“Vejo-me diante de uma ESPINHOSA tarefa” Considerando o pon...
Texto para responder à questão.
Eu vos abraço milhões
De uma coisa posso me orgulhar, caro neto: poucos chegam, como eu, a uma idade tão avançada, àquela idade que as pessoas costumam chamar de provecta. Mais: poucos mantêm tamanha lucidez. Não estou falando só em raciocinar, em pensar; estou falando em lembrar. Coisa importante, lembrar. Aquela coisa de “recordar é viver” não passa, naturalmente, de um lugar-comum que jovens como você considerariam até algo meio burro: se a gente se dedica a recordar, quanto tempo sobra para a vida propriamente dita? A vida, que, para vocês, transcorre principalmente no mundo exterior, no relacionamento com os outros? Esse cálculo precisa levar em conta a expectativa de vida, precisa quantificar (como?) prazeres e emoções. É difícil de fazer, exige uma contabilidade especial que não está ao alcance nem mesmo das pessoas vividas e supostamente sábias. Que eu saiba, não há nenhum programa de computador que possa ajudar — e, mesmo que houvesse, eu não saberia usá-lo, sou avesso a essas coisas. Vejo-me diante de uma espinhosa tarefa: combinar muito bem a vivência interior, representada sobretudo pela recordação e pela reflexão , com a vivência exterior, inevitavelmente limitada pela solidão, pela incapacidade física, pelo fato de que tenho mais amigos entre os mortos do que entre os vivos. E, de novo, qual a fórmula adequada para essa combinação?
[...]
Não sei. Só sei que recordar é bom, e é das poucas possibilidades que me restam, de modo que recordo. É uma espécie de exercício emocional, é um estímulo para os meus cansados neurônios, mas é sobretudo um prazer. Um prazer melancólico, decerto, mas um prazer, sim, resultante da facilidade com que evoco pessoas, acontecimentos, lugares, uma facilidade que às vezes surpreende a mim próprio. Para alguns, mesmo não muito velhos, o rio da memória é um curso de água barrenta que flui, lento e ominoso, trazendo destroços, detritos, cadáveres, restos disso ou daquilo; para mim, não: é uma vigorosa corrente de água límpida e fresca.
SCLIAR, Moacyr. Eu vos abraço milhões. São Paulo: Companhia
das Letras, 2010, p. 7-8.
Comentários
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Gab B
A palavra ESPINHOSA se refere (restringe) a tarefa
A meu ver, o vocábulo "Espinhosa" é restritivo por ser um adjetivo que atribui uma característica especifica à "tarefa". O que justificaria o gabarito. Contudo, poderia ser uma critica, de mesmo modo... Seguimos!
Gabarito, B.
#estabilidadesim #nãoareformaadministrativa
Concordo com Luciano Moscon.
Os adjetivos possuem duas classificações, dentre outras:
Explicativo: quando exprime uma qualidade própria do ser. Neve fria (a neve só pode ser fria).
Restritivo: quando exprime uma qualidade que não é própria do ser. Fruta madura (nem toda fruta é madura, há outras possibilidades de estado da fruta).
ADJETIVO RESTRITIVO: particulariza o significado do substantivo a que se refere, uma qualidade que não é própria do ser: fruta madura, homem baixo, céu alaranjado, etc.
ADJETIVO EXPLICATIVO: exprime características inerentes ao substantivo a que se refere, uma qualidade própria do ser: fogo quente, neve fria, céu azul, etc.
Fonte: https://www.infoescola.com/portugues/adjetivo-restritivo-e-explicativo/ (acesso em 18/11/2020)
Questão mal elaborada, gabarito errado. Considerando o ponto de vista expresso pelo autor, a palavra destacada assume o seguinte valor... é uma crítica que ele está fazendo, a questão quer saber o valor semântico do adjetivo e não a sua classificação.
Paciência...
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