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Q2447994 Português
É tempo de pós-amor


       Cansei de amor! Quantos filmes, entrevistas, artigos, livros sobre amor cruzaram seu caminho ultimamente? Em uma semana, assisti a um vídeo, vi um filme, li meio livro e participei de um debate na televisão. Tudo sobre amor. E ouvi as pessoas – provavelmente também eu própria – dizerem coisas pertinentes e bem ditas que, de tão pertinentes e repetidas, já se tornaram chavões comportamentais, e parecem fichas de computador dissecadas de qualquer verdade emocional. E de repente está me dando uma urticária na alma, um desconforto interno que em tudo se assemelha à indigestão.
        Estamos fazendo com o amor o que já fizemos com o sexo. Na década passada parecia que tínhamos reinventado o sexo. Não se pensava, não se falava, não se praticava outro assunto. Toda a nossa energia pensante, todo o nosso esforço vital pareciam concentrados na imensa cama que erguíamos como única justificativa da existência humana. Transformamos o sexo em verdade. Adoramos um novo bezerro de ouro.
            Mas o ouro dos bezerros modernos é de liga baixa, que logo se consome na voracidade da mass media. O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo. E logo a sociedade começou a olhar em volta, à procura de um outro objeto de adoração. Destronado o sexo, partiu-se para a grande festa de coroação do amor.
          Agora, aqui estamos nós, falando pelos cotovelos, analisando, procurando, destrinchando. E desgastando. Antes, quando eu pensava numa conversa séria, direita, com a pessoa que se ama, sabia a que me referia. Mas agora, quando ouço dizer que “o diálogo é fundamental para a manutenção dos espaços”, não sei o que isso quer dizer, ou melhor, sei que isso não quer dizer mais nada. Antes, quando eu pensava ou dizia que amor é fundamental, tinha a exata noção da diferença entre o fundamental e o absoluto. Mas agora, quando eu ouço repetido de norte a sul, como num gigantesco eco, que “a vida sem amor não tem sentido”, fico com a impressão de estar ouvindo um slogan publicitário e me retraio porque sei que estão querendo me impor um produto.
         A vida sem amor pode fazer sentido, e muito. É bom que a gente recomece a dizer isso. Mesmo porque há milhões de pessoas sem amor, que viveriam bem mais felizes se de repente a voz geral não lhes buzinasse nos ouvidos que isso é impossível. O mundo só andou geometricamente aos pares na Arca de Noé. Fora disso, anda emparelhado quem pode, quando pode. E o resto espera uma chance, sem nem por isso viver na escuridão.
       Antes que se frustrem as expectativas, como aconteceu com o sexo, seria prudente descarregar o amor, tirar-lhe dos ombros a responsabilidade. Ele não pode nos dar tudo. Nada pode nos dar tudo. Porque o tudo não existe. O que existe são parcelas, que, eternamente somadas e subtraídas, multiplicadas e divididas, nos aproximam e afastam do tudo. E a matemática dessas parcelas pode ser surpreendente: quando, como está acontecendo agora, tentamos agrupá-las todas em cima de uma única parcela – o amor –, elas não se somam, pelo contrário, se fracionam, causando o esfacelamento da parcela-suporte.
        Amor criativo é ótimo, dizem todos. E é verdade. Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida. Solta, ela terá possibilidades de contaminar o cotidiano, permear a vida toda e voltar a abastecer o amor, sem deixar-se absorver e esgotar por ele. Dedicar-se à relação é importante, dizem todos. E é verdade. Mas qualquer um de nós tem inúmeras relações, de amizade, vizinhança, sociais, e anda me parecendo que concentrar toda a dedicação na relação amorosa pode custar o empobrecimento das outras.
             Sim, o amor é ótimo. Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores e passar a ser vivido com mais naturalidade. Quando readquirirmos a noção de que não é mais vital do que comer e banhar o corpo em água fria nem mais tranquilizador do que ter amigos e estar de bem com a própria cara. Quando aceitarmos que não é o sal da terra, simplesmente porque a terra é seu próprio sal, e é ela que dá sabor ao amor.


(COLASANTI, Marina. 1937- Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.)
Levando-se em consideração o valor semântico especificado pelas expressões sublinhadas, assinale a opção correta.
Alternativas

Gabarito comentado

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A alternativa correta é a Alternativa A.

Vamos entender o porquê:

Alternativa A: “[...] como está acontecendo agora, [...]”conformidade.

A palavra "como" neste contexto é usada para indicar conformidade, ou seja, algo que ocorre de maneira semelhante ao que foi descrito anteriormente. Portanto, a alternativa está correta porque a expressão sublinhada realmente expressa a ideia de conformidade.

Alternativa B: Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores [...]”explicação.

A palavra "porém" é uma conjunção adversativa, que introduz uma ideia de oposição ou contraste, e não de explicação. Sendo assim, a alternativa está incorreta porque “porém” não tem valor semântico de explicação.

Alternativa C: “O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo.”consequência.

A conjunção "porque" é causal, ou seja, explica a razão ou o motivo de algo, e não uma consequência. A frase indica a causa da frustração com o sexo, e não uma consequência. Portanto, a alternativa está incorreta.

Alternativa D: Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida.”causa.

A palavra "mas" é uma conjunção adversativa, que indica contraste ou oposição. Ela não expressa causa. A frase está apresentando uma ideia que contrasta com a anterior. Por isso, a alternativa também está incorreta.

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Comentários

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✔️ PARA AJUDAR A FIXAR

A) “[...] como está acontecendo agora, [...]” (6º§) – conformidade.

  • Como pode ser CAUSAL, COMPARAÇÃO, CONFORMIDADE.
  • Conformidade é o caso do gabarito. Tal qual está acontecendo agora(...) Segundo está acontecendo agora(...)

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B)  “Porém acho que vai ficar muito melhor quando sair do foco dos refletores [...]” (8º§) – explicação

  • Adversativa

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C)  “O sexo não nos deu tudo o que dele esperávamos, porque dele esperávamos tudo.” (3º§) – consequência.

  • A explicação vindo depois de dizer porque o sex8 não nos deu tudo.
  • POIS dele esperávamos
  • PORQUANTO dele esperávamos

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D) Mas melhor ainda é pegar uma parte da criatividade que está concentrada no amor, e jogá-la na vida.” (7º§) – causa.

  • Adversativa

Bons estudos

Vamos juntos!!

✍ GABARITO: A

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