A respeito das ideias, dos aspectos linguísticos e da classi...
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Com base no mesmo assunto
Ano: 2023
Banca:
CESPE / CEBRASPE
Órgão:
FUB
Provas:
CESPE / CEBRASPE - 2023 - FUB - Analista de Tecnologia da Informação
|
CESPE / CEBRASPE - 2023 - FUB - Físico |
CESPE / CEBRASPE - 2023 - FUB - Médico - Área: Psiquiatria |
CESPE / CEBRASPE - 2023 - FUB - Psicólogo - Área: Clínica |
CESPE / CEBRASPE - 2023 - FUB - Psicólogo - Área: Escolar |
Q2232944
Português
Texto associado
Em 1978, recebi o título de doutor honoris causa da
Sorbonne. Dei, então, um testemunho pessoal, aproveitando a
oportunidade única de autoapreciação que a velha Universidade
me abria. Sendo quem sou, jamais a perderia.
“Senhoras e senhores:
Obrigado. Muito obrigado pelo honroso título que me
conferem. Eu me pergunto se o mereci. Talvez sim, não,
certamente, por qualquer feito, ou qualidade minha. Sim, como
consolidação de meus muitos fracassos.
Fracassei como antropólogo no propósito mais generoso
que me propus: salvar os índios do Brasil. Sim, simplesmente
salvá-los. Isto foi o que quis. Isto é o que tento há trinta anos.
Sem êxito.
Fracassei também na minha principal meta como Ministro
da Educação: a de pôr em marcha um programa educacional que
permitisse escolarizar todas as crianças brasileiras. Elas não
foram escolarizadas. Menos da metade das nossas crianças
completam quatro séries de estudos primários.
Fracassei, por igual, nos dois objetivos maiores que me
propus como político e como homem do governo: o de realizar a
reforma agrária e de pôr sob o controle do Estado o capital
estrangeiro de caráter mais aventureiro e voraz.
Outro fracasso meu, nosso, que me dói especialmente
rememorar neste augusto recinto da Sorbonne foi o de reitor da
Universidade de Brasília. Tentamos lá, com o melhor da
intelectualidade brasileira, e tentamos em vão, dar à nova capital
do Brasil a universidade necessária ao desenvolvimento nacional
autônomo. Ousamos ali — e esta foi a maior façanha da minha
geração — repensar radicalmente a universidade, como
instituição central da civilização, com o objetivo de refazê-la
desde as bases. Refazê-la para que, em vez de ser
universidade-fruto, reflexo do desenvolvimento social e cultural
prévio da sociedade que mantém, fosse uma
universidade-semente, destinada a cumprir a função inversa, de
promover o desenvolvimento.
Nosso propósito era plantar na cidade-capital a sede da
consciência crítica brasileira que para lá convocasse todo o saber
humano e todo élan revolucionário, para a única missão que
realmente importa ao intelectual dos povos que fracassaram na
história: a de expressar suas potencialidades por uma civilização
própria.
O que pedíamos à Universidade de Brasília é que se
organizasse para atuar como um acelerador da história, que nos
ajudasse a superar o círculo vicioso do subdesenvolvimento,
o qual, quanto mais progride, mais gera dependência e
subdesenvolvimento.
Desses fracassos da minha vida inteira, que são os únicos
orgulhos que eu tenho dela, eu me sinto compensado pelo título
que a Universidade de Paris VII me confere aqui, agora.
Compensado e estimulado a retomar minha luta contra o
genocídio e o etnocídio das populações indígenas; e contra todos
que querem manter o povo brasileiro atado ao atraso e à
dependência.
Obrigado. Muito obrigado.”
Darcy Ribeiro. Testemunho. São Paulo: Editora Siciliano, 1990 (com adaptações).
A respeito das ideias, dos aspectos linguísticos e da classificação tipológica do texto anterior, julgue o item seguinte.
O emprego do acento diferencial no vocábulo ‘pôr’, no quinto e no sexto parágrafos, é obrigatório.
O emprego do acento diferencial no vocábulo ‘pôr’, no quinto e no sexto parágrafos, é obrigatório.