A Revista Piauí, no ano do Bicentenário da Independência do ...
A Revista Piauí, no ano do Bicentenário da Independência do país, revisita a história brasileira de acordo com uma perspectiva afrocentrada. O trecho da reportagem a seguir integra o Projeto Querino, liderado pelo jornalista Tiago Rogero.
Durante décadas, milhões de mulheres, sobretudo negras, viveram nos quartos de empregadas no Brasil, às vezes com um filho ou uma filha. Muitas ainda vivem. [...]
O quarto da revolta
folha de papel branco sobre a mesa da sala de uma casa simples na Baixada Fluminense, João Miguel Araújo, de 41 anos, desenha de memória o quartinho de empregada em que viveu por quase vinte anos com a mãe. “Devia ter 1,80 por 2 metros. Dá o quê? [...]”, ele calcula, enquanto risca o papel. “Cabia um beliche, um armário pequeno e a máquina de lavar da família.
E não tinha janela, só um basculante”, conta, agora desenhando o mobiliário. [...] À medida que o garoto crescia, o quartinho ficava menor. Ainda hoje, Araújo se lembra de quando ficava sentado entre a cozinha e a área de serviço, vendo a mãe trabalhar. “Sempre que sinto cheiro de água sanitária, eu me lembro de minha mãe. Ela estava sempre com esse cheirinho”. No pedaço de chão que sobrava para circular no quartinho, ele se divertia com os brinquedos que tinha: pedaços de madeira, caixas de fósforo vazias e outros materiais descartados na casa.
Piauí, ed. 191, ago. 2022 (fragmento).
Com base no texto apresentado, é correto afirmar que