Considere o fragmento abaixo para responder a questão seguin...
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Q763578
Português
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O Sudoeste e a Casuarina
(Joel Silveira)
Entre a fuga do vento Nordeste e o primeiro sopro frio do
Sudoeste, há um instante vazio e ansioso: as cigarras calam, se
eriçam as águas da lagoa e as casuarinas, que se balançavam
indolentes, imobilizam-se na rigidez morta e reta dos ciprestes.
Os urubus debandam das palmeiras, os pescadores recolhem
as velas, e daqui da varanda vejo os lagartos procurarem
medrosos os seus esconderijos. “É o sudoeste”, penso, e logo
ele chega carpindo penas e desgraças que não são suas.
“Estou vindo do mar alto, trago histórias”, diz ele com a
sua voz agourenta. Ao que responde, enfastiada, a Casuarina:
“Detesto as tuas histórias”.
Também eu, porque sei o que significa pra mim o pranto
desatado e frio. Logo esta varanda, que o Nordeste amornara
para o meu sono, estará tomada por tudo o que o vento ruim
traz consigo: a baba do oceano doente, a escuma amarela e
pútrida, o calhau sangrento, o grito derradeiro dos náufragos,
os olhos esbugalhados das crianças afogadas que não
entenderam o último instante, o hálito pesado do marinheiro
que morreu bêbado e blasfemo, o lamento do grumete que o
mastaréu partido matou e atirou ao mar.
Assim são as histórias do Sudoeste. Ouvindo-as (e tenho
de ouvi-las, como se elas viessem de dentro de mim, como se
por dentro eu tivesse mil frinchas por entre as quais o Sudoeste
passa e geme) ressuscito os meus mortos e minhas tristezas
e a eles incorporo a amargura dos incertos e a angústia
sobressaltada dos que têm medo – tão minhas agora. E vejo,
destacada na escuridão como uma medusa no mar, a mão
lívida do meu pai morto, imobilizada no gesto, talvez amigo,
que não chegou a ser feito; e os pequenos dentes do meu
irmão Francisco, que morreu sorrindo; e escuto, nos soluços do
vento, aquele terrível convulso regougar de Maria que a morte
levou num mar de sangue e vômito; e tremo e me apavoro, não
por receio de não ter enterrado para sempre meus mortos, mas
por medo de tê-los enterrado antes de ter pago tudo o que lhes
devia.
Vocabulário:
Casuarina – espécie de árvores e arbustos
Cipreste – planta usada para arranjos às quais se associa a ideia de tristeza
Carpindo – capinar
Calhau – pedra de pequena dimensão
Grumete – graduação mais inferior da Marinha
Mastaréu – mastro pequeno
Regougar – soltar a voz
Considere o fragmento abaixo para responder a questão seguinte.
“as cigarras calam, se eriçam as águas da lagoa e as
casuarinas, que se balançavam indolentes, imobilizam-se na
rigidez morta e reta dos ciprestes.”(1º§)
Ocorre, nessa passagem destacada, um predomínio de
orações: