“(...) Ora, não será necessário, para alcançar esse desígni...

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Q1950937 Filosofia
“(...) Ora, não será necessário, para alcançar esse desígnio, provar que todas elas são falsas, o que talvez nunca levasse a cabo; mas, uma vez que a razão já me persuade de que não devo menos cuidadosamente impedir-me de dar crédito às coisas que não são inteiramente certas e indubitáveis, do que às que nos parecem manifestamente ser falsas, o menor motivo de dúvida que eu nelas encontrar bastará para me levar a rejeitar todas. E, para isso, não é necessário que examine cada uma em particular, o que seria um trabalho infinito; mas, visto que a ruína dos alicerces carrega necessariamente consigo todo o resto do edifício, dedicar-me-ei inicialmente aos princípios sobre os quais todas as minhas antigas opiniões estavam apoiadas. Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez."
(Descartes, R. Meditações metafísicas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011).

Sobre este trecho da primeira meditação cartesiana, analise as afirmativas abaixo:

I. O procedimento da dúvida tem como fundamento a experiência. II. Não se trata de uma dúvida vulgar, fundada na experiência, mas de uma decisão racional. III. A dúvida é sistemática e generalizada. IV. Considerar como falso o que é apenas duvidoso se justifica pela experiência, portanto, a dúvida se funda na experiência.

Estão corretas as afirmativas:
Alternativas

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A alternativa correta é a C: II e III apenas.

Vamos entender melhor por que esta é a alternativa correta e analisar cada uma das afirmativas:

II. Não se trata de uma dúvida vulgar, fundada na experiência, mas de uma decisão racional.

Esta afirmativa está correta. Descartes introduz o conceito de dúvida metódica em suas "Meditações Metafísicas" como uma ferramenta para alcançar a certeza. Trata-se de uma dúvida sistemática e deliberada, diferente de uma dúvida comum que surge espontaneamente da experiência. É uma decisão racional de suspender temporariamente o julgamento sobre tudo que não é absolutamente certo.

III. A dúvida é sistemática e generalizada.

Este item também está correto. A dúvida cartesiana é um método que aplica sistematicamente a dúvida a todas as crenças, questionando até mesmo os princípios fundamentais sobre os quais essas crenças se apoiam. Descartes busca uma base de conhecimento que seja indubitável.

Agora, vejamos por que as outras afirmativas são incorretas:

I. O procedimento da dúvida tem como fundamento a experiência.

Esta afirmativa está incorreta. Embora Descartes reconheça que os sentidos podem ser enganosos, sua dúvida metódica não se baseia na experiência, mas sim na razão. Ele quer encontrar uma certeza que não dependa das experiências sensoriais, que são consideradas não confiáveis.

IV. Considerar como falso o que é apenas duvidoso se justifica pela experiência, portanto, a dúvida se funda na experiência.

Essa afirmativa também está incorreta. Descartes não considera algo falso apenas com base em experiências duvidosas. Ele adota uma posição cética como método, não como resultado de experiências passadas, mas como uma estratégia para encontrar uma verdade que seja indubitável. Sua dúvida é metodológica e não experiencial.

Descartes, portanto, usa a dúvida como uma ferramenta metodológica para desconstruir seu conhecimento e reconstruí-lo sobre bases sólidas, que não possam ser abaladas por qualquer forma de engano ou ilusão.

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Descarte era racionalista e não empirista!

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