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Q2696368 Português

HISTÓRIA DE BEM-TE-VIS


(1º§) O ano passado, aqui nas mangueiras dos

meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-tevi

caprichoso, muito moderno, que se recusava

a articular as três sílabas tradicionais do seu

nome. Limitava-se a gritar: “... te vi!... te vi!...”

com a maior irreverência gramatical. Como

dizem que as últimas gerações andam muito

rebeldes e novidadeiras, achei natural que

também os passarinhos estivessem

contagiados pelo novo estilo humano.

(2º§) Mas logo a seguir, o mesmo passarinho –

ou seu filho, seu irmão, como posso saber, com

a folhagem cerrada da mangueira? – animou-se

a uma audácia maior. Não quis saber das duas

sílabas, e gritava apenas, daqui, dali, invisível e

brincalhão: “...vi!...vi!...” – o que me pareceu

ainda mais divertido.

(3º§) O tempo passou. O bem-te-vi deve ter

viajado; talvez seja cosmonauta, talvez tenha

voado com o seu time de futebol!...afinal tudo

pode acontecer com bem-te-vis tão

progressistas, que rompem com o canto da

família e mudam os lemas dos seus brasões.

Talvez tenha sido atacado por esses crioulos

fortes que agora saem do mato de repente e

disparam sem razão nenhuma contra o primeiro

vivente que encontram.

(4º§) Mas hoje tornei a ouvir um bem-te-vi

cantar. E cantava assim: “Bem-bem-bem...tevi!”

Pensei: “É uma nova escola poética que se

eleva das mangueiras!...” Depois o passarinho

mudou. E fez: “Bem-te-te-vi!” Tornei a refletir:

“Deve ser pequenino e estuda a sua cartilha...”

E o passarinho: “Bem-bem-bem-te-te-te-vi-vivi...!”

(5º§) Os ornitólogos devem saber se isto é caso

comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido coisa

igual. Mas as crianças, que sabem mais do que

eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram,

pensaram, e disseram: “Que engraçado! Um

bem-te-vi gago!” Então, talvez seja mesmo só

gagueira...

(Cecília Meireles)

Dentre as críticas contidas no texto, marque o trecho que se pode relacionar com melhor propriedade ao som do canto dos bem-te-vis com o despreparo dos falantes da Língua Portuguesa.

Alternativas

Comentários

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A letra A – “com a maior irreverência gramatical” – também poderia ser vista como uma crítica ao despreparo na língua, mas ela se refere mais a um comportamento irreverente ou desrespeitoso em relação às normas gramaticais, e não tanto a uma falha específica na pronúncia ou na forma de "cantar" a língua. A palavra "irreverência" sugere uma atitude de desconsideração ou provocação às regras da gramática, e não uma deficiência ou falha concreta no uso da língua, como é o caso da ideia de "gagueira" apresentada na letra E.

No entanto, se pensarmos na irreverência como algo que "quebra" as convenções, pode haver uma relação indireta com o despreparo na linguagem, já que se trata de uma atitude desleixada ou pouco cuidadosa em relação à forma linguística. Mas, nesse caso, a crítica na letra A parece mais focada em um comportamento (de não seguir as regras) do que em uma falha específica de "execução" ou "pronúncia" que seria mais diretamente associada à ideia de um canto "gago", como na letra E.

Portanto, a letra E oferece uma analogia mais direta ao conceito de falha linguística em termos de fala (gagueira), enquanto a letra A lida com uma questão mais ampla e genérica de irreverência às normas gramaticais.

Acho que caberia recursos em.

Nuss!! Difícil heim!!!

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