“Não me consta que já houvesse um ‘diferenciado’ negativamen...

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Q2876210 Português

Texto II


PALAVRA PEJORATIVA

O uso do termo “diferenciada” com sentido negativo ressuscita o preconceito de classe


“Você já viu o tipo de gente que fica ao redor das

estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gen-

te diferenciada.” As palavras atribuídas à psicóloga

Guiomar Ferreira, moradora há 26 anos do bairro Hi-

5 gienópolis, em São Paulo, colocaram lenha na polê-

mica sobre a construção de uma estação de metrô na

região, onde se concentra parte da elite paulistana.

Guiomar nega ser a autora da frase. Mas a autoria,

convenhamos, é o de menos. A menção a camelôs

10 e usuários do transporte público ressuscitou velhos

preconceitos de classe, e pode deixar como lembran-

ça a volta de um clichê: o termo “diferenciada”.

A palavra nunca fora usada até então com viés

pejorativo no Brasil. Habitava o jargão corporativo

15 e publicitário, sendo usada como sinônimo vago de

algo “especial”, “destacado” ou “diferente” (sempre

para melhor).

– Não me consta que já houvesse um “diferencia-

do” negativamente marcado. Não tenho nenhum co-

20 nhecimento de existência desse “clichê”. Parece-me

que a origem, aí, foi absolutamente episódica, nas-

cida da infeliz declaração – explica Maria Helena Mou-

ra Neves, professora da Unesp de Araraquara (SP) e

do Mackenzie.

25___Para a professora, o termo pode até ganhar as

ruas com o sentido negativo, mas não devido a um

deslizamento semântico natural. Por natural, entenda-

se uma direção semântica provocada pela con-

figuração de sentido do termo originário. No verbo

30 “diferenciar”, algo que “se diferencia” será bom, ao

contrário do que ocorreu com o verbo “discriminar”,

por exemplo. Ao virar “discriminado”, implicou algo

negativo. Maria Helena, porém, não crê que a nova

acepção de “diferenciado” tenha vida longa.

35___– Não deve vingar, a não ser como chiste, aquelas

coisas que vêm entre aspas, de brincadeira –

emenda ela. [...]


MURANO, Edgard.

Disponível em: <http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=12327>.

Acesso em: 05 jul. 2011. Adaptado.

“Não me consta que já houvesse um ‘diferenciado’ negativamente marcado.” (l. 18-19)


A respeito da ocorrência da forma verbal houvesse, destacada no trecho, teceram-se os seguintes comentários:


I - A forma verbal houvesse, nessa estrutura, tem valor de existisse, e se apresenta como verbo impessoal.

II - O verbo haver, quando impessoal, transmite sua impessoalidade a auxiliares.

III - A forma verbal houvesse, nesse trecho, desempenha uma função de verbo auxiliar.


É correto o que se afirma em

Alternativas