensa a pressão da morte. Não se quer dizer com isso que a exaltação seja a morte e a depressão seja a vida. Há exaltações e exultações que se polarizam na morte, assim como há sistemas de depressão que gravitam em torno da vida. O estranho, do ponto de vista biológico, é que somos medularmente solitários com ambos os estados de imantação mais intensa, os da vida e os da morte. Não aproveitamos apenas a vida, mas usufruímos também as experiências da morte, desde que essas não nos matem.
   Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes. (...) Mas outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura, tão forte, tão irrespondível, tão parecida comigo que fiquei no mais confuso dos sentimentos. Esta eu não posso matar, esta é a minha morte. O Vinícius de Moraes, que entende muito de morte, disse que nesse terreno há sempre margem de erro, e que talvez eu tenha ainda de andar um bocado mais antes de encontrar a minha morte. Pode ser. Não sei. Quem sabe?


(Adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 246-248, passim) 
Ao afirmar Matei várias mortes, o cronista está sugerindo que
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A questão exigiu conhecimento em interpretação textual e quer saber qual o que significa “ Matei várias mortes" no texto. Vejamos:


“Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes."



A) Incorreta.

Nem toda superação quer dizer que foi "bravamente", às vezes só sobrevivemos. Outro ponto importante é que a morte pode ter sido algo metafórico.


B) Incorreta.

Não tem nada a ver com encenação, ainda que tenha sido algo metafórico.


C) Correta.


No trecho "a morte representou para mim não chegaram a ser convincentes" nos permite inferir que a morte estava mais na cabeça dele que real. Por isso, ele foi capaz de vencer esses desafios.


D) Incorreta.


As ameaças estavam na cabeça dele, existiam psicologicamente, mas existiam.


E) Incorreta.

Ele pensava que poderia morrer pelas ameaças, mas não supôs que morreu.


Gabarito: C


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Comentários

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GAB.: C

A citação "Matei várias mortes" é observada no seguinte trecho, que remete à ilusória fatalidade mencionada na alternativa:

"...inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso."

Acabou "instragrando" um comentário.

Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes. (...) Mas outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura, tão forte, tão irrespondível, tão parecida comigo que fiquei no mais confuso dos sentimentos. Esta eu não posso matar, esta é a minha morte. O Vinícius de Moraes, que entende muito de morte, disse que nesse terreno há sempre margem de erro, e que talvez eu tenha ainda de andar um bocado mais antes de encontrar a minha morte. Pode ser. Não sei. Quem sabe?

Gabarito: C

a) superou bravamente todos os riscos de morrer. 

Erro está em TODOS, no trecho "Mas outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura,...Esta eu não posso matar, esta é a minha morte.". De fato Não superou TODOS os riscos de morrer. Afinal, a morte é inevitável.

letra c - venceu os desafios de uma ilusória fatalidade. 

  

Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis (ilusórias fatalidades) que a morte representou para mim não chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes.(venceu os desafios) (...) Mas outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura, tão forte, tão irrespondível, tão parecida comigo que fiquei no mais confuso dos sentimentos. Esta eu não posso matar, esta é a minha morte. O Vinícius de Moraes, que entende muito de morte, disse que nesse terreno há sempre margem de erro, e que talvez eu tenha ainda de andar um bocado mais antes de encontrar a minha morte. Pode ser. Não sei. Quem sabe?

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