“Ora, caro leitor, você pensa isso porque ainda guarda na c...
Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2022
Banca:
SELECON
Órgão:
Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT
Provas:
SELECON - 2022 - Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT - Professor II - Ciências
|
SELECON - 2022 - Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT - Professor II - Pedagogia |
SELECON - 2022 - Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT - Professor II - Matemática |
SELECON - 2022 - Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT - Professor II - Língua Portuguesa |
SELECON - 2022 - Prefeitura de São José dos Quatro Marcos - MT - Professor II - História |
Q1931460
Português
Texto associado
Texto I
Perguntar é preciso?
Gustavo Bernardo
Não deixa de ser curioso perceber que a escola vive de fazer
perguntas, mas pouco ensina a perguntar. Por que isso
acontece?
Talvez porque as perguntas que se façam na escola não
sejam, em sua maioria, perguntas autênticas. O professor que
pergunta já sabe a resposta. Logo, suas perguntas são antes
retóricas, formuladas não para se explorar uma dúvida real, mas
sim para levar os alunos à resposta que ele deseja. O autor de
uma pergunta autêntica, ao contrário, não sabe previamente a
sua resposta – ele pergunta porque não sabe e quer saber.
A caricatura de uma aula de perguntas inautênticas é
realizada por aquele professor que fala com lacunas: “Quem
descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Ca...? ... Bral, muito bem!”.
Mas chamar a pergunta retórica de “inautêntica” sugere que ela é
apenas negativa, quando na verdade pode ser útil tanto para fixar
o conhecimento quanto para avaliá-lo (com a exceção do caso
extremo acima). Chamemo-la, então, de “escolar”.
Por que o professor precisa fazer também perguntas
autênticas? Primeiro e mais do que tudo, para dar o exemplo de
uma maneira de pensar curiosa, inquisitiva, especulativa, em
resumo: científica. Não há método de educação mais eficiente do
que o velho método do exemplo. Se, como professor, passo para
o meu aluno o exemplo de uma atitude especulativa e
responsável, levo-o a ter a mesma atitude, ou seja, lhe ensino o
principal: não fórmulas decoradas, mas sim como chegar por si
mesmo às fórmulas existentes e ainda produzir novas, mais
eficientes.
O bom exemplo do professor perguntador acompanha uma
metodologia da pergunta. Deve-se estimular o aluno a expressar
as suas dúvidas reais, tanto oralmente quanto por escrito.
Depois, deve-se mostrar como ajuda usar perguntas para estudar
–por exemplo pedindo, como trabalho a ser avaliado, dez
perguntas autênticas sobre o livro que estiver sendo lido. Apenas
a discussão das perguntas formuladas pelos alunos já oferece a
oportunidade para aulas ótimas.
Deve-se mostrar, ainda, como ajuda usar perguntas para
escrever qualquer redação. Veja o leitor como terminei o primeiro
parágrafo e como comecei o quarto parágrafo deste texto: com
perguntas. Cada uma delas não só me ajuda a desenvolver o meu
raciocínio como também ajuda o leitor a acompanhá-lo. A
redação sempre parece mais inteligente, e deixa o seu leitor
igualmente mais inteligente, quando se desenvolve através de
perguntas.
Entretanto, meu leitor, sempre crítico, pode dizer que as
minhas perguntas se confundem com perguntas retóricas,
escolares ou inautênticas (como queiramos chamá-las). Ora,
caro leitor, você pensa isso porque ainda guarda na cabeça a
ideia de que a redação se encontra inteira dentro da cabeça antes
de ser escrita, o que não é verdade. O pensamento se forma à
medida em que é formado, isto é, à medida em que o
expressamos. Só fica claro o que quero dizer quando o digo. Por
isso, as perguntas que faço para o meu próprio texto me ajudam
sobremaneira a pensar e, portanto, a chegar às minhas respostas
e deixá-las claras para o leitor - leitor este que, quando me lê,
sente-se contemplado por um pensamento que respeita o seu
próprio pensamento, ou seja, as suas próprias dúvidas.
Fonte: BERNARDO, Gustavo. Conversas com um professor de literatura.
Rio de Janeiro: Rocco,2013. Adaptado.
“Ora, caro leitor, você pensa isso porque ainda guarda na
cabeça a ideia de que a redação se encontra inteira dentro da
cabeça antes de ser escrita, o que não é verdade.”
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