Afirmando que “não podemos voltar ao passado”, para que se ...

Próximas questões
Com base no mesmo assunto
Ano: 2016 Banca: MPE-GO Órgão: MPE-GO Prova: MPE-GO - 2016 - MPE-GO - Secretário Auxiliar |
Q699155 Português

TEXTO I.

  1. Comida é pasto

Mostrando que com comida não se brinca, o jornalista norte-americano Michael Pollan vem à Flip* defender que voltar à cozinha é um ato político.

“A geladeira de Michael Pollan não tem Coca-Cola, margarina nem leite de amêndoas, nova mania das dietas americanas. Tem saquinhos de plástico com verduras e frutas, potes com feijão e restos do jantar anterior, além de iogurte e leite de caixinha.

Algumas coisas vêm da própria horta, montada na frente de sua casa em Berkeley, na Califórnia. No centro da pequena plantação, rodeada por pés de tomate, abóbora e manjericão, há uma grelha onde ele costuma preparar um porco inteiro uma vez por ano.

[...]

Michael Pollan é um jornalista americano de 59 anos que virou guru da vida saudável ao passar os últimos 15 anos escrevendo reportagens e livros sobre os exageros da indústria alimentícia e alertando sobre nossos excessos à mesa. “ Coma comida, não muita, sobretudo vegetais”, diz seu mantra, explicado no livro “Em Defesa da Comida” (2008), que critica as dietas ocidentais focadas em nutrientes e não em alimentos de verdade.

Ele também lançou o manual “Regras da Comida” (2009), com 64 dicas bem práticas e cheias de bom senso como: “Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida” ou “Compre pratos e copos menores”.

No livro mais recente, “Cozinhar - Uma História Natural da Transformação” (ed. Intrínseca), lançado em 2013 nos EUA e agora no Brasil, ele vai além e pede um comprometimento maior em nome da saúde. Diz que devemos todos voltar à cozinha. Para quem cresceu longe do fogão, parece ser seu conselho mais difícil.,

“Cozinhar sua própria comida é um ato político muito importante”, diz Michael, um homem alto e charmoso, de fala mansa e risada fácil. “Tem a ver com independência e autonomia. Abrimos mão de muito poder ao deixar as grandes corporações cozinharem para nós porque elas decidem quais fazendas vão apoiar e, normalmente, são bem aquelas que fazem um tipo de agricultura que certamente você desaprovaria”, diz, fazendo referência a práticas como confinamento cruel de animais e monoculturas gigantescas.


TEXTO II

Ovos, um bom começo

Digo a ele que eu não cozinho, nem minha mãe, e ele quer saber como fui alimentada. Empregadas domésticas que também fazem comida são comuns no Brasil, afirmo. “Pelo menos, era um humano cozinhando para você, isso é bom. Pena que nem todos têm esse privilégio”, diz. “Ovos são um bom começo”, ele elogia, quando conto que sei fazer omelete.

Um dos problemas de cozinhar, acredita o jornalista, é a lembrança dos velhos arranjos sexistas de poder dentro de casa. Para ele, foi justamente quando homem e mulher começavam a pensar em negociar a divisão de tarefas domésticas que a indústria do fast-food apareceu para resolver o embate. A “liberação feminina” virou tema de propaganda de frango frito nos EUA.

“Se vamos reviver a cultura da cozinha, não podemos voltar ao passado. Precisa ser uma cultura diferente, algo a ser compartilhado por homens, mulheres e crianças”, diz o autor de “O Dilema do Onívoro” (2006), seu primeiro livro sobre a indústria alimentícia, que o lançou como um novo pensador dos hábitos alimentares.

O livro veio depois de uma série de artigos sobre agricultura, como um publicado pelo “New York Times”, no final dos anos 1990, sobre sua visita a uma plantação de batatas geneticamente modificadas. Tudo era controlado por computador porque um dos elementos químicos usados para combater manchas escuras era tão tóxico que o fazendeiro precisava ficar longe do campo por três dias.

As manchas só apareciam nas batatas daquela variedade, a única que a rede McDonald's aceitava comprar, já que as batatas fritas da rede precisam ser iguais no mundo todo. “É fácil culpar o fazendeiro, mas nós demandamos um certo tipo de produto. Somos cúmplices.”

[...]

Quando nos encontramos, ele estava animado com sua primeira viagem ao Brasil. Pretendia passar alguns dias em Salvador antes de ir ao Rio e a Paraty para a Flip. Estava feliz com o encontro que tinha marcado com o médico brasileiro Carlos Augusto Monteiro, professor titular da Faculdade de Saúde Pública da USP que desenvolve pesquisas comparando comidas pelo seu grau de processamento e não apenas pelos nutrientes.

Está curioso para conhecer as churrascarias: “O gado ainda pasta ao ar livre?”, indaga. Michael é daqueles que, antes de pedir, quer saber a origem da carne. “Comer é complicado.”

*Flip — Feira Literária Internacional de Paraty Revista Serafina / Folha de São Paulo, agosto/2014. Comida é pasto, por Fernanda Ezabella. (fragmentos).

Disponível em <http://folha. uol.com. br/fsp/ilustrada>


Afirmando que “não podemos voltar ao passado”, para que se possa revitalizar o hábito de preparar a própria comida, Michael Pollan refere-se à
Alternativas

Gabarito comentado

Confira o gabarito comentado por um dos nossos professores

```html

Tema Central: A questão foca na interpretação de textos e na compreensão de conceitos sociais e culturais abordados por Michael Pollan, especialmente a questão da divisão de tarefas domésticas e a crítica aos arranjos tradicionais de gênero.

Alternativa Correta: E - divisão do trabalho doméstico baseada em papéis de gênero.

Pollan menciona que, para revitalizar a prática de cozinhar em casa, não podemos voltar ao passado no que diz respeito aos papéis de gênero tradicionais. Ele critica a divisão de tarefas que relegava a cozinha exclusivamente às mulheres, e sugere que o hábito de cozinhar deve ser uma atividade compartilhada por todos os membros da família, independentemente do gênero.

Justificativa: No texto, Pollan aborda a questão do sexismo e como a divisão desigual das tarefas domésticas contribuiu para a popularização do fast-food, que surgiu em um contexto em que as mulheres estavam buscando mais autonomia fora do lar. Ele sugere que a revitalização desse hábito deve evitar uma repetição dos antigos papéis de gênero, defendendo uma cozinha como espaço de colaboração e igualdade.

Análise das Alternativas Incorretas:

A - produção de alimentos em pequena escala: O texto não aborda a pequena escala de produção como um problema ou solução na revitalização do hábito de cozinhar. A discussão foca mais na questão social e política relacionada à preparação de alimentos.

B - monocultura praticada na fase pré-industrial: Pollan critica as atuais práticas de monocultura, mas o contexto deste texto se concentra na questão dos papéis de gênero e não na monocultura em si.

C - supremacia do mercado de alimentos fast-food: Embora Pollan critique o fast-food, seu argumento para não "voltar ao passado" está mais associado aos papéis de gênero do que à supremacia do fast-food.

D - disputa por gêneros alimentícios em épocas de crise: A questão não aborda disputas por alimentos em crises, mas sim a divisão de tarefas domésticas e as consequências disso na cultura alimentar.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

```

Clique para visualizar este gabarito

Visualize o gabarito desta questão clicando no botão abaixo

Comentários

Veja os comentários dos nossos alunos

No segundo parágrafo do texto ratifica-se a resposta : " Um dos problemas de cozinhar, acredita o jornalista, é a lembrança dos velhos arranjos sexistas de poder dentro de casa. Para ele, foi justamente quando homem e mulher começavam a pensar em negociar a divisão de tarefas domésticas que a indústria do fast-food apareceu para resolver o embate. "

Gab: E 

O seguinte trecho serve para raciocinar sobre a questão: 

“Se vamos reviver a cultura da cozinha, não podemos voltar ao passado. Precisa ser uma cultura diferente, algo a ser compartilhado por homens, mulheres e crianças”, diz o autor de “O Dilema do Onívoro” (2006), seu primeiro livro sobre a indústria alimentícia, que o lançou como um novo pensador dos hábitos alimentares". 

 

Clique para visualizar este comentário

Visualize os comentários desta questão clicando no botão abaixo