27 de maio de 1958 A tontura da fome é pior do que a do álc...
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Ano: 2023
Banca:
IBGP
Órgão:
Prefeitura de Uberaba - MG
Prova:
IBGP - 2023 - Prefeitura de Uberaba - MG - Professor de Educação Infantil |
Q2568908
Português
27 de maio de 1958
A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago. Comecei a sentir a boca amarga. Pensei: já não basta as amarguras da vida? [...]. Pensei em guardar para comprar feijão. Mas vi que não podia porque o meu estômago reclamava e torturava-me. Resolvi tomar uma média e comprar um pão. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. A comida no estômago é como combustível nas máquinas. Passei a trabalhar mais depressa.
Meu corpo deixou de pesar. [...] Eu tinha a impressão que eu deslizava no espaço. Comecei a sorrir como se eu estivesse presenciando um lindo espetáculo. E haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer? Parece que eu estava comendo pela primeira vez na minha vida.
JESUS, Carolina Maria de (2007). Quarto de despejo: diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, p. 45-46.
O trecho apresentado faz referência `a obra "Quarto de despejo: diário de uma favelada”, um livro da autora mineira Carolina Maria de Jesus. Nesse diário, uma mulher negra, pobre, com dois anos de estudo formal, relata fatos ocorridos na favela do Canindé, em São Paulo, entre os anos de 1955 e 1959. A escritora faz reflexões sobre os acontecimentos e mostra a realidade social do Brasil de meados do século XX." Tendo em vista a obra e o contexto em que ela é apresentada, analise as proposições:
I. O gênero textual utilizado para a escrita da autora é um gênero que consiste no registro frequente de relatos íntimos de uma pessoa sobre as suas impressões e vivências cotidianas. II. O nome “Quarto de despejo” é uma metáfora criada pela autora ao longo de seus escritos no livro em que despejo é o local onde lixos são jogados. No caso da favela, o lixo se refere às pessoas, aos pobres, que não cabem na cidade e são depositados na favela, como lixos. III. No trecho referido, é possível inferir que a narradora-personagem passou fome, cujo significado é de um Brasil, construído em meio às desigualdades e isso é, nitidamente, notado ao observarmos como se dá a má distribuição de recursos e as possibilidades de acesso à alimentação e o direito à vida em geral.
Em relação aos itens apresentados, é CORRETO o que se afirma em
A tontura da fome é pior do que a do álcool. A tontura do álcool nos impele a cantar. Mas a da fome nos faz tremer. Percebi que é horrível ter só ar dentro do estômago. Comecei a sentir a boca amarga. Pensei: já não basta as amarguras da vida? [...]. Pensei em guardar para comprar feijão. Mas vi que não podia porque o meu estômago reclamava e torturava-me. Resolvi tomar uma média e comprar um pão. Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos. A comida no estômago é como combustível nas máquinas. Passei a trabalhar mais depressa.
Meu corpo deixou de pesar. [...] Eu tinha a impressão que eu deslizava no espaço. Comecei a sorrir como se eu estivesse presenciando um lindo espetáculo. E haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer? Parece que eu estava comendo pela primeira vez na minha vida.
JESUS, Carolina Maria de (2007). Quarto de despejo: diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, p. 45-46.
O trecho apresentado faz referência `a obra "Quarto de despejo: diário de uma favelada”, um livro da autora mineira Carolina Maria de Jesus. Nesse diário, uma mulher negra, pobre, com dois anos de estudo formal, relata fatos ocorridos na favela do Canindé, em São Paulo, entre os anos de 1955 e 1959. A escritora faz reflexões sobre os acontecimentos e mostra a realidade social do Brasil de meados do século XX." Tendo em vista a obra e o contexto em que ela é apresentada, analise as proposições:
I. O gênero textual utilizado para a escrita da autora é um gênero que consiste no registro frequente de relatos íntimos de uma pessoa sobre as suas impressões e vivências cotidianas. II. O nome “Quarto de despejo” é uma metáfora criada pela autora ao longo de seus escritos no livro em que despejo é o local onde lixos são jogados. No caso da favela, o lixo se refere às pessoas, aos pobres, que não cabem na cidade e são depositados na favela, como lixos. III. No trecho referido, é possível inferir que a narradora-personagem passou fome, cujo significado é de um Brasil, construído em meio às desigualdades e isso é, nitidamente, notado ao observarmos como se dá a má distribuição de recursos e as possibilidades de acesso à alimentação e o direito à vida em geral.
Em relação aos itens apresentados, é CORRETO o que se afirma em