No trecho do 2º parágrafo – Ao escritor cabe a dieta da lí...
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Sobre escrever bem: uma declaração
contra o império da simplicidade
Que tudo seja expresso com o mínimo de ruído, que o
leitor compreenda de imediato cada mensagem, que as sentenças sejam diretas e limpas, concisas e coerentes – e que
se escolha apenas um desses adjetivos para dizer o que se
deseja. No império da simplicidade, eliminar palavras é o
gesto literário por excelência. E assim vamos formando uma
geração de escritores contrários ao dicionário e à linguagem;
e uma geração de leitores que só desejam histórias fortes
narradas limpidamente.
Ao escritor cabe sobretudo o medo. Deve temer os termos longos e abstratos, cada um passível de se tornar um
peso morto sobre a página, a assombrar os leitores também
assustados. Deve temer as palavras incomuns, as estranhas,
as antigas, maculadas pela poeira dos séculos. Deve temer o olhar dos críticos, encarados como fiscais da clareza, e fugir
de seu juízo definitivo de pretensão excessiva, de vaidade ou
pedantismo. Ao escritor cabe a dieta da língua: ingerir apenas
palavras magras e nutritivas, que não suscitem qualquer risco de resultarem indigestas aos estômagos sensíveis.
Assim recomendou a revista The Economist, num artigo
que se propunha a ditar o que devem ler aqueles que querem
escrever melhor. O que deve ler um bom escritor, segundo os
economistas?
Uma sequência de manuais de estilo que defendem sempre a mesma doutrina, a começar pelo manual clássico do
escritor George Orwell, que parece ter aberto a tradição de
ataque à escrita obscura ou labiríntica, a tradição de defesa
da razão, algo que só se encontraria nas palavras cotidianas reunidas na ordem costumeira. Que a literatura siga as
diretrizes de eficácia que regem o pensamento econômico,
que se faça objetiva e vendável, com custos mínimos: nisso
culminam tantos princípios.
Para dar riqueza a essa visão um tanto empobrecida,
evocam-se sempre alguns grandes nomes da boa literatura
concisa. Entre anglófonos, Ernest Hemingway é incensado
como modelo maior da economia das letras. Entre brasileiros,
Graciliano Ramos se torna a referência máxima, na obsessão
por um estilo seco assemelhado às vidas que ele retrata.
(FUKS, Julián. Em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/
julian-fuks/2023/10/07/sobre-escrever-bem-uma-declaracao-contra-
-o-imperio-da-simplicidade.htm. 07.10.2023. Adaptado)
No trecho do 2º parágrafo – Ao escritor cabe a dieta da
língua: ingerir apenas palavras magras e nutritivas, que
não suscitem qualquer risco de resultarem indigestas aos
estômagos sensíveis. –, os dois-pontos foram empregados para introduzir uma