Levando em conta os aspectos gramaticais e linguísticos pres...
Manuelzão e Miguilim
João Guimarães Rosa
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Campo Geral
Um certo Miguilim morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da Vereda-doFrango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas, terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos. Quando completara sete, havia saído dali, pela primeira vez: o Tio Terêz levou-o a cavalo, à frente da sela, para ser crismado no Sucuriju, por onde o bispo passava. Da viagem, que durou dias, ele guardara aturdidas lembranças, embaraçadas em sua cabecinha. De uma, nunca pôde se esquecer: alguém, que já estivera no Mutúm, tinha dito: ― "É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre..." Mas sua mãe, que era linda e com cabelos pretos e compridos, se doía de tristeza de ter de viver ali. Queixava-se, principalmente nos demorados meses chuvosos, quando carregava o tempo, tudo tão sozinho, tão escuro, o ar ali era mais escuro; ou, mesmo na estiagem, qualquer dia, de tardinha, na hora do sol entrar. — "Oê, ah, o triste recanto..." — ela exclamava. Mesmo assim, enquanto esteve fora, só com o tio Terêz, Miguilim padeceu tanta saudade, de todos e de tudo, que às vezes nem conseguia chorar, e ficava sufocado. E foi descobriu, por si, que, umedecendo as ventas com um tico de cuspe, aquela aflição um pouco aliviava. Daí, pedia ao tio Terêz que molhasse para ele o lenço; e tio Terêz, quando davam com um riacho, um minadouro ou um poço de grota, sem se apear do cavalo abaixava o copo de chifre, na ponta de uma correntinha, e subia um punhado d'água. Mas quase sempre eram secos os caminhos, nas chapadas, então tio Terêz tinha uma cabacinha que vinha cheia, essa dava para quatro sedes; uma cabacinha entrelaçada com cipós, que era tão formosa. — "É para beber, Miguilim..." — tio Terêz dizia, caçoando. Mas Miguilim ria também e preferia não beber a sua parte, deixava-a para empapar o lenço e refrescar o nariz, na hora do arrocho. Gostava do tio Terêz, irmão de seu pai.
(...)
João Guimarães Rosa MANUELZÃO E MIGUILIM (Corpo de baile) Editora Nova Fronteira, 11ª edição, 2001 Capa: Victor Burton Ilustrações: Poty ISBN 978- 85-209-1177-8 Digitalização: SCS
Fonte: https://elivros.love/livro/baixar-livro-manuelzao-e-miguilim-joao-guimaraes-rosa-em-epub-pdf-mobi-ou-ler-online
Levando em conta os aspectos gramaticais e linguísticos presentes no texto Manuelzão e Miguilim (fragmento), assinale a única alternativa incorreta.
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Gabarito comentado
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Vamos analisar a questão de concurso público que aborda principalmente conhecimentos de fonologia, derivação e gramática.
A alternativa correta como incorreta é a Alternativa C. Vamos detalhar o porquê:
Alternativa C: "As palavras Campos, ponto, caçoando e estiagem apresentam encontros vocálicos nasalizados."
Neste caso, a afirmação está incorreta porque:
- A palavra Campos apresenta um encontro consonantal nasalizado (o m é nasal), não um encontro vocálico.
- A palavra ponto também tem uma consoante nasal (n), mas não um encontro vocálico nasalizado.
- A palavra caçoando contém um encontro vocálico, mas o vocábulo não é nasalizado.
- A palavra estiagem também não tem encontro vocálico nasalizado.
Agora, vamos examinar as alternativas que não têm erros:
Alternativa A: As palavras Mutúm e Terêz, embora oxítonas, devem sim ser acentuadas, o que torna a afirmação correta. São acentuadas por serem oxítonas terminadas em m e z, respectivamente.
Alternativa B: A palavra pedreira é realmente formada por derivação sufixal, tal como cabacinha. Ambas utilizam sufixos para formar novos vocábulos: -eira em pedreira e -inha em cabacinha.
Alternativa D: No período "Mas quase sempre eram secos os caminhos...", a palavra caminhos é realmente o núcleo do sujeito, tornando a oração correta.
Alternativa E: Em todas as ocorrências no texto, a palavra mas atua como uma conjunção adversativa, indicando uma oposição ou contraste, portanto, a afirmação está correta.
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Comentários
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C: Não se trata de encontro vocálico ,e sim de dígrafo vocálico = vogal+ M/N
Quando há uma não haverá outra e vice e versa
Encontros vocálicos são encontros de vogais ou semivogais, sem consoantes intermediárias. Eles acontecem na mesma ou em outra sílaba, sendo classificados em: ditongo, tritongo e hiato.
Exemplos: lua, madeira, Uruguai.
Gabarito: C.
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