Assinale a alternativa que justifica o emprego das vírgulas...

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Q1685834 Português
Leia o conto, de Heloísa Seixas, publicado na revista Domingo do Jornal do Brasil em 02/04/2006, para responder a questão.. 

Viajante

Lá está ela.
Vergada, sim – mas soberba. O cabelo branco preso num coque no alto da cabeça, o corpo muito magro apoiado na bengala. Parada junto ao meio-fio, do outro lado da rua, prepara-se para atravessar.
Eu a vejo de longe, mas sua presença se impõe. O vestido é simples, de algodão talvez, um corte reto, sem mangas, sem bolsos. Os sapatos, um mocassim preto, de gáspea alta, pesado mas firme, talvez pela necessidade de um bom apoio para pés tão incertos, tão cansados. Na mão direita, a bengala; na esquerda, uma sacola de plástico, de supermercado. Tudo muito prosaico, simples, e no entanto há uma aura de majestade ali.
Agora, o sinal abriu. E ela começa a atravessar. 
Da outra calçada, parada, observo. Ela desce o meio-fio com um passo leve, incerto, quase etéreo. Começo a me preocupar. Sei que aquele sinal é um sinal de pedestre e, como vivemos sob a tirania do automóvel, ele abre e fecha muito rápido. Os carros não podem esperar. Não vai dar tempo, penso. Mas a mulher não parece se importar.
Um passo depois do outro, lá vai ela, com todo o vagar do mundo, apoiando-se em sua bengala. E o sinal começa a piscar, anunciando que o tempo do ser humano se esgota, que este precisa abrir caminho para a máquina.
Estremeço, pensando: preciso fazer alguma coisa. Mas não faço. Continuo imóvel, pregada ao chão.
Pronto. O sinal fechou. E ela ainda está no meio da rua. Mas nenhum carro avança, parecem contidos pela realeza da mulher. E ela segue, sem apressar o passo, sem olhar para os lados, sem temor algum. Parece maior do que todos nós, do que o mundo inteiro, parece nos falar de uma outra maneira de viver, mais amena, mais gentil. Viajante do tempo, é como se caminhasse por uma Ipanema de setenta anos atrás. 
Só quando afinal sobe na calçada do outro lado, só então, os automóveis arrancam. E eu a vejo afastar-se, no mesmo e imperturbável passo.
Talvez eu devesse ter ido ao seu encontro, tentado ajudar. Mas não pude. Sua dignidade, tamanha, me intimidou. E fiquei ali, imóvel, esmagada pela imponência daquela mulher-navio que, impávida e majestosa, singrava o tempo.
Disponível em: https://heloisaseixas.com.br/contos-minimos/2006-2/ 
Assinale a alternativa que justifica o emprego das vírgulas no excerto abaixo.
“Da outra calçada, (1) parada, (2) observo. Ela desce o meio-fio com um passo leve, (3) incerto, (4) quase etéreo.”
Alternativas

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Vamos analisar a questão proposta, que trata sobre o correto uso das vírgulas em um excerto de um conto. A alternativa correta é: B - Nas ocorrências (1) e (2), as vírgulas isolam a oração reduzida e, em (3) e (4), separam termos coordenados.

Para entender por que essa é a alternativa correta, precisamos compreender algumas regras de pontuação. No trecho “Da outra calçada, (1) parada, (2) observo.”, as vírgulas (1) e (2) estão isolando a expressão "parada", que, na verdade, funciona como uma oração reduzida de gerúndio, indicando uma condição ou estado do sujeito ao realizar a ação de observar. O uso dessas vírgulas é, portanto, para isolar essa parte da frase.

No excerto “Ela desce o meio-fio com um passo leve, (3) incerto, (4) quase etéreo.”, as vírgulas (3) e (4) estão ali para separar termos que são coordenados, isto é, termos que têm a mesma função sintática. Aqui, "leve", "incerto" e "etéreo" são adjetivos que qualificam o substantivo "passo", sendo, portanto, coordenados. As vírgulas indicam essa coordenação de ideias.

Agora, vamos examinar por que as outras alternativas estão incorretas:

A - Todas as ocorrências de vírgulas servem para separar orações e indicam pausa para respiração do leitor.

Esta alternativa está incorreta porque as vírgulas em questão não estão separando orações individuais. Além disso, o conceito de vírgulas servindo como pausa para respiração é uma explicação muito simplificada e não técnica, inadequada para analisar sintaticamente o uso delas.

C - Em (1) e (2), as vírgulas separam adjuntos adverbiais e, em (3) e (4), separam vocativos.

Essa opção está errada porque a expressão "parada" não é um adjunto adverbial; é uma oração reduzida. Além disso, "leve", "incerto" e "etéreo" não são vocativos, mas sim adjetivos coordenados.

D - Todas as ocorrências de vírgulas servem para isolar elementos que fazem parte de enumerações e têm igual função sintática.

Na primeira parte do excerto, as vírgulas não estão isolando elementos de enumeração, mas sim uma oração reduzida. Portanto, essa alternativa não se aplica a todas as ocorrências de vírgulas.

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Comentários

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CUIDADO

A questão não apresenta gabarito correto.

“Da outra calçada, (1) parada, (2) observo. Ela desce o meio-fio com um passo leve, (3) incerto, (4) quase etéreo.”

Diferente do que afirma a banca quando das virgulas de número 1 e 2, não estamos diante de oração reduzida. É mister percebermos a impossibilidade de concebermos qual seria a oração desenvolvida equivalente.

A construção, em verdade, destituída de sua ordem direta, apresenta caso de adjetivo adverbializado, em que um adjetivo, no caso em tela "parada", assume papel de adverbio e dá uma circunstancia ao verbo. Podemos ter melhor visualização reorganizando a construção.

"(Eu) observo parada da outra calçada"

Visto isso, o mais pertinente seria afirmarmos que a virgula se faz presente devido a intercalação de termos da oração.

É de se salientar que as virgulas de número 3 e 4 estão presentes com base na separação de termos de mesma função sintática.

Gabarito da banca na alternativa B

Gabarito correto ausente

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