As Maravilhas da Fazenda ParaísoNo terreiro rústico da Fazen...
No terreiro rústico da Fazenda Paraíso, nos anos da minha adolescência, era certa e esperada aquela comunicação anual. [...] Vinha dos campos e da mangueira um cheiro fecundo de vegetais e de apojo, mugidos intercalados da vacada, que à tarde mansamente descia dos pastos, procurando a frente da fazenda. O terreiro rústico participava desses encantamentos. Naquela comunhão sagrada e rotineira, a gente se sentia feliz e nem se lembrava de que não havia nenhum dinheiro na casa. Pela manhã, muito cedo, meu avô ia verificar o moinho de fubá de milho, o rendimento da noite. O velho e pesado monjolo subia e descia compassado, escachoando água do cocho, cavado no madeirame pesado e bruto. [...] E partia das mangueiras e abacateiros frondosos o arrulho gemido da juriti. Às sete horas, vinha para cima da grande mesa familiar, rodeada de bancos pesados e rudes, a grande panela de mucilagem, mingau de fubá canjica, fino e adocicado, cozido no leite ainda morno do curral. [...] Comia-se com vontade e comida tão boa como aquela nunca houve em parte alguma. O arroz, fumaçando numa travessa imensa de louça antiga, rescendia a pimenta de cheiro. O frango ensopado em molho de açafrão e cebolinha verde, e mais coentro e salsa. O feijão saboroso, a couve com torresmos, enfarinhada ou rasgadinha à mineira, mandioca adocicada e farinha, ainda quentinha da torrada. Comia-se à moda velha. Repetia-se o bocado, rapava-se o prato. Depois, o quintal, os engenhos, o goiabal, os cajueiros, o rego-d’água. Tínhamos ali o nosso Universo. Vivia-se na Paz de Deus. Eram essas coisas na Fazenda Paraíso. E como todo paraíso, só valeu depois de perdido.
CORALINA, Cora. Melhores Poemas: Cora Coralina; seleção Darcy França Denófrio. São Paulo: Global, 2017.
Nesse poema de Cora Coralina, nota-se que o leitor é naturalmente levado a deleitar-se no universo poético idílico, cujos versos representam a ativação da memória, utilizando formas imagéticas e linguísticas que evidenciam lembranças carregadas de afetividade, simplicidade e nostalgia. Assim, a figura de linguagem empregada como recurso expressivo, na construção estético-literária do poema, é:
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Comentários
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A sinestesia que, semanticamente, se configura a partir das marcas sensoriais que trazem à tona lembranças repletas de sensibilidade, onde o ambiente bucólico da fazenda se funde com sons, cheiros, sabores e costumes de um povo.
Gab B
Complementando:
Metonímia: é a substituição de uma palavra por outra, por exemplo: comprei maisena para fazer bolo. Maisena está sendo utilizada no lugar do amido de milho.
Eufemismo: É usado para tornar um enunciado ou palavra mais branda ou agradável e menos agressivo. Exemplo: João sempre foi "cheinho", puxou ao pai; Bruno é limitado, mas não me importo com isso.
Sinestesia: Está associdada com a mistura de sensações relacionadas aos sentidos humanos. Exemplo: perfume doce (olfato + paladar); vermelho gritante (visão + audição); resposta seca (audição + tato); cheiro azedo (olfato + paladar).
Antítese: Quando em uma mesma frase duas palavras ou pensamentos ocorrem em sentido contrário. Exemplo: O leite está quente e o café está gelado; ela está entre a vida e a morte; a vida é assim, cheia de tristezas e alegrias.
"E como todo paraíso, só valeu depois de perdido."
:,)
Quem mais chorou lendo o texto
Lindo texto.. saudades de ser criança! Que chegue nossa hora logo pessoal.. que passemos na nossa prova dos sonhos, e que possamos aproveitar ao máximo dessa vida!
Deus abençoe você e seus planos
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