O contexto do primeiro fragmento é uma crítica que Vernant ...
Considere os fragmentos abaixo para responder à questão seguinte.
“Bruscamente, na Jônia, o logos ter-se-ia separado do mito, como uma venda que caísse dos olhos. E uma vez revelada a luz desta razão, ela não mais teria deixado de iluminar o progresso do espírito humano.”
(VERNANT, Jean-Pierre. Les origines de la pensée grecque. 10. ed.
Paris: Presses Universitaires de France, 2009. p. 102).
“A análise de Cornford revela estreitas correspondências entre a teogonia de Hesíodo e a filosofia de um Anaximandro. É certo que o primeiro fala ainda de gerações divinas enquanto o outro descreve já processos naturais; mas isso é porque o segundo se recusa a jogar na ambigüidade de termos como phyein [natural] e genesis [originário], que significam simultaneamente conceber e produzir, nascimento e origem.”
(VERNANT, Jean-Pierre. Les origines de la pensée grecque. 10. ed.
Paris: Presses Universitaires de France, 2009. p. 103).
Gabarito comentado
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A alternativa C é a correta. Vamos entender o porquê e analisar as demais opções.
A questão aborda a transição da racionalidade do mito para o logos, ou razão filosófica-científica, na Grécia Antiga. Essa transição é frequentemente chamada de “milagre grego”, uma tese discutida por J. Burnet, mas criticada por Jean-Pierre Vernant.
No primeiro fragmento, Vernant critica a ideia de que a razão filosófica surgiu de forma repentina e desvinculada do pensamento mítico. A questão, portanto, requer um entendimento das nuances entre mito e filosofia e a continuidade histórica entre esses modos de pensar.
Alternativa C: Esta alternativa está correta porque defende que, apesar de haver similaridades linguísticas e temáticas entre mito e filosofia, não podemos evidenciar uma continuidade histórica necessária. Isso reflete a crítica de Vernant à ideia de um surgimento abrupto e independente do pensamento filosófico.
Alternativa A: Está incorreta porque sugere que a filosofia surgiu como uma evolução direta de um mito laicizado, o que contraria a crítica de Vernant sobre a suposta separação brusca e a transição do mito para o logos.
Alternativa B: Também está incorreta, pois apresenta a ideia de que se pode traçar historicamente uma continuidade clara entre mito e filosofia, o que Vernant não endossa, ao criticar a noção de um “milagre grego”.
Alternativa D: Está errada porque afirma que o “milagre grego” refere-se à especulação mítica e à possibilidade de traçar conexões diretas entre mito e filosofia. Isso contradiz a crítica de Vernant, que questiona essa ligação direta.
Assim, o entendimento correto é que, mesmo reconhecendo as semelhanças e influências, não há provas suficientes para uma conexão necessária e direta entre o mito e o surgimento da razão filosófica. Vernant nos convida a ver essa transição de forma mais complexa e não como um “milagre” abrupto.
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