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Q850037 Português

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De uns tempos pra cá, virou mania explicar alguma coisa fazendo analogia com outra para, ao final, negar essa analogia com um “só que não”: “Esse livro é como se fosse um romance policial, só que não”.

Como sempre, não se sabe ao certo quando e onde surgiu o modismo, mas sabe-se que surgiu num determinado ato de fala de um único indivíduo (provavelmente alguém com forte influência social). Como um meme, essa “mutação” logo contaminou os receptores da mensagem, que passaram a copiar (replicar) a inovação em seus discursos. Em pouco tempo, milhares de pessoas estão usando e passando adiante o vírus “só que não”.

Essa moda lembra as empoladas declarações de Caetano Veloso, que, após discorrer longamente sobre o tudo e o nada, fazendo afirmações muitas vezes polêmicas, conclui com um seco “Ou não”. Ou seja, tudo o que o baiano disse é a mais profunda verdade – ou não. Pérola da lógica aristotélica, essa conclusão releva o óbvio preceito do terceiro excluído: de duas proposições contraditórias, uma é verdadeira; a outra, falsa. Só que, dito assim, o fecho retórico “ou não” anula toda a força argumentativa do que foi afirmado: por que levar em consideração uma opinião se seu próprio emitente admite que pode estar errada?


BIZZOCCHI, Aldo. A prova viva da evolução. Revista Língua. Ed. Segmento, n. 112, p. 27, fev. 2015.


Com base na leitura do trecho, é CORRETO inferir que

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