Está correta a redação deste livre comentário:
Ilusões do mundo
Afinal, é mesmo assim: quase sempre nos iludimos. Aquelas nuvens que me pareciam tão de passagem reuniram-se em grupos compactos e prepararam um pequeno dilúvio sobre estes vales de Lindoia. Assim, os forasteiros, surpreendidos, ficaram privados de seus passeios, e as crianças, em turbilhão, começaram a aparecer por baixo de mesas. E foi por isso que os salões do hotel se viram repletos de alaridos.
Imagina-se que deva ser penoso para um turista ver-se de repente privado das alegrias do ar livre. Mas as virtudes destas águas de Lindoia são tamanhas que aqui ninguém se perturba com os contratempos. Benditas águas... Benditas não só por esse otimismo que propiciam como pelas curas reais que se lhes atribuem. Este conta que se achava repleto de cálculos e agora está livre deles. O que se amofinava com as suas alergias, já nem se lembra mais delas. Tudo graças a copinhos de água, a banhos de imersão e a não sei quantas outras modalidades de aplicações.
Aprecio essas maravilhas que me são referidas, mas na verdade o que mais me impressiona é o bom humor que observo em redor de mim. Se as pessoas esbarrarem umas nas outras, cometerem, enfim, esses pequenos desatinos que se observam no convívio dos hotéis, há uma cordialidade generalizada que arredonda as arestas da agressividade.
Acontece, porém, que encontro um sábio que anda perdido sob estas árvores. E o sábio não participa do otimismo geral. O sábio está desgostoso com os apartamentos que já se vão acumulando neste lugar de fontes privilegiadas. Ele vê as coisas em profundidade, e suas previsões são desanimadoras. A bacia destas águas está ameaçada pelas construções que vão sendo feitas indiscriminadamente. A floresta primitiva está quase desaparecida, e não está sendo recomposta, para a devida proteção dos mananciais. Os sábios são, como os artistas, quase sempre melancólicos. Porque avistam mais longe, porque antes que as coisas aconteçam já estão padecendo com as suas consequências... O sábio amava as águas miraculosas. Estava sofrendo por elas. Era a única pessoa triste, no meio de tanto bom humor. Mas era a pessoa mais esclarecida. E, por sua causa, e por sua sapiência, aquele paraíso me pareceu precário, e fiquei também inclinada sobre Lindoia, carpindo, desde já, a possibilidade do seu desaparecimento...
(Adaptado de: MEIRELES, Cecília. Ilusões do mundo. São Paulo: Global Editora, 2014, 1a edição digital)
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GABARITO: LETRA D
A) Quando não se controlam a propagação de construções próximas a mananciais, permitindo que sejam feitas de modo indiscriminado, isso pode ameaçar a bacia de águas medicinais ? temos uma voz passiva sintética (=se); o correto é "controla" concordando com o sujeito paciente "propagação".
B) É de se deduzir que se frusta um turista cujas condições climáticas impeçam-no de usufruir das atividades ao ar livre ? um turista se frusta COM alguma coisa (=com condições).
C) No convívio dos hotéis, é comum que se veja pessoas esbarrarem umas nas outras e cometerem pequenos deslizes referentes as normas sociais ? temos uma voz passiva sintética (=se); o correto é "vejam" concordando com o sujeito paciente "pessoas".
D) Há aqueles que se sentem desgostosos com a ampliação de apartamentos em lugares onde se encontram fontes privilegiadas pela composição de suas águas.
E) Uma floresta primitiva quando quase desaparecida, deve ser reflorestada, recorrendo-se à espécies nativas naturais ? recorrendo-se a alguma coisa (=preposição "a"), mas temos um substantivo no plural e ele é acompanhando pelo artigo definido "as", o correto é "às espécies".
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? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
Na letra C o correto seria: ...referente às normas...
Arthur Carvalho, ótimo comentário, porém gostaria de adicionar que:
A) Também está incorreta a grafia da palavra "frusta", o correto é "frustra".
C) O erro aqui não é o verbo "veja", mas sim, a falta da crase em "referente as normas sociais".
"É comum que se veja pessoas esbarrarem uma nas outras" equivale a "É comum que se veja isso", o núcleo é a ação, não "pessoas".
E) Há outro erro, o sujeito está separado do verbo por vígula:
Uma floresta (sujeito) primitiva quando quase desaparecida, deve (verbo) ser reflorestada, recorrendo-se à espécies nativas naturais.
Não entendi essa B, pq ..com condições climáticas impeçam-no.. (?)
É de se deduzir que se frusta um turista cujas condições climáticas impeçam-no de usufruir das atividades ao ar livre
A meu ver o erro está na grafia da palavra que é frustrar assim como na utilização da colocação verbal que deveria ser FRUSTRE
É de se deduzir que um turista cujas condições climáticas impeçam-no de usufruir das atividades ao ar livre se FRUSTRE
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